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Crítica | O Melhor da Neve

Um reality show sobre esculturas com temáticas natalinas na neve.

por Leonardo Campos
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A dinâmica dos programas inseridos na categoria reality show mudou bastante nos últimos anos, mesmo que a atmosfera exibicionista e voyeurista destas produções continuem sendo o ponto de partida mais proeminente na elaboração de suas propostas narrativas. A competição, em especial, é o ponto tópico preponderante neste tipo de material e O Melhor da Neve, lançado em 2022 pelo streaming da Disney não foge ao formato. Aqui, cinco equipes foram divididas nas seguintes cores: azul, laranja, vermelho, verde e roxo. Elas são direcionadas pelo apresentador Titus Burgess, uma figura burlesca e histriônica, no papel de um suposto prefeito. O grande desafio é criar esculturas gélidas em blocos de três metros de altura e largura, superfície que precisa ser transformada num audaciosa representação artística ao longo do prazo de quatro dias. Envoltos numa redoma de cansaço, trabalho duro e a intempestividade do clima, pois estão lidando com neve e gelo, os candidatos apresentam inicialmente os seus projetos e depois, começam o trabalho que é dividido de maneira didática entre apresentações musicais de um coro que resgata clássicos natalinos, além de uma animação que entrecorta os blocos de dias das tarefas realizadas pelas equipes, com uma família a revelar a história que nos é demonstrada no momento “realista” da produção, tudo isso ao longo de 97 minutos.

Aqui, a ideia de magia natalina é levada ao pé da letra, afinal, o Natal é um período considerado ideal para união e confraternização entre pessoas de um mesmo grupo, não é mesmo? Pois bem. Com dois jurados renomados, os participantes são avaliados por três critérios básicos: trabalho em equipe, habilidade e fator surpresa. Técnicas, estratégias, improvisações diante de desafios e outras questões envolvendo uma produção artística planejada estão dispersas ao longo da jornada das equipes que cumprem adequadamente todo o processo, tendo os seus altos e baixos, mas todas eficazes em suas composições. Com referências diversas aos clássicos e contemporâneos da cultura pop, temos aqui O Rei Leão, Moana, Viva: A Vida É Uma Festa, Guardiões da Galáxia, dentre outros nomes da animação, retratados nas esculturas que apresentam o globo natalino que será agraciado com um prêmio em dinheiro, além de um troféu e o prestígio de ganhar uma competição acirrada e registrada para apresentação no streaming.

A união faz a força e a rede de apoio entre os envolvidos é, ao menos na edição que nos chega para entretenimento, bem conectada com a ideia que temos sobre magia natalina. Unidos com o ideal de vencer as etapas e ganhar o prêmio, os participantes dão um verdadeiro show de trabalho em equipe. Sem as brigas e implicâncias que marcam os encontros natalinos que contemplamos nos filmes sobre a temática, aqui não há espaço para isso. Todos possuem os seus propósitos e a ideia do programa é ser direcionado pelo slogan “juntos somos melhores”, repetidamente exaltado ao longo das idas e vindas entre os blocos que dividem O Melhor da Neve. Dirigido por Sam Wrench, este reality também é interessante por contemplar uma família dissociada do tradicional “só branco” que há gerações dominou o mundo do entretenimento. Na família que abre a produção, a parte animada, temos um pai branco e uma mãe negra, demonstrando a preocupação em retratar, com coesão, a dinâmica multicultural de nosso mundo, sem ficar na perspectiva Barbie e correlatos que geralmente aprisiona este tipo de narrativa.

Numa abordagem pedagógica, este reality show também nos permite refletir sobre como trabalhar assertivamente com competências diante de um projeto artístico, permitindo assim, observar na prática, a ação dos participantes na abordagem dos conhecimentos como recursos a serem mobilizados, a utilização de estratégias para resolução de problemas, a adoção de um planejamento flexível que permita improvisações, além de sua prática formativa, haja vista a primeira iniciativa de alguns deles com escultura em meio ao ambiente intempestivo da neve, bem como o desenvolvimento de ações interdisciplinares. Ademais, permite não apenas aos participantes, mas nós, como espectadores, contemplar a expressão e comunicação através da arte, a investigação e compreensão de suas manifestações artísticas, a contextualização da arte tendo como ponto de partida elementos histórico-sócio-culturais, a percepção e valorização de diferentes formas de manifestações culturais e folclóricas e a ampliação dos conceitos estéticos presentes nas manifestações artísticas. Parece um panorama dos itens dispostos nos manuais de ensino de Artes e Linguagens, mas esta associação aqui na crítica não é aleatória. Parte de um avaliador interessado em arte, mas também docente de Linguagens.

O Melhor da Neve (Best In Snow, EUA – 2022)
Direção: Kate Corlis
Roteiro: Kate Corlis
Elenco: Titus Burgess, Kermit the Frog, Matt Vogel, Andre Rush, Sue McGrew
Duração: 97 min

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