Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | O Mistério Das Garotas Perdidas

Crítica | O Mistério Das Garotas Perdidas

por Fernando Annunziata
8,3K views

Tudo ficará de cabeça para baixo. Até que a terra se torne o céu. E o céu se torne a terra”

Me parece que O Mistério Das Garotas Perdidas são dois filmes em um. Explorando dois arcos totalmente diferentes, que só chegarão a se entrelaçar no final da obra, a produção da Netflix fica dividida em polos opostos: enquanto um arco é cativante e bem produzido, o outro é recheado de cenas que contamos os minutos para que acabe logo.

A película acompanha o pastor Park (Lee Jung-Jae), um homem que trabalha expondo grupos religiosos com atitudes suspeitas. Contratado para investigar o grupo de culto Deer Mount, o pastor se encontra diante do capitão de polícia Hwang (Jung Jin-Young), que investiga um caso de assassinato envolvendo o grupo Deer Mount. Juntos, os dois descobrem que o caso vai além de forças humanas.

A primeira sequência do filme não reflete em nada o que acontecerá logo adiante. Inicialmente, nos é apresentada uma atmosfera pesada, com cenas cruas e que não tem medo de mostrar a brutalidade envolvendo demônios. Por exemplo, a sequência se sustenta em uma pré-adolescente contando que nasceu com o demônio grudado em si e, enquanto isso, são retratado bodes, serpentes, pentagramas, entre outros símbolos. A película também não deixa de mostrar um recém-nascido com a pele caída após sua irmã gêmea “se alimentar da carne da irmã”. Entretanto, essa atmosfera que nos relembra A Bruxa (2015), logo é perdida. O filme passa a focar na vida do pastor Park e, inclusive, altera a fotografia utilizada para uma mais leve e suave. Esse novo enfoque tenta introduzir uma comédia que não funciona, com péssimas trilhas sonoras e roteiros confusos.

Seria mais interessante que a obra ficasse na história das irmãs e utilizasse as figuras investigativas, como o pastor e o capitão de polícia, como coadjuvantes. Isso porque as cenas envolvendo as irmãs são dignas de um clássico terror psicológico e, portanto, tornariam o filme um grande destaque de 2019. Realço, aqui, que se a película fosse apenas do arco das gêmeas, tinha potencial de ser o melhor filme de terror da Netflix. Além disso, o filme não segue uma linearidade. Analisando o primeiro e o terceiro atos, nos dá a entender que são projetos completamente diferentes. Não só na história, mas também na trilha sonora e nos diálogos. Enquanto o primeiro e o segundo atos focaram na crueza (nas cenas com as irmãs) e na leveza (na cena com o pastor), o terceiro demonstrou interesse em misturar esses dois conceitos. No entanto, a fusão entre crueza e leveza construiu uma narrativa paralela, ou seja, que não conversa com o resto da obra.

O roteiro também não favoreceu as cenas envolvendo Park. Os roteiristas tiveram vontade de mostrar que pesquisaram sobre o assunto e colocaram todas as informações que obtiveram nos diálogos envolvendo o pastor. Dessa forma, o personagem joga diversas informações que, muitas vezes, não fazem sentido ao que ele estava falando antes. E, com tantas informações para digerir, as cenas ficaram confusas. Inclusive, as sequências com o pastor se tornam mais entediantes ainda porque não conseguimos entender com clareza o que está acontecendo. No entanto, esse arco do pastor só não acabou com o filme porque as irmãs o salvaram. No primeiro e segundo atos, as cenas em que as gêmeas aparecem são tão interessantes que apenas continuamos a assistir por ter a expectativa de que elas voltarão a aparecer. Já no terceiro ato, quando as histórias se ligam, a narrativa criada é cativante, mesmo que não converse com o restante da obra.

O Mistério Das Garotas Perdidas é um filme metade bom. Enquanto um arco é um dos melhores já vistos, com uma fotografia única e um terror bem produzido, difícil de encontrar em obras do gênero, o outro torna a obra desgastante e chata. Para quem almeja um horror com uma estética perfeita, esta produção da Netflix é apenas parcialmente recomendada.

O Mistério Das Garotas Perdidas (Svaha: The Sixth Finger) – Coreia do Sul, 2019
Direção: Jae-hyun Jang
Roteiro: Kang Full, Jae-hyun Jang
Elenco: Ji-Tae Yoo, Jung-jae Lee, Min Tanaka, Jung-min Park, Seung-Hyeon Ji, Seon-kyu Jin, Seung-chul Baek, Sang-woo Lee, Jung-min Hwang, Jae-in Lee, Rae-Hyung Cha, Ok Joo-Ri, David Lee, Suk Mun
Duração: 122 minutos.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais