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Crítica | O Que Aconteceria Se… O Homem-Aranha Tivesse Impedido o Ladrão que Matou Seu Tio?

Com grandes poderes...

por Luiz Santiago
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Eis aqui uma pergunta-título bastante interessante para uma aventura da série What If… e que é trabalhada com muita inteligência por Peter Gillis, em seu segundo roteiro para a série — aliás, um salto de qualidade em relação à medíocre história O Que Aconteceria Se… O Dr. Estranho Fosse Discípulo de Dormammu?. O ponto de partida do Vigia na presente edição se dá na noite da luta bem-sucedida em que a nova e misteriosa celebridade chamada Homem-Aranha testemunha um ladrão e, em vez de deixar que o homem fuja, faz uso de suas teias para prender o criminoso. Este é o momento de ruptura que gera a linha do tempo na Terra-80219, selando para sempre o destino do Tio Ben (que não vai morrer) e também do Cabeça de Teia, que passa a seguir um caminho bastante diferente daquele que conhecemos.

Podemos dizer que O Que Aconteceria Se… O Homem-Aranha Tivesse Impedido o Ladrão que Matou Seu Tio? é uma história onde a fama, o dinheiro e o sucesso “sobem à cabeça” e corrompem o homem. Mesmo que o Vigia diga, no exato momento em que Peter interrompe a fuga do bandido, que ele “estava fazendo aquilo pelos holofotes“, o comportamento do jovem nos dias posteriores é bastante normal, se pensarmos na progressão esperada dos fatos em sua vida, caso não tivesse de lidar com a morte de alguém que ama. Ele desiste das lutas e acaba entrando para o ramo dos filmes, onde um bom contrato o deixa extremamente animado e seguro para revelar aos tios a sua identidade. E aí sim, desse momento em diante é que eu comecei a perceber a mudança mais intensa no personagem, o momento onde ele está muito mais apaixonado por sua persona e, sem a presença dos tios em seu cotidiano, deixa-se levar pelo mercado, pelas exigências desumanas que a fama lhe traz.

Fiquei bastante feliz com a abordagem de Peter Gillis para toda essa questão de um quase-herói no showbusiness, pois o autor mostra a linha tênue entre querer fazer arte com uma habilidade adquirida, querer ganhar dinheiro com alguma coisa diferente que se tem ou simplesmente usar essa habilidade para prejudicar os outros. Sempre discutimos indiretamente isso, no caso de alguns heróis. O fato de uma pessoa ganhar um determinado poder forçosamente diz que ela deve utilizar isso para combater o crime e ajudar os outros? É uma questão moral e ética que gera um excelente debate e aqui a gente vê Peter entrando para o ramo do entretenimento, primeiro como ator e depois como produtor, tornando-se, inclusive, agente dos Vingadores, do Quarteto Fantástico e do Demolidor. Até certo ponto, seu uso de poderes não estava em uma causa nobre, mas também não era algo necessariamente negativo.

Miranha Modinha.

O Peter Parker dessa realidade, porém, não tem muitos limites. Ele não quer apenas seguir uma vida de fama, mas se torna bastante controlador e utiliza de meios nada legais contra a imprensa (leia-se: contra J. Jonah Jameson), com direito a acessos de raiva e tudo. Durante toda a leitura eu fiquei me perguntando qual seria a cobrança do Universo para o fato de o Tio Ben não ter morrido, e a linha final dessa história compensa muitíssimo tudo o que a gente poderia ter imaginado. Mesmo que eu ache o final muito abrupto, o caminho que o roteiro trilha para chegar até ele é digno de um filme, daqueles onde um empresário poderoso é cercado pela máfia — nesse caso, Kraven, Mysterio, Electro, Homem-Areia e Dr. Octopus.

Essa é uma das histórias mais bem amarradas, em termos de implicações das escolhas dos heróis, de todo o título What If… até o momento. As ações de Peter, o luto e o desgosto de vida de JJJ, a maneira como o Aranha guia os seus negócios e os inimigos que cultiva, tudo isso tem os dois pés plantados na realidade, mas não deixa de ter uma ótima visita do lado super-heroico. O finalzinho ganha ares moralistas e é bastante apressado, mostrando o personagem aprendendo uma lição à força… um caminho bem rasteiro se comparado ao alto nível do restante da edição, mas ainda assim, que não a faz perder tudo o que teve de melhor.

E eu não poderia deixar de dar as devidas honras para os desenhos de Pat Broderick e para a finalização de Mike Esposito. A dupla faz um trabalho absurdo, consegue narrar visualmente e de maneira muito bonita essa jornada inglória do Homem-Aranha, tanto em quadros grandes, quanto em quadros pequenos. Já fazia algum tempo que eu não ficava tão animado lendo uma história de O Que Aconteceria Se… e é sempre bom encontrar uma dessas pelo caminho, ainda mais com um tema tão bom para discussão como este.

What If #19: Spider-Man Had Stopped the Burglar Who Killed His Uncle? (EUA, fevereiro de 1980)
Roteiro: Peter Gillis
Arte: Pat Broderick
Arte-final: Mike Esposito
Cores: Roger Slifer
Letras: Orz
Capas: Pat Broderick, Joe Rubinstein
Editoria: Dennis O’Neil, Mark Gruenwald
24 páginas

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