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Crítica | O Padrasto 3: Ele Voltou Para Ficar

O terceiro episódio do terror no ciclo familiar: o retorno que ninguém pediu do padrasto psicopata.

por Leonardo Campos
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O filme O Padrasto – Ele Voltou Para Ficar, dirigido por Guy Masar e escrito em parceria com Marc B. Ray, representa o estabelecimento de uma trilogia que começou em 1987 com O Padrasto. A história carrega consigo os elementos típicos dos filmes de terror dos anos 1990, como a presença de um antagonista psicopata infiltrado em um lar familiar. Neste terceiro longa, somos reintroduzidos ao conceito do padrasto como uma figura traiçoeira e manipuladora, cuja busca por novas formas de vida se transforma em um jogo perigoso de sobrevivência emocional e física. A narrativa, apesar de apresentar algumas características de suspense, é permeada por uma sensação de leveza que diminui o impacto do terror, resultando em um filme que, embora “fiel” ao seu gênero, se mostra pouco inovador e cativante. A sensação que se tem é como em A Volta do Padrasto: uma repetição da mesma estrutura, com mudanças apenas no espaço fílmico e na chegada de outros personagens para morrer violentamente nas mãos do manipulador.

A premissa do filme é familiar: um violento escapista que, determinado a reconstruir sua vida após ter sido severamente ferido, assume uma nova identidade. A transformação do padrasto em Keith Grant, após uma cirurgia plástica, não apenas simboliza sua tentativa de escapar do passado, mas também reflete a própria concepção de identidade nas histórias de horror. O diretor Guy Masar escolhe Deer View, Califórnia, como o novo cenário, onde o personagem começa a engendrar sua nova vida e seus sinistros planos. A insinuação de uma nova vida, acompanhada pela relação amorosa que ele desenvolve com uma diretora de escola divorciada, provoca uma tensão entre a busca por normalidade e a fachada de segurança que ele apresenta. Esse ponto tensionado estabelece as bases para a confiança e, eventualmente, a desconfiança do filho cadeirante da diretora, que se destaca como um personagem crítico ao longo da trama.

O personagem do filho, um expert em computadores, também serve como um símbolo da resistência e da modernidade em um mundo ameaçado. Sua desconfiança em relação a Keith Grant o coloca em um papel de protetor, mas também revela as fragilidades da figura feminina da mãe, que é seduzida pela nova imagem do padrasto. Essa dinâmica familiar é complexa e cheia de nuances, mas a construção do suspense é frágil e muitas vezes tropeça em clichês narrativos típicos do gênero. Terry O’Quinn, se recebeu o roteiro para retornar, provavelmente viu o fiasco que seria e decidiu não fazer parte deste até engraçado, mas frágil filme de terror. Aqui temos uma trama onde crescimento da tensão poderia ter sido mais explorado e, muito antes das redes sociais, a ideia de como a tecnologia pode ajudar na descoberta de verdades ocultas é uma boa oportunidade que o filme não aproveita plenamente.

Embora O Padrasto – Ele Voltou Para Ficar possua elementos que prometem um terror sólido e envolvente, em especial, o seu pôster e a capa do VHS que indicavam um terror de gelar a alma, o filme acaba por caracterizar-se como leve, abordando o horror de uma forma mais superficial. Os elementos de suspense são diluídos em cenas que tendem a seguir uma fórmula já estabelecida e, nesse sentido, a obra não consegue se desvencilhar das limitações impostas pelo seu enredo. A ideia de um padrasto mau é repetida, e a suspensão da crença fica comprometida à medida que os espectadores são levados a experiências que já conhecem. A opção por um terror leve e uma história mais interessante poderia ter sido uma escolha ousada, mas resulta em uma narrativa que não consegue manter o público envolvido.

Em suma, o filme O Padrasto : Ele Voltou Para Ficar é mais uma adição ao legado que traz a familiaridade de um personagem que se torna um elemento recorrente do terror familiar no cinema. Com um enredo que gera expectativa mas que acaba por não se aprofundar nas complexidades que poderia oferecer, o filme provoca uma reflexão sobre os limites do horror em narrativas que prometem ser mais do que um simples entretenimento. Apesar de alguns toques de criatividade, a obra se estabelece como um exemplar que revela a dificuldade de equilibrar o entrelaçamento de identidade e o terror numa trama que, embora tenha seus méritos, falha em inovar o suficiente para se destacar no gênero. Assim, o fechamento de uma trilogia que se apresenta como um filme com um enredo raso, que se sustenta em clichês e oferece um terror que se sente mais como uma reminiscência do passado do que uma contribuição significativa ao seu futuro contexto. Tem alguns bons momentos, mas no geral, é muito irregular.

O Padrasto: Ele Voltou Para  Ficar (The Stepfather III/EUA, 1992)
Direção: Guy Magar
Roteiro: Guy Magar, Marc B. Ray
Elenco: Robert Wightman, Priscilla Barnes, David Tom, Stephen Mendel, Dennis Paladino, John Ingle, Mario Roccuzzo
Duração: 110 min.

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