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Crítica | O Reino dos Gatos

por Luiz Santiago
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Baseado no mangá Baron: Neko no Danshaku, de Nozomu Takahashi, O Reino dos Gatos é a derivação temática de uma trama que vimos representada no filme Sussurros do Coração (1995), com o gato Barão tendo aqui um papel ativo na aventura, mas não seguindo o padrão romântico de “votos para a vida” com uma história melancólica em pauta. Vivendo em um lugar acessível apenas por pessoas especiais, escolhidas, Barão Humbert von Gikkingen está aqui ao lado da adolescente Haru (Chizuru Ikewaki), que vive cheia de incertezas, que cultiva uma paixão não correspondida por um garoto de sua sala no Ensino Médio e que parece não conseguir chegar à escola no horário um único dia.

O tom de fantasia e lirismo dos primeiros minutos do filme logo migram rapidamente para uma toada cômica, e isso faz bem à apresentação da protagonista, que parece não encontrar o seu lugar no mundo. Este tema, porém, não está colocado como um elemento filosófico ou martirizante na animação. Sua exploração no decorrer do filme acontece especialmente quando Haru é transportada para o intitulado Reino dos Gatos e lá é confrontada com novas possibilidades de vida (com direito a títulos sociais, intensas mudanças no corpo, novas obrigações, etc.), aventura na qual se vê envolvida após salvar a vida de um felino felino diferente. Este animal era, na verdade, o príncipe herdeiro de um reino encantado. E é para lá que Haru é levada, sem ter escolha.

Aqui, duas paixões dos criadores do Studio Ghibli (gatos e voos) são reunidas de maneira bem curiosa: uma de forma explícita (os gatos) e outra de forma simbólica, não com aviões em cena, mas com sequências de voo filmadas com um gracioso caráter fantasioso. Elas são angustiantes em um momento e surpreendente no próximo, tirando os protagonistas de apuros e colocando-os numa simples contemplação da liberdade e aceitação da aventura, tanto na entrada quanto na saída do Reino dos Gatos. Para Haru, esse tipo de jornada e a sua passagem pelo Reino simbolizam provações da idade que a tornam madura em pouco tempo, inclusive redefinindo a sua percepção de vida ao final da fita.

O diretor Hiroyuki Morita faz um caminho romântico de descobertas para a protagonista, mas o amor, que surge de diferentes formas aqui (em sua esfera possessiva e forçosa até a inspiradora e impossível) não é tratado de maneira boba. Toda a leveza e docilidade em torno das andanças de Haru está pontuada por eventos verdadeiramente assustadores, como se tivéssemos aqui numa fábula sobre o amadurecimento de uma menina (em live action temos fantasias surreais dentro desse mesmo tema que valem a pena ser conferidas: Valerie e a Semana das Maravilhas e Hausu) onde a inocência ainda está em evidência, mas os terrores do mundo à volta se mostram cada vez mais fortes e amedrontadores.

O Reino dos Gatos consegue mostrar o resultado dessa viagem da protagonista na cena final. Amadurecida, ela percebe o mundo de forma mais leve: consegue acordar cedo, retira o desespero da vida e está em paz com a paixonite impossível do colégio. Uma viagem que serve como um estalo de novidade para Haru, trazendo-lhe uma nova forma de pensar, olhar e viver a vida.

O Reino dos Gatos (Neko no ongaeshi) — Japão, 2002
Direção: Hiroyuki Morita
Roteiro: Aoi Hiiragi, Reiko Yoshida (baseados no mangá Baron: Neko no Danshaku, de Nozomu Takahashi)
Elenco: Chizuru Ikewaki, Yoshihiko Hakamada, Aki Maeda, Takayuki Yamada, Hitomi Satô, Kenta Satoi, Mari Hamada, Tetsu Watanabe, Yôsuke Saitô, Kumiko Okae, Tetsurô Tanba, Yô Ôizumi, Yoko Honna, Ken Yasuda
Duração: 75 min.

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