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Crítica | O Que os Homens Falam

por Gabriela Miranda
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A pergunta proposta no subtítulo original: “de que falam os homens quando não estamos lá?”sugere ao público feminino que existe a possibilidade de encontrar algumas respostas sobre os hábitos e conflitos masculinos nesse longa-metragem. A narrativa propõe uma porta de entrada para a mente masculina ao indagar sobre quais são as conversas e os silêncios que escondem traços e fatos embaraçosos desse grupo de homens anônimos referenciados por iniciais.

Existe um duplo sentido no fato desses homens encontrarem certa dificuldade para expressarem seus sentimentos e serem nominados apenas com as iniciais, o que pode muito bem ser visto também como uma maneira de generalizar os traços personificados por esses personagens, tornando-os parte de todo homem contemporâneo.

Esse filme, dirigido pelo espanhol Cesc Gay, adere a um estilo de crônicas encapsuladas em um mesmo formato para serem facilmente digeridas. Cada história segue a mesma assinatura no ritmo e na composição do diálogo, encharcado de ironias contrastando com lapsos de honestidade total. É a partir de diálogos banais do cotidiano que escapam as falas sinceras e preocupadas desses homens.

São feitas diferentes abordagens sobre a mesma temática, a crise de identidade de oito homens. Essa receita entrega um roteiro bem equilibrado entre o drama e a comédia vivenciada por homens que enfrentam algum tipo de insatisfação com a perda em si mesmos.

Talvez a maior qualidade dessa fita seja a de ser capaz de fugir do lugar mais que comum, e ao mesmo tempo mostrar questões e questionamentos que participam de um cotidiano banalizado por saudações e conversas educadas, simuladas dentro do que é estritamente esperado. E logo entregar um retrato realista, tocante e por vezes inesperado da reação de homens comuns, que enfrentam um combate interno que parecem estar perdendo.

Perdidos e confusos, eles descobrem a falta de intimidade e da realização pessoal, a perda da possibilidade de um retorno, a ausência da felicidade conjugal, a escapada da hipocrisia machista, o abandono da ilusão de que tudo é dito entre amigos, sem guardar segredos. O que todos tem em comum é que eles estão à deriva, sem uma definição de seus papéis na vida pessoal.

Existe uma quebra de certas reações e imposições sociais esperadas desses homens. As situações recortadas pelo diretor impelem o espectador a refletir, e por que não, se identificar com essa busca de uma identidade que comporte as nuances de cada um, que são muito mais complexas do que os chavões encravados na sociedade como: homens não choram, homens não se arrependem, homens não aceitam traição, homens não sabem amar, homens só conversam sobre coisas importantes que diferem do tema relacionamento.

Enquanto os homens lidam com conflitos internos, as mulheres neste filme são referência de amadurecimento e determinação. Elas já tiveram de lidar com todas as questões e problemáticas da vida e agora demonstram ser donas de si e completamente seguras, prontas para resolver as situações e discutir e falar sobre seus sentimentos e segredos sem nenhum tipo de comedimento ou receio. Isso é um ponto interessante de contraste. E assume um duplo sentido se trouxermos de volta à tona o subtítulo que apresenta a dúvida feminina sobre o que os homens pensam.

O Que os Homens Falam (Una pistola en cada mano) – Espanha, 2012
Direção: Cesc Gay
Roteiro: Tomàs Aragay, Cesc Gay
Elenco: Javier Cámara, Ricardo Darín, Eduard Fernández, Jordi Mollà, Luis Tosar, Leonardo Sbaraglia, Eduardo Noriega, Alberto San Juan, Candela Peña, Clara Segura, Leonor Watling, Cayetana Guillén Cuervo
Duração: 95 min

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