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Crítica | O Quinto Império – Ontem Como Hoje

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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O Quinto Império – Ontem Como Hoje é um filme especial na filmografia de Manoel de Oliveira diante de tanta proximidade com outras obras do diretor. Fruto do texto teatral El Rei Sebastião de José Régio (autor fortemente ligado à filmografia de Oliveira), Quinto Império é uma descida íngreme diante da queda de um jovem rei fanático e ambicioso prestes a entrar em batalha. O monarca aparece em Non ou A Vã Glória de Mandar (1990) e no mais recente Palavra e Utopia(2000) como uma figura intransigente que se torna símbolo dessa decadência corrompida ainda mais explorada nos filmes citados. 

Como já estabelecido em outros filmes do diretor, pouco o tempo passado na história importa, pois sua obra estará sempre dialogando com o presente e passado independentemente. O subtítulo “Ontem Como Hoje” deixa isso explícito, ainda que indo mais a fundo nota-se a referência à Non ou a Vã Glória de Mandar, épico que remonta a história de Portugal nas guerras da perspectiva de um grupo de soldados na década de 70, incluindo a batalha de Alcácer-Quibir, a que Sebastião está prestes a partir.

Sebastião é tão hermético quanto a própria cinematografia de Manoel de Oliveira. Ambientado radicalmente em apenas um cenário, uma noite, quase sem movimentos de câmera ou cortes, e, como de costume, pouquíssimas ações. As ações se dão pelas palavras de ordem de Sebastião, que encara diversas figuras questionando sua sanidade, mas que persiste em defender seus ideias numa espécie de embate contra si mesmo, em frente a um espelho, declamando sentenças de poder na esperança de provar sua superioridade. Mesmo pessoas comuns como um sapateiro põem em cheque a estabilidade de um rei, personagem que se recusa de sair de cena para dar espaço a tipos menores.
 
O rei Sebastião é uma espécie de Aguirre, afogado pelo seu ímpeto de conquista e loucura. Ao longo da madrugada que o filme se passa ele fica cada vez mais solitário, sem ninguém com quem dividir seus desejos, apenas resta a penumbra da noite que escurece seus pensamentos e uma legião disposta, porém infiel à suas ideias. É a madrugada que dá liberdade aos sonhos de Sebastião, que precede os dias de desespero. Quinto Império vai tornando-se uma espécie de comédia negra, sobre a megalomania bélica que estende-se desde o século XVI, quando o filme se passa, até 2005, data de lançamento do filme, tempos muito similares onde nanicos com senso de superioridade investem em armas para compensar a própria mediocridade.

O cenário se esvazia, ficam as sombras, o vácuo, e a imprudência monárquica. A presença dos corpos se dão pelo vazio da cena e pela dura encenação usual de Oliveira, que aproveita da iluminação soturna e escura para compor algumas de suas melhores imagens. Se trata de mais um personagem pronto para morrer, mas sem consciência disso, lembrando outros filmes de Manoel como O Dia do Desespero (1992), onde o diretor encara a morte, tema que o assola desde muito antes na carreira. No entanto, Quinto Império foi capaz de unir à morte suas preocupações históricas com uma maestria ímpar, fruto da maturidade atingida pelo cineasta.

O Quinto Império – Ontem Como Hoje – 2004, Portugal
Direção: Manoel de Oliveira
Roteiro: José Régio, Manoel de Oliveira
Elenco: Ricardo Trêpa, Luís Miguel Cintra, Glória de Matos, Miguel Guilherme, David Almeida, Ruy de Carvalho, Luis Lima Barreto, Rogério Samora
Duração: 127 min.

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