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Crítica | O Projecionista (2019)

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Dez anos após seu último filme em Nova Iorque, Abel Ferrara está de volta à sua terra natal. A princípio não para falar sobre a cidade, como foi o documentário Mulberry St. de 2010, mas para retratar Nicolas Nicolaou, imigrante chipreano que foi para NY ainda jovem e trabalhou em cinemas desde então. O documentário segue a mesma lógica dos últimos do diretor, muitas caminhadas e conversas, sem muito planejamento, um filme feito a partir do despojamento que Ferrara sempre teve.

Ainda que partindo da relação pessoal de Nicolas, da sua juventude até tornar-se dono de um dos mais antigos cinemas de rua da cidade, Abel usa sua trajetória para construir a história de Nova Iorque usando a indústria cinematográfica como cenário. Desde a decadência dos cinemas de rua, o surgimento dos estabelecimentos pornôs, a aparição dos Centerplex que monopolizaram o circuito exibitório até hoje, tudo isso acarreta nas mudanças políticas e sociais de Nova Iorque, e isso se apresenta no filme pela transformação geográfica, marcando os cinemas que já não existem e o que se tornaram com o passar dos anos. 

O Projecionista, além de satisfazer essa dimensão geográfica do diretor, serve também como forma de cultivar o amor pelo cinema que Abel e Nicolas compartilham. Ambos começaram a trabalhar com cinema na mesma época, tiveram contato com a pornografia e com os filmes “de arte”, se adaptaram com o tempo e hoje vivem de um nicho. São duas figuras parecidas que dividem a vontade de manter o cinema vivo e que estão vivos por causa dele. 

Imagens de arquivo mostram com nostalgia os letreiros que passavam os filmes da juventude dos dois, Taxi Driver é mencionado para caracterizar os cinemas adultos da época, mas também carrega o pesar de Ferrara não ter trilha o mesmo caminho de sucesso que Scorsese. Tanto Abel quanto Nicolas poderiam ter deixado o cinema de lado para ter mais sucesso financeiro, mas há um caráter missionário na função dos dois, a de manter de pé o estabelecimento que é símbolo de resistência do bairro e a de continuar filmando, mesmo que sem a mesma liberdade e possibilidades de vinte anos atrás.

Por mais que seja formalmente parecido com seus últimos filmes, Ferrara sempre extrai de seu piloto automático boas reflexões sobre o cinema e sobre sua cidade. Nova Iorque jamais seria igual se não fosse o cinema, por mais que a quase inexistência de salas de exibição não acredite nisso. No mais, é um deleite ver Abel Ferrara conversando debochadamente com cinéfilos adolescentes sobre Blade Runner 2049.

O Projecionista (The Projectionist) – EUA, 2019
Diretor: Abel Ferrara
Roteiro: Abel Ferrara
Elenco: Abel Ferrara, Nicolas Nicolaou
Duração: 83 min.

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