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Crítica | O Morcego Verde: Origem e Primeiras Aventuras

A faceta super heroica do Zé Carioca!

por Luiz Santiago
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Criado pelos artistas brasileiros Ivan Saidenberg e Renato Vinicius Canini, o Morcego Verde surgiu tendo como inspiração direta o Morcego Vermelho, de quem o Zé Carioca é um grande fã. Em muitas de suas aventuras, o Morcego Verde usa constantemente de sua lábia e malandragem na luta contra o crime em Vila Xurupita, além de, sempre que pode, fugir de brigas mais intensas ou ser colocado para fora dessas brigas. Mesmo assim, por algum acaso, ele termina capturando o bandido da vez. Suas tentativas de ajudar o Delegado Porcôni, chefe da polícia da Vila, são um constante motivo de piada nas aventuras, porque sempre acabam mal. Você já leu essas histórias? Conhece o Morcego Vermelho? O que acha do personagem? Confira as críticas abaixo e deixe sua opinião nos comentários ao final da página!

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O Morcego Verde

Eu não conheci o Morcego Verde por esta sua história de origem, ou seja, quando cheguei a ela, eu já tinha um bom conhecimento das trapalhadas e aventuras dessa versão icônica do Zé Carioca, além de ter lido muita coisa do personagem que ele adora, o Morcego Vermelho, de quem coleciona centenas de revistinhas. Com essa bagagem prévia, a adorável intenção metalinguística que o roteirista Ivan Saidenberg utiliza para criar mais este morcego heroico brasileiro acabou alcançando o verdadeiro peso que deveria ter. Concebido dois anos após o surgimento do alter ego do Peninha, o Morcego Verde tem toda a inocência e o impulso para ir atrás de um problema, mas sempre acaba metendo os pés pelas mãos, utilizando métodos nada convencionais, apanhando muito no processo e conseguindo, ao final, uma vitória através do mais puro acaso, sorte ou coincidências que só encontramos mesmo nesse tipo de Universo.

Não é nada espantoso que o Zé crie o uniforme de seu herói pessoal com uma fantasia de Carnaval, da mesma forma que é muito interessante o fato de todo mundo saber quem é que está por trás da máscara do justiceiro de Xurupita (isso é divulgado num jornal, ao quadro final da aventura), mas o Zé realmente se espantar com o fato de “ter sido descoberto“. Toda essa primeira aventura é calcada na brincadeira da identidade do protagonista, de uma construção inicial sobre o Morcego Verde (aqui ele ainda está muito ligado ao Morcego Vermelho, inclusive em ações e modus operandi, mas com o tempo encontraria um caminho pessoal bem legal) e de uma constante conversa com o leitor. Seja através do cachorrinho Soneca, seja através das piscadelas vindas com o vilão da história, Joca B. B., ou pela citação à própria mídia dos quadrinhos, tudo aqui acaba sendo um exercício divertido sobre quebrar a quarta parede e a monotonia, inspirando-se num personagem querido para combater o crime. O primeiro passo de mais uma faceta irresistível do Zé Carioca.

O Morcego Verde — Brasil, 7 de março de 1975
Código da História: B 74362
Publicação original: Zé Carioca 1217
Editora original: Abril
Outras publicações: Zé Carioca 60 Anos 1 (2003), Disney Big 5 (2010), Zé Carioca 70 Anos 2 (2012), Disney de Luxo 9 – Um Brasileiro Chamado Zé Carioca (2015).
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Renato Vinicius Canini
Capa original: ?
8 páginas

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A Volta do Morcego Verde

Lançada oito meses depois da estreia do Morcego Verde, essa segunda história traz o retorno do personagem em uma nota que segue as homenagens ao Morcego Vermelho e, mais uma vez, coloca o papagaio fazendo seu serviço de super-herói da maneira mais errada e desajeitada possível. A primeira página da história traz o Zé quebrando um armário por abarrotá-lo com as revistas em quadrinhos do Morcego Vermelho, o que lhe dá imediata inspiração para sair pelas ruas combatendo o crime. O roteiro de Ivan Saidenberg mantém as coisas extremamente simples aqui, com um humor rápido, constantemente físico e apostando nos absurdos. Nesta aventura, a patrulha que o Zé inicialmente faz pela cidade torna-o um “aliado” dos bandidos, porque acaba facilitando a fuga de três deles, sem, obviamente, querer isso. É uma abordagem de confusão de papéis que sempre fez parte das aventuras do Zé Carioca, e que agora vemos incorporada à sua faceta de super-herói.

A questão é que essa insistência nos erros enjoa rápido, e mesmo que a história tenha uma boa reviravolta em sua metade final, com o Zé indo atrás dos bandidos e, convenientemente, encontrando todos no mesmo lugar, não me parece algo assim tão grandiosamente interessante. A gente dá umas boas risadas com o tom cômico da primeira confusão que ele faz, aproveitamos o momento final da narrativa e até mesmo a questão da figura pública do Morcego Verde (no começo, os policiais parecem não saber quem ele é, mas no final, todo mundo parece se lembrar que é o Zé Carioca) o que deixa a trama acima da média, mas sem voar muito alto em termos de criatividade ou ações do personagem, como no caso das primeiras histórias de seu tão amado herói atrapalhado de Patópolis.

A Volta do Morcego Verde — Brasil, 14 de novembro de 1975
Código da História: B 75041
Publicação original: Zé Carioca 1253
Editora original: Abril
Outras publicações: Mestres Disney 5, Almanaque do Zé Carioca (2ª Série) 14, Disney de Luxo 9 – Um Brasileiro Chamado Zé Carioca.
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Renato Vinicius Canini
Capa original: ?
7 páginas

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Morcego Verde Ataca Novamente

Nessa historinha de 1976, a única do personagem publicada neste ano e a última aventura dele publicada nos anos 70, vemos o Zé Carioca se dar conta de que o “negócio de super-heróis” não está com nada, simplesmente não dá lucro! Ele muda a barraquinha de informações turísticas onde trabalhava para um lugar onde apresenta os seus préstimos como Morcego Verde, mas é claro que ninguém dá a mínima: os clientes não aparecem. Porém, como o Zé insiste em perseguir esse sonho (aqui não o vemos ler nenhum gibi do Morcego Vermelho, mas Nestor diz que ele leu, por isso voltou à ânsia de agir como um herói), ele acaba caindo em mais uma confusão ao tentar ajudar alguém que acreditava estar em perigo ou precisando de ajuda. Nessa aventura, o roteirista Ivan Saidenberg não insistiu em um ciclo de problemas repetitivos, como na trama anterior; apenas manteve a base de “ajuda que atrapalha“, vinda da parte do Zé. Por ser o elemento cômico das histórias do Morceguinho, funciona que é uma beleza.

E novamente a questão da identidade entra em jogo, ao final da trama. O roteiro está claramente mostrando para o público que sabe das variações para a identidade do personagem, tanto que a questão fica propositalmente confusa no enredo. Em um momento a gente entende que todos sabem que é o Zé Carioca por trás da máscara do Morcego Verde; só que mais adiante há uma sombra de dúvida. Como é um Universo cheio de possibilidades improváveis e cânone frágil, é evidente que isso será explorado ao longo de toda a saga do MV. Enquanto a questão seguir explorada como uma grande brincadeira, não vejo problema nenhum. O mesmo acontece com outros heróis da Disney, embora não tão descaradamente. É uma linha divertida de trazer isso à tona e, com o Zé, acaba funcionando bem.

Morcego Verde Ataca Novamente — Brasil, 23 de julho de 1976
Código da História: B 760018
Publicação original: Zé Carioca 1289
Editora original: Abril
Outras publicações: Zé Carioca 2324, Mega Disney 8. 
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Renato Vinicius Canini
Capa original: ?
7 páginas

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Nem Vendo Se Acredita

Zé Carioca pagando algumas dívidas que tem com a ANACOZECA? Realmente, isto é algo que nem vendo a gente acredita! Nesta primeira aventura do Morcego Verde publicada na década de 1980 (cinco anos depois da última aparição dele, em Morcego Verde Ataca Novamente), temos a estreia das molas nos pés do personagem — antes ele também pulava, mas sem mola nenhuma — e a ocorrência de algo raro, que é o Zé acertando alguma coisa da colossal dívida que tem com os credores da Associação Nacional dos Cobradores do Zé Carioca, pagamento efetuado com o dinheiro que o herói recebeu como recompensa por “ajudar” a polícia a capturar um bandido da pesada. É uma trama que representa o personagem mais risonho e um pouco mais sapeca que antes (o desenhista Renato Vinicius Canini dá muito mais movimento para o herói nessas páginas), em uma perseguição que começa de um jeito meio atropelado e termina em um lugar completamente diferente do esperado.

A confusão de identidade, desta vez, está aliada à ANACOZECA, com os próprios credores confusos em relação ao Morcego Verde. Eles deveriam cobrar a dívida de um herói? Ou deveriam esperar o Zé Carioca aparecer sem seu uniforme? Gostei dessa relação que Saidenberg faz aqui, deixando muito mais orgânica a piscadela metalinguística da trama e fazendo com que esses perseguidores tenham um real sentido no corpo da história, não servindo apenas de interrupção dramática, mas sim de motivadores de parte da trama. Dos problemas “resolvidos” pelo Morcego Verde até aqui (esta é a sua quarta aventura, em ordem cronológica de publicação), este certamente foi o que mais teve efeitos positivos, tanto para o herói quanto para o civil por baixo do manto!

Nem Vendo se Acredita — Brasil, 4 de setembro de 1981
Código da História: B 810064
Publicação original: Zé Carioca 1289
Editora original: Abril
Outras publicações: Zé Carioca 2324, Mega Disney 8. 
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Renato Vinicius Canini
Capa original: ?
7 páginas

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Roupa Suja Se Lava em Casa

É como diz o ditado: “tamanho não é documento“. Com apenas três páginas, essa trama de 1982 mostra o Morcego Verde prendendo o último integrante da Quadrilha do Pé Branco e tendo a sua primeira demonstração de responsabilidade heroica e conflitos morais! E a história já começa com algo bem diferente do que já tínhamos visto do modus operandi do MV: ele parte para o ataque a um bandido e, mesmo se sujando todinho, consegue capturá-lo. Não há perseguições atrapalhadas e nem desculpas no meio do caminho, desviando a atenção do personagem e do leitor. A indicação do texto é que o Zé estava investigando a quadrilha, pegou os outros bandidos e conseguiu pegar esse último também. É interessante ver o personagem vencendo de maneira “mais formal”, para variar um pouco, em uma história ainda na reta inicial de sua linha do tempo.

É uma apresentação simples, mas muito eficiente, mostrando que o Morceguinho está pegando o jeito em sua ação contra os foras da lei. O roteirista (que não consegui identificar quem é, infelizmente) coloca a dose de humor no final da história, e até lá, deixa o Zé Carioca refletindo sobre uma série de situações, tendo como ponto de partida a sua roupa suja da luta de abertura. Ele pensa no Nestor e no Pedrão como possíveis nomes para dar na lavanderia (porque “ninguém pode saber que ele é o Morcego Verde“), mas recusa esse pensamento porque não quer colocar os amigos em risco. É a primeira vez que temos uma abordagem mais séria para o Morcego Verde, também com direito a um final cômico, numa virada que a gente imaginaria em uma história do Zé Carioca. Particularmente não esperava nada dessa aventura, por ser muito curta, mas acabei quebrando a cara. Do quinteto inicial de tramas do personagem, essa é definitivamente a melhor, para mim.

Roupa Suja se Lava em Casa — Brasil, 25 de junho de 1982
Código da História: B 810162
Publicação original: Zé Carioca 1599
Editora original: Abril
Outras publicações: Zé Carioca 1844 , Zé Carioca 2245, Almanaque dos Super-Heróis Disney (2ª Série) 2.
Roteiro: ?
Arte: Moacir Rodrigues Soares
Capa original: ?
3 páginas

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