Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | O Que Aconteceria Se… o Mundo Soubesse Que o Demolidor é Cego?

Crítica | O Que Aconteceria Se… o Mundo Soubesse Que o Demolidor é Cego?

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Com uma história mista de elementos patéticos mas também certa lógica dentro do universo do Demolidor, o roteirista Don Glut e os artistas Alan Kupperberg e Jim Mooney criaram nesta oitava edição da série What If? (Vol.1) os últimos passos do Homem Sem Medo vestindo o manto depois que o mundo descobre sua ‘grande fraqueza’.

Aqui, O Vigia (Uatu) demora para nos colocar no caminho certo, apresentando-nos um cenário inicial que pouco ou nada contribui para o andamento da história principal uma vez que a mesma coisa — mostrar que a ideia de mudança da cor amarela do uniforme lá de Daredevil #1 para a vermelha, a partir da Daredevil #7, veio do Homem-Aranha — poderia ser conseguido de outra forma e com um roteiro que não carregasse um vilão (Electro) com aura de extrema importância para depois colocá-lo na prisão e destacar O Coruja em seu lugar. Essas idas e vindas mal construídas cansam o leitor e diminuem a força da história dentro daquilo que ela mais tem de interessante, que é mostrar as consequências dessa descoberta pelo mundo da cegueira do Demolidor.

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Não bastasse o modo pouco atrativo da exposição dos vilões, aparecem duque Klaus Kruger e o Dr. Van Eyck como coadjuvantes de algum peso narrativo mas que se perdem aqui e ali no texto. Percebam que o roteiro de Glut procura elencar personagens de grande importância para o Demolidor ao longo de sua história, mas essa interação não é bem pensada e ocorre dentro de perspectivas segmentadas demais e com diálogos fracos e imediatistas demais. Há quem até aponte a ideia de que “são muitos personagens, não tinha jeito“, mas se olharmos dentro dessa mesma série a aventura O que aconteceria se… o Wolverine tivesse matado o Hulk? veremos que dois medalhões da Marvel estão em cena e uma equipe ainda maior de heróis e outros personagens importantes aparecem e a trama funciona bem, mais fechada e mais organizada nas apresentações, saídas e relevância de cada um.

O que é interessante neste roteiro, pelo menos como conceito, é o jogo de chantagem e surpresas que o Demolidor passa a enfrentar quando sua cegueira é revelada por Electro, então preso após uma ação conjunta do Diabo de Hell’s Kitchen com o Amigão da Vizinhança. A sequência prévia é ruim, tanto na arte quanto no texto, mas a luta e o resultado são aceitáveis. A melhor parte disso tudo é o papo que os dois heróis tem, onde aparece uma tira de “origem” do Demolidor (inteiramente desnecessária) e o Aranha desconversa, sugere uma cor diferente para o uniforme do colega e sai se pendurando pela cidade. A partir desse momento, aquele toque urbano e reflexivo que marca os heróis da Marvel (destaque exatamente para os dois aqui) ganha maior espaço e algumas surpresas — ou conveniências, dependendo da leitura que façamos — surgem e viram o jogo para o lado do Demônio.

A arte da edição não possui destaque em nenhum aspecto, mantendo desproporções e estranhezas cênicas por todas as páginas. Para completar, há uma completa falta de imaginação na diagramação, as sequências de luta são espremidas em quadros pequenos e não há harmonia de movimento. Em um momento temos grandes cenas de ação e, em outro, estamos em um quadro meio estúpido (alguém caindo em cima de alguma coisa ou derrubando alguma coisa) como num passe de mágica. Para não dizer que tudo é descartável, os desenhos do Demolidor e do Homem-Aranha são, em geral interessantes, comparados ao que temos em todo o restante.

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O final para esta realidade alternativa é feliz, mas traz outros questionamentos: tendo o Demolidor, agora curado da cegueira, desistido de vestir o manto de herói e entrado para a política como advogado distrital, o que acontecerá à cidade? O Aranha estaria sobrecarregado? Seu agora oficializado relacionamento com Kaen Page evitaria algumas desgraças? Geraria outras emocionalmente piores?

Essas nuances e perguntas finais são interessantes e tornam a edição aceitável, embora, em avaliação final, ruim. De todo modo, é sempre bom conhecer e pensar em certas situações de realidades alternativas, como esta. E mais curioso ainda é ver que entre o Volume 3 e o Volume 4 da série corrente do Demolidor, muitas coisas que aqui são apenas sugestões se tornaram semi ou total realidade em nossa Terra.

O que aconteceria se… o mundo soubesse que o Demolidor é cego? (EUA, 1978)
Título original: What If the World Knew That Daredevil Is Blind? (What If? Vol.1 #8)
Roteiro: Don Glut
Arte: Alan Kupperberg
Ate-final: Jim Mooney
Cores: Mary Ellen Beveridge
Letras: Karin
Capa: Gil Kane, Klaus Janson, Irv Watanabe
35 páginas

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