Na refilmagem de O Padrasto, dirigido por Nelson McCormick, somos apresentados à história de Michael Harding, interpretado por Penn Badgley, jovem que volta para casa após um período em uma escola militar. Sua chegada é marcada por um clima de renovação familiar, impulsionado pelo relacionamento aparentemente perfeito de sua mãe, Susan (Sela Ward), com David Harris (Dylan Walsh). David é apresentado como um homem ideal: ele é carinhoso, atencioso e um prazeroso padrasto em potencial. Contudo, sob essa superfície encantadora, Michael começa a perceber que as coisas podem não ser o que parecem. A dúvida do protagonista instiga a narrativa, levando-o a investigar a verdadeira identidade de David, que se revela ser o fugitivo Grady Edwards, um dos homens mais procurados pela polícia. Tal premissa promete uma construção intensa de suspense, mas a produção, apesar de várias qualidades, acaba esbarrando em um desenvolvimento que deixa a desejar. O tema do terror familiar é estabelecido e permite muitas reflexões, no entanto, o ritmo morno e o painel de situações inverossímeis acabam por prejudicar o resultado de uma produção que se contenta com a irregularidade.
A dinâmica entre Michael, sua namorada Kelly (Amber Heard), os amigos de sua mãe e seu pai Jay (Jon Tenney) fornece um contexto propício para que o mistério se desenvolva gradualmente. O grupo envolve-se desesperadamente na busca pela verdade, criando um ambiente de tensão. Porém, a maneira como os personagens se comportam e interagem frequentemente cai em situações previsíveis, empobrecendo a construção do suspense. A trilha sonora de Charlie Clouser, embora imersiva, não consegue redimir a narrativa de seus momentos mornos. O espectador é constantemente guiado por um roteiro que, em vez de intrigar e surpreender, se entrega a subtramas e situações muito previsíveis, prejudiciais para uma trama que se beneficiaria com mais elementos surpresa. Essa fragilidade no desenvolvimento do enredo faz com que o potencial do filme se perca, mesmo em uma trama que aborda temas relevantes e atuais, como o abuso doméstico. Interferência dos produtores? Falta de fôlego do diretor para desenvolver o conteúdo? Roteiro esquemático demais de J.S. Cardone e Donald E. Westlake? São várias hipóteses.
Esteticamente, O Padrasto apresenta algumas vantagens. A direção de fotografia de Patrick Cady consegue oferecer enquadramentos apurados que conferem um tom visual intrigante às cenas. Os ambientes são cuidadosamente elaborados pelo designer de produção Steven J. Jordan, que utiliza cenários que criam uma sensação de claustrofobia à medida que a trama se desenrola. A dimensão estética é um dos pontos altos do filme, permitindo que o espectador mergulhe na atmosfera de desconfiança e tensão, essencial para histórias de thriller psicológico. Podemos observar como o design de produção ocupa um papel fundamental, ressaltando simbolismos que ecoam a cárcere emocional dos personagens frente a um intruso que se infiltra gradualmente em seu mundo. No entanto, mesmo com um potencial significativo, a refilmagem não consegue superar suas falhas de execução. Embora possua a base para uma discussão mais profunda sobre o abuso familiar e a confiança quebrada entre entes queridos, o filme se limita a ser uma reprodução linear do medo do desconhecido em seu seio familiar.
Assim como a versão de 1987, a nova interpretação ainda tem relevância em nossos dias, refletindo preocupações com a segurança e a estrutura familiar. Contudo, a execução do suspense, muitas vezes mergulhando em clichês e revelações previsíveis, impede que o filme atinja níveis mais altos de tensão. O resultado final é uma obra que oscila entre o bom e o regular, deixando o espectador com a sensação de que poderia ser algo muito maior. Com personagens unidimensionais e um desenvolvimento que não se arrisca em reviravoltas intrigantes, a produção acaba se contentando com o que poderia ser o resultado de uma proposta aguçada. Dito isto, seria leviano dizer que O Padrasto é um filme ruim, mas, sem dúvida, uma oportunidade perdida de capturar a intensidade do terror familiar que seu enredo sugere. Em linhas gerais, é como muitas produções que tenho analisado por aqui: narrativas com potencial para o ótimo, mas que se conforta em ficar entre o “apenas bom” ou “razoável”.
O Padrasto (The Stepfather/EUA, 2009)
Direção: Nelson McCormick
Roteiro: J.S. Cardone e Donald E. Westlake
Elenco: Dylan Walsh, Sela Ward, Penn Badgley, Amber Heard, Sherry Stringfield, Paige Turco, Jon Tenney
Duração: 101 min.