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Crítica | O Morro dos Ventos Ululantes e A Incrível Aventura do Mickey

Em territórios hostis.

por Luiz Santiago
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Neste compilado, trago para vocês as críticas de algumas histórias da edição número 2 de O Grande Almanaque Disney, lançado no Brasil pela editora Culturama em dezembro de 2019 (bem, há uma exceção aqui, uma história brasileira que vocês verão especificada no próprio texto). Esta edição veio com duas histórias temáticas, uma comemorando os 50 anos da chegada do homem à Lua, e outra comemorando os 50 anos da criação do Superpato (ambas já foram criticadas aqui no site, em postagens separadas. Você pode ler Tudo Começou Assim…, a aventura do Superpato, e também O Castelo na Lua, que mostra Mickey e Pateta em uma difícil investigação em nosso satélite natural). Considerando apenas as tramas do presente compilado, qual é a sua aventura favorita? E qual foi a história que você menos gostou? Leia as críticas abaixo e deixe o seu comentário ao final da postagem!

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A Incrível Aventura do Mickey

 Mickey está voltando de uma temporada no campo, na casa da tia Topolinda, trazendo uma preciosidade na mala: uma torta de ruibarbo feita por Topolinda. Ela jura que todo mundo ama essa iguaria, mas isso não é necessariamente verdade. Escrita em 1985, por Angelo Palmas, em comemoração aos 30 anos de inauguração do parque da Dinsey, A Incrível Aventura do Mickey consegue atingir parte de seu maior intento, que é chamar a atenção do leitor para essa importante efeméride. E nada mais dinâmico do que criar uma aventura metalinguística, onde o famoso rato acaba caindo, por acaso, em nossa realidade, justamente num momento de festa, não é mesmo? O princípio para essa mudança de realidade também é interessante: se dá em uma viagem de trem e sem ideias mirabolantes ou confusas. Mas essa abordagem mais calma termina exatamente no momento em que o personagem desce do vagão e anda pelas ruas do parque.

Encontrando-se com personagens icônicos da empresa, como Branca de Neve, Bela Adormecida e a Bruxa Má, o famoso orelhudo se preocupa com as coisas estranhas que estão acontecendo à sua volta e em como irá voltar para casa. Considerando o que temos no roteiro, se esta fosse uma simples história metalinguística, de troca de realidade, a trama seria muito melhor. O problema é que o autor usa dos melhores momentos possíveis para mostrar uma propaganda do parque, coisa que mata bastante a qualidade geral da trama. Sem contar que o conflito do roubo do salário dos funcionários pelo Bafo não me parece casar bem com o contexto. É uma trama da qual a gente consegue aproveitar algumas coisas (muitas delas, vindas da arte de Giorgio Cavazzano), mas que fica presa à propaganda que se propõe, talvez por isso, não aproveitando como deveria essa pequena estadia do Mickey em nosso mundo.

A Incrível Aventura do Mickey (L’incredibile avventura di Topolino) — Itália, 25 de agosto de 1985
Código da História: I TL 1552-A
Publicação original: Topolino (libretto) 1552
Editora originai: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: O Grande Almanaque Disney (Culturama) 2
Roteiro: Angelo Palmas
Arte: Giorgio Cavazzano
Capa original: Marco Rota?
40 páginas

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O Morro dos Ventos Ululantes (1972)

Há males que vêm para o bem“, já dizia o ditado popular, não é mesmo? Pois essa história brasileira, lançada em 1972, faz jus à tal afirmação. Para começar, ao contrário do que o título nos indica, ela não tem nenhum tipo de ligação dramática ou narrativa com o livro O Morro dos Ventos Uivantes. O título faz apenas uma brincadeira com o clássico literário, reforçando a motivação do roteiro de Ivan Saidenberg, que começa mostrando Patinhas, Donald e os sobrinhos fugindo de um tufão. O ricaço estava na região para participar de um leilão de minas de cobre, e acaba tendo que se abrigar do repentino fenômeno em uma casa feiosa e caindo aos pedaços. Todavia, não é apenas a condição atmosférica que parece amedrontadora. Na casa isolada, algumas situações deixam o grupo com medo. Eles pensam estar numa armadilha ou nas mãos de fantasmas e outras criaturas que habitam uma casa assombrada.

O desenvolvimento dessa visita inesperada, o medo de Donald, a coragem irresponsável dos meninos e a mente de Patinhas indo para todos os lados, nos fazem rir constantemente dos personagens. Mas a melhor parte do enredo é justamente quando as coisas começam a se resolver — deixando o desenvolvimento numa sucessão de “ações e reações“. A aparição do primo caloteiro de Patinhas e a revelação de que tudo o que acontecera até ali era obra dele, a fim de afastar o parente da compra das minas, dá ao texto uma atrativa camada extra, terminando com Tio Patinhas, mais uma vez, conseguindo ganhar dinheiro a partir de algo improvável. Um verdadeiro homem de negócios, mesmo nas situações mais assombradas.

O Morro dos Ventos Ululantes — Brasil, 11 de agosto de 1972 (história criada em janeiro do mesmo ano)
Código da História: B 72019
Publicação original: Topolino (libretto) 1552
Editora originai: Abril
No Brasil: Zé Carioca 1083
Roteiro: Ivan Saidenberg
Arte: Carlos Edgard Herrero
Capa original: ?
10 páginas

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O Morro dos Ventos Ululantes (2009)

Diferente da história brasileira de 1972, que usa o título do romance de Emily Brontë apenas como uma referência cômica e geográfica, esta trama dinamarquesa de 2009, escrita por Paul Halas (que teve a história Duelo Descabelado publicada no Almanaque Disney anterior), usa parte do romance como base narrativa para seu roteiro. O Pato Donald recebe uma ligação da Sra. Magnólia, tia da Margarida, que caiu do cavalo e parece ter perdido a memória ou estar em constante estado de alucinação. O drama é intercalado por um breve flashback e pela presença de um personagem odiável, que para piorar, tem um incompreensível acesso à casa da Sra. Magnólia e aparentemente quer conquistar Margarida.

À parte a existência de Watson Holmes, o mais chato de todo o elenco da aventura, o que temos aqui é uma historinha de época, com amores frustrados, mortes por amor, casamentos por interesse, reviravoltas com base em sorte improvável, reencarnação de espíritos e doses de romantismo macabro que só mesmo um quadrinho da Disney conseguiria elencar de maneira divertida. À parte isso, eu não gostei da forma como o autor (e também o desenhista Massimo Fecchi) representaram os chineses aqui. Mesmo com a ambientação que imita vilas isoladas do século XIX, não é o tipo de representação que faça algum sentido em nossos dias. O curioso é que essa presença dos chineses é puramente vazia, não servindo para nada formalmente dramático no enredo. Eu esperava que pelo menos eles tivessem alguma participação na briga pelo tesouro, na reta final, mas nem isso acontece de fato. E o convite que fazem para Donald também não faz muito sentido. A sorte é que a história, no geral, não depende deles para ir adiante, e no geral, é interessante. Caso contrário, seria apenas uma estereotipação barata para conseguir arrancar algum tipo de riso do leitor.

O Morro dos Ventos Ululantes (Bævrende højder/Dithering Heights) — Dinamarca, 6 de novembro de 2009
Código da História: D 2005-261
Publicação original: Jumbobog 355 – Robotrøvere
Editora originai: Egmont Serieforlaget A/S
No Brasil: O Grande Almanaque Disney (Culturama) 2
Roteiro: Paul Halas
Arte: Massimo Fecchi
Arte-final: Fecchi Studio
Capa original: Andrea Freccero
35 páginas

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