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Crítica | O Orfanato

por Leonardo Campos
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Não há lugar melhor que o lar. É o que afirma Dorothy no clássico O Mágico de Oz. Para os personagens de O Orfanato, não parece haver tanta certeza, afinal, tal como reza a cartilha dos filmes de locais mal-assombrados, cada metro quadrado de habitação destes seres pode ser um elemento motivador de medo e horror. Ciente do seu poder como realizador, conquistado graças as seis indicações ao Oscar pelo cult O Labirinto do Fauno, Guillermo Del Toro decidiu bifurcar-se pelos “bosques” da produção cinematográfica, o que culminou no interessante suspense dramático em questão.

Para os acostumados aos filmes fantasmagóricos do período, o aviso: não espere reviravoltas surpreendentes. Apesar de semelhante ao ótimo Os Outros, o suspense produzido por Del Toro é um filme cheio de estilo, mas embasado pelos clichês comuns aos clássicos de mistério e fantasia: um esposo cético, crianças a desenvolver imagens macabras em desenhos, além de entrar em contato com figuras fantasmagóricas. O que o torna diferencial ou digno de contemplação é a forma como a história é contada.

Dirigido por J. A. Bayona, iniciante em 2007 (época do lançamento do filme), O Orfanato traz o seguinte mote: Laura (Belén Rueda) é uma mulher que decide retornar ao lar onde passou a sua infância, o orfanato do título, tendo em vista reformar o espaço, para futuramente, recepcionar crianças com deficiência. O problema é que ao chegar à misteriosa casa, Laura começa a enfrentar situações insólitas que, logo depois, tornam-se macabras e assustadoras.

O catalisador dos conflitos é Simon (Roger Príncep), o filho adotivo de Laura, criança portadora do vírus HIV e que precisa de cuidados e medicamentos diariamente. O que fazer, no entanto, quando esta criança desaparece? Nos primeiros momentos o pequeno Simon apresenta um comportamento estranho, envolvido em jogos com os seus amigos imaginários. Laura não dá a devida atenção, até que a criança some e ao investigar, descobre segredos que colocam a sua fé, a sua existência enquanto ser humano e o seu futuro em xeque.

Para resolver os seus conflitos, Laura precisa contar com perspicácia na pesquisa e muito traquejo, principalmente nas informações de Benigna (Montserrat Carulla), personagem envolta numa redoma de mistério e aparentemente dona de muitas informações importantes para o desatamento dos nós da narrativa. Qualquer paralelo com Peter Pan, clássico da literatura infanto-juvenil, é mera coincidência ou pura interpretação comparada do espectador.

Atmosférico desde os créditos iniciais, o filme capta o espectador logo em seus primeiros instantes, mesmo com um problema textual “aqui” e uma inconsistência narrativa “ali”. O roteiro de Sergio G. Sanchéz apresenta alguns defeitos que não chegam a atrapalhar o resultado final, mas no que tange aos aspectos técnicos, O Orfanato é bem sucedido. A montagem de Elena Ruiz e a condução musical do uruguaio Fernando Veslázquez, elementos bem justapostos com o roteiro e a direção, funcionam todos em prol da climatização da atmosfera.

Ao longo de seus 105 minutos, o filme é um interessante produto cinematográfico, repleto de trechos emoldurados por primazia técnica. Destaque para um plano sequência, alocado em determinado momento de tensão que, diferente do que se convencionou a fazer em filmes de terror, com cenas entrecortadas e com estilo videoclipe, contempla a cenografia e criam um clima ideal para o gênero terror, muito mais que sustos fáceis e ferrões musicais preguiçosos.

O Orfanato (El Orfanato) — Espanha, 2007
Direção: J.A. Bayona
Roteiro: Sergio G. Sánchez
Elenco: Belén Rueda, Fernando Cayo, Roger Príncep, Mabel Rivera, Montserrat Carulla, Andrés Gertrúdix, Edgar Vivar, Óscar Casas, Mireia Renau, Geraldine Chaplin
Duração: 105 min

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