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Crítica | O Menino Que Matou os Meus Pais

por Leonardo Campos
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Filmes que dependem entre si para funcionar melhor. Assim é a relação entre este O Menino Que Matou os Meus Pais e o ligeiramente inferior A Menina Que Matou os Pais, projeto intrigante de lançamentos simultâneos, tramas ficcionais sobre um dos crimes mais polêmicos e comentados do Brasil relativamente contemporâneo: o assassinato premeditado dos pais de Suzane von Richthofen, aqui interpretada com muito esmero por Carla Diaz. Sob a direção de Maurício Eça, cineasta guiado pelo roteiro de Ilana Casoy e Raphael Montes, o filme não chega a ser ousado e instigante como o esperado quando se parte de uma história tão misteriosa, mas consegue se estabelecer um pouco melhor que a versão de Daniel Cravinhos, interpretado por Leonardo Bittencourt. Ambos são experiências cinematográficas decepcionantes, mais adequadas para o formato especial de televisão que necessariamente um filme de tom biográfico.

Isso, no entanto, não invalida as produções, apenas delineiam que há desperdício de potencial, em especial, pelo fato de o cinema brasileiro ter evoluído vertiginosamente nos quesitos estéticos e dramáticos na seara dos filmes com temática obscura, como é o caso de O Menino Que Matou Meus Pais, trama sobre os assassinatos ocorridos no dia 31 de outubro de 2002. Para quem não lembra, Suzane von Richthofen supostamente mandou o namorado, Daniel Cravinhos, juntamente com seu irmão, Christian (Allan Souza Lima), matar os pais, Marísia von Richthofen (Vera Zimmerman) e Manfred von Richthofen (Leonardo Medeiros), responsáveis que começaram a desaprovar o namoro dos jovens, intrigados pelo interesse da filha que na opinião deles, deveria se envolver com alguém do seu grupo social. Na versão em questão, Suzane se diz influenciada por um rapaz bonito, inteligente e interessado no bem-estar financeiro de sua família.

É interessante observar como a construção de Daniel Cravinhos é realizada aqui, num paralelo dissonante com o que conhecemos em A Menina Que Matou os Pais. Grosseiro, desinteressado em qualquer nova oportunidade de vida e tóxico, o personagem avassala a vida da garota, atrapalha os seus estudos, a manipula cotidianamente e tem uma família permissiva, com uma mãe que apoia as pequenas mentiras e um pai que aceita as falhas morais de um jovem ainda em formação de caráter. Enfeitiçada pelo relacionamento, Suzane teria se deixado levar pelos pedidos do namorado ciumento e persuasivo e aceitado aniquilar os pais que insistiam ser a sua derrocada estudantil e comportamental, associada ao dia da chegada de Daniel em suas vidas. Sem nenhum remorso, o jovem Daniel é quase transformado num monstro, capaz de arrastar todos, inclusive o jovem Andreas von Richthofen (Kauan Ceglio), para um espiral de decisões que mudaram para sempre a vida de todos os envolvidos neste crime violento e aberrante.

Como dito sobre A Menina Que Matou os Pais, ao longo de pouco mais dos 80 minutos, o filme cumpre devidamente os requisitos dramáticos e estéticos de uma história criminal básica sobre o planejamento de assassinato, adotando um tom morno e simplório, quando tinha potencial para uma trama mais instigante e além de um drama sobre adolescentes em busca de embates para conseguir a consumação do relacionamento. Tal como mencionado na crítica anterior e no começo da reflexão em questão, é como se os envolvidos não compreendessem o potencial cinematográfico da versão ficcional da história e dessem preferência a ficar apenas com um produto televisivo dentro de formatos convencionais, tais como Profissão Repórter, Globo Repórter ou Linha Direta. Em linhas gerais, os seus atributos estéticos dão conta do recado, em especial, alguns momentos inspirados da direção de fotografia de Jacob Solitrenick, sem mais.

Amplamente sufocado pelos próprios convencionalismos narrativos, O Menino Que Matou Meus Pais aborda o quão a família de Richthofen era tóxica e tensa, mas não a ponto de criar subsídios para o planejamento de uma morte tão violenta e premeditada com requintes de crueldade. Mortos por marretadas, os pais de Suzane encontraram um fim trágico, causado por disfunções ocasionadas depois da chegada do elemento catalisador da mudança da garota, Daniel Cravinhos, uma figura que na versão contada pelo rapaz, é bem diferente do que a moça contou nos tribunais. Por falar em espaço de julgamento, as cenas do tribunal são fraquíssimas, em ambas as produções, locais de tensão que são subaproveitados pela produção que foca nos flashbacks necessários, mas se perde por lá e acabam contando mais uma história adolescente de paixão e pressões que a cinebiografia de um dos crimes mais hediondos ocorridos em nosso território nos últimos anos. Em suma material médio, bom, mas que poderia ser melhor.

O Menina Que Matou os Meus Pais (Brasil, 24 de setembro de 2021)
Direção: Maurício Eça
Roteiro: Ilana Casoy,  Raphael Montes
Elenco: Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Leonardo Medeiros, Kauan Ceglio, Vera Zimmerman, Allan Souza Lima, Kauan Ceglio
Duração: 87 min.

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