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Crítica | O Príncipe Guerreiro (The Beastmaster)

por Ritter Fan
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estrelas 2

The Beastmaster ou, como foi batizado por aqui, O Príncipe Guerreiro, tinha tudo, mas absolutamente tudo para ser mais uma daquelas produções esquecidas dos anos 80. Reparem só a receita do fracasso: (a) um genérico de Conan, o Bárbaro; (b) estrelando o inexpressivo Marc Singer em seu primeiro papel de protagonista em longa cinematográfico; (c) com a ex-Pantera Tanya Roberts cuja presença no filme tem a mesma função que a de Megan Fox em Transformers, com o agravante que ela até apareceu nua em ensaio da Playboy como parte da promoção do filme e (d) dirigido por Don Coscarelli, egresso de Fantasma, filme que, com o tempo, tornou-se cult por razões que fogem a explicações racionais. Em resumo, era um trem bala em direção a uma parede de concreto reforçado.

Mas, muito ao contrário, o então mais recente exemplar da categoria “espada, sandália, corpos nus e magia” teve uma bilheteria baixa, mas não desastrosa e, em seguida, começou a ganhar enorme tração quando chegou à TV à cabo americana, sendo um dos filmes mais reprisados de sua época a ponto de a HBO, uma das então licenciadas, ganhar o apelido de “Hey, Beastmaster’s On” (ou, “Ei, está passando Beastmaster!”). Isso levou o filme a duas continuações com Singer (essas sim esquecidas nas brumas do tempo) e uma série de TV com Daniel Goddard o substituindo. Mesmo hoje em dia, a obra tem seus apreciadores, provavelmente pessoas que, como eu, viram o filme no cinema ou nas reprises da televisão quando criança e mantém uma memória afetiva do simpático trash de Coscarelli com o ator que, dois anos depois, viria a protagonizar a inesquecível série de TV V, a Batalha Final.

Beastmaster (esqueçam o título em português, pois não o usarei aqui) conta a história de Dar (Singer) guerreiro seminu que, mais ou menos como o Aquaman, controla animais, só que terrestres. Seus poderes vêm de seus nascimento… digamos, bizarro, em que, ainda feto, foi transferido do ventre de sua mãe para o de uma vaca. Criado em um vilarejo, ele aprende a lutar e, ao mesmo tempo, a esconder seus poderes telepáticos, mas de nada adiantam sua habilidades diante do proverbial massacre de sua família adotiva que o leva ao costumeiro juramento de vingança ao lado de sua águia Sharak (que, nas filmagens, se recusava a voar e teve que ser jogada de uma jaula presa a um balão…), dos simpáticos furões Kodo e Podo (dois dos 26 furões usados na produção) e do tigre negro Ruh (que era para ser uma pantera negra, mas Coscarelli aceitou pintar um tigre com tinta para tingir cabelo, depois que os treinadores disseram que panteras negras eram instáveis em filmagens), além da escrava ruiva – e também seminua – Kiri (Roberts), que ele liberta.

Qualquer semelhança com a estrutura de Conan, o Bárbaro, definitivamente não é uma coincidência, até porque o material base para a obra, uma série de romances escritos por Andre Norton a partir de 1959, foi tão alterado com esse objetivo que o próprio autor fez questão de ter seu nome retirado do filme. E, como se isso não bastasse, o grande vilão é um sumo sacerdote mágico (Maax,vivido por Rip Torn), obcecado com profecias e rituais.

O orçamento apertado – praticamente metade do de Conan, que já não era muito alto – transparece a todos os momentos. Seja no tigre que volta e meia aparece sem tinta preta aqui e ali, seja na repetição de sequências (especialmente com a águia), sejam nos minions de Maax ou nos figurinos ou na quase ausência de cenários diferentes de um deserto genérico, Coscarelli teve que fazer o impossível para dar um caráter épico à obra, algo que ele somente consegue parcialmente em suas tomadas com planos gerais bonitos, mas vazios, cortesia do sempre excelente John Alcott (um dos preferidos de Stanley Kubrick) e uma trilha sonora surpreendentemente interessante de Lee Holdridge que, bebendo de épicos do subgênero, faz o milagre de dar alguma verossimilhança sonora à jornada de Dar e seus animais.

Mas no departamento das atuações, Beastmaster é assustador. Coscarelli tirou leite de pedra em Fantasma, três anos antes, com um elenco e uma equipe consistente praticamente só de amadores. Aqui, com um elenco “profissional”, o resultado consegue ser pior, com Singer e Roberts só fazendo caras e bocas (além de mostrar seus respectivos corpos, lógico, talvez justamente para desviar a atenção da qualidade artística de cada um) e Rip Torn sendo o Rip Torn de sempre: simpático, mas histriônico ao ponto do risível. O divertido é que, no conjunto, a vergonha alheia é tão grande que ela consegue quebrar alguma espécie de barreira subconsciente que torna tudo aceitável, pelo menos para quem foi bombardeado pelas reprises inclementes desse “clássico”.

Beastmaster poderia ter sido pior. Aliás, minto. Ele tinha que ter sido muito pior pelas características inerentes dessa produção. Mas o filme consegue entrar – com mérito – na categoria do “é tão ruim que é bom” que também é conhecida como a categoria de “filmes que temos vergonha de admitir que gostamos”.

O Príncipe Guerreiro (The Beastmaster, EUA/Alemanha Ocidental – 1982)
Direção: Don Coscarelli
Roteiro: Don Coscarelli, Paul Pepperman (baseado em romances de Andre Norton)
Elenco: Marc Singer, Tanya Roberts, Rip Torn, John Amos, Joshua Milrad, Rod Loomis, Ban Hammer, Ralph Strait, Billy Jayne, Janet DeMay, Christine Kellogg, Janet Jone, Tony Epper, Vanna Bonta
Duração: 118 min.

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