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Crítica | O Método Kominsky – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Chuck Lorre, o incansável Midas da sitcom de TV aberta, responsável pelo mega-sucesso The Big Bang Theory dentre muitas outras séries, havia ingressado em território diferente com Disjointed, exclusiva do Netflix e que foi cancelada ao final da 1ª temporada. Com O Método Kominsky, o produtor e showrunner não só insiste no mesmo território do streaming como traz sua série mais… digamos… diferente. Pelo menos diferente do que estamos acostumados a ver dele, claro.

Inevitavelmente lembrando-nos do conceito de Grace and Frankie, também do Netflix, O Método Kominsky lida com a vida de personagens na terceira idade, com muitas das abordagens girando em torno da perspectiva da morte. Michael Douglas vive Sandy Kominsky ator que chegou a ver sucesso no começo de carreira, mas que, hoje, é um professor de dramaturgia respeitado, mas quebrado financeira e amorosamente, tendo passado por três casamentos falidos. Alan Arkin, por sua vez, vive o bem-sucedido agente de talentos Norman Newlander, melhor amigo de Sandy (no estilo Dois Velhos Rabugentos de ser, claro) e casado com a mesma mulher há 46 anos. O estopim narrativo é justamente o falecimento de Eileen (Susan Sullivan), esposa de Norman há tempos muito doente, que faz com que ele perca seu norte e força com que Sandy aproxime-se ainda mais do amigo.

A premissa literalmente fúnebre é o que traz a “diferença” que salientei, pois foge um pouco da “praia” usual de Lorre, especialmente considerando que nem sei ao certo se seria correto classificar O Método Kominsky simplesmente como uma sitcom. Claro, há uma esperada veia cômica por trás principalmente da interação entre Sandy e Norman, com os dois atores estabelecendo química instantânea e mastigando os cenários onde aparecem, com Arkin compondo um personagem complexo em sua forma de lidar com a dor da perda e Douglas vivendo ele mesmo, mas no bom sentido da expressão. O ponto é que, bem mais do que Grace and Frankie, que se beneficia de um elenco maior e de tramas paralelas de diferentes naturezas, a nova série de Lorre gravita mais detidamente em torno da morte iminente, com o falecimento de Eileen sendo esmiuçado em detalhes ao longo dos breve oito episódios, até mesmo com um surreal velório que chega a dar vergonha alheia de tão bizarro.

Ao focar primordialmente em Sandy e Norman, há uma pessoalidade muito grande, com tudo emanando deles. Vemos a relação distante, mas não tanto de Sandy com sua filha Mindy (Sarah Baker), que gerencia sua escola de dramaturgia, assim como vemos a dolorosa relação de Norman com sua filha Phoebe (Lisa Edelstein) viciada em medicamentos e constantemente entrando e saindo de clínicas de reabilitação. Também passeamos pela vida amorosa de Sandy que tenta conectar-se com sua aluna Lisa (Nancy Travis) e sua investigação sobre o que pode ser um problema na próstata, o que o coloca perante o amalucado Dr. Wexler (Danny DeVito em uma divertida ponta) e diante de seu próprio tangenciamento com a morte.

Portanto, a “sitcom” ganha um peso maior do que estamos acostumados a ver por aí o que acaba até mesmo tornando as piadas mais acridoces do que propriamente engraçadas. A leveza se esvai e entra uma pegada que, diria, chega a ser pessimista, finalista mesmo, que incomoda, mas que, por outro lado, soa real. Talvez incomode por parecer tão real. E é isso que, além da interação sem preço entre Douglas e Arkin, que separa O Método Kominsky de seus pares.

O problema é que os roteiros se fiam demais em piadas repetitivas que, se já não são engraçadas de início pela questão que levantei acima, cansam muito quando ganham sua terceira, quarta ou quinta versões. O maior exemplo disso é o quanto os textos se preocupam com Sandy lidando com sua incapacidade de urinar. Sem dúvida é divertido vê-lo desesperado correr para a cerca viva ao redor da casa de sua namorada para ele se aliviar, mas a coisa começa a cansar quando, em um banheiro masculino, ele lida não uma, mas duas vezes com jovens com um fluxo potente no mictório. Dá para esboçar um sorriso, mas ele não convencerá ninguém.

Como se isso não bastasse, apesar de a temporada contar uma história em tese una, costurada principalmente ao redor da morte de Eileen, diversas pequenas subtramas ou ganham resoluções abruptas ou simplesmente são esquecidas. Esse é o caso do tratamento de desintoxicação de Phoebe e até mesmo do relacionamento de Sandy com Lisa. As abordagens fora do eixo realmente central da série são rasos e erráticos, algo que jamais poderia acontecer em uma temporada tão curta.

Mesmo com seus problemas, O Método Kominsky encanta pela harmonia entre Douglas e Arkin, com o segundo realmente destacando-se como um homem que efetivamente desmorona sem sua cara-metade. É fácil criar uma conexão com a dupla e deliciar-se com as atuações, ainda que a série de Chuck Lorre surpreendentemente nos force a encarar de frente aquele inafastável fim que a todos aguarda, mas que sempre procuramos afastar de nossos pensamentos.

O Método Kominsky (The Kominsky Method, EUA – 16 de novembro de 2018)
Criação: Chuck Lorre
Direção: Chuck Lorre, Andy Tennant, Donald Petrie, Beth McCarthy-Miller
Roteiro: Chuck Lorre, Al Higgins, David Javerbaum
Elenco: Michael Douglas, Alan Arkin, Sarah Baker, Nancy Travis, Graham Rogers, Ashleigh LaThrop, Melissa Tang,  Jenna Lyng Adams, Casey Brown, Emily Osment, Susan Sullivan, Lisa Edelstein, Ramon Hilario, Cedric Begley, Danny DeVito, Anoush NeVart, Ann-Margret
Duração: 22 a 33 min. (oito episódios no total)

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