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Crítica | O Resgate: Dia da Redenção

Filme de ação com boas intenções, mas executado de forma medíocre.

por Fernando Campos
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É sempre positivo que diretores jovens e diversificados tenham a oportunidade de comandar projetos, oxigenando a indústria. Especialmente na questão da nacionalidade, uma vez que a visão excessivamente americanizada prejudica o surgimento de obras diferentes. No caso de O Resgate: Dia da Redenção, o longa é comandado pelo jovem diretor marroquino Hicham Hajji. Contudo, essa oportunidade dada ao cineasta mostra-se uma das poucas coisas a serem celebradas na produção, visto que o resultado final conta com uma série de equívocos.

No filme, Brad Paxton (Gary Dourdan) é um herói de guerra que está tentando reconstruir sua vida pessoal, após lidar com traumas do campo de batalha. Porém, em uma viagem a trabalho, a esposa dele, Kate (Serinda Swan), acaba sendo sequestrada por terroristas. Diante da situação, Brad se vê obrigado a voltar a ativa e enfrentar essa organização poderosa para salvar a vida da mulher que ama, mesmo que arrisque a própria.

Os primeiros dez minutos são a única parte realmente aproveitável da experiência, o que não deixa de aumentar o amargor depois, visto que o longa vende um potencial para destruí-lo em seguida. A projeção abre com um letreiro pertinente e verdadeiro sobre como a busca incessante por petróleo acarreta em diversas guerras pelo mundo, com incentivo do governo estadunidense. Em seguida, somos introduzidos ao protagonista com um plano sequência bem produzido, iniciando numa escala menor e terminando com um ataque filmado em um plano aéreo. Hajji abruptamente corta para Paxton acordando assustado ao lado da esposa, surpreendendo o público. Esses minutos iniciais estabelecem com precisão, mesmo que não seja de forma brilhante, o tema da obra, o dilema do protagonista e o que será necessário superar para sanar esse problema.

No entanto, uma boa introdução de pouco serve se o diretor decide tratar porcamente o que estabeleceu. O Resgate chega no nível de não saber qual gênero adotar, ficando num meio termo que torna a experiência medíocre em qualquer linha que o público possa abraçar. Por exemplo, a ação é totalmente genérica, além de ocorrer de verdade somente nos vinte minutos finais, com a velha câmera na mão tremida, que aqui ainda ganha uma fotografia escura, dificultando ainda mais que vejamos a coreografia dos atores. 

Já o drama político e a temática do petróleo ficam apenas em uma abordagem rasa, prestando um desserviço ao tratar de forma maniqueísta um tema tão importante quanto os interesses comerciais por trás da guerra. Aliás, a montagem  erra ao ignorar esses assuntos em metade da projeção para trazê-los novamente na conclusão da narrativa, soando como uma tentativa ridícula e oportunista de querer dar importância para uma obra tão frágil e que esquece dos próprios temas em boa parte da trama. Já a edição em nenhum momento consegue inserir um senso de urgência no longa, tornando tanto a situação de Kate quanto a missão de Brad em elementos frios dentro da história. Para completar, o dilema do protagonista de voltar para o lugar que o traumatizou é reduzido a flashbacks jogados sem muito critério e sem impacto visual na narrativa, trazendo nenhuma dramaticidade.

Além do início, a dupla principal de atores é uma das únicas coisas elogiáveis em O Resgate. Não que entreguem algo memorável, mas é nítida a tentativa de ambos de tentar apresentar atuações sensíveis. Serinda Swan representa bem a esposa amorosa em situação desesperadora e Gary Dourdan funciona como o ex-militar durão. São dois arquétipos, mas que funcionam e merecem elogios em um lamaçal de ruindade. Já Andy Garcia é absurdamente pouco utilizado no filme, com potencial para representar como o imperialismo estadunidense se torna o antagonista da história; algo que Hajji não consegue construir.

A lição que O Resgate deixa, não para o público, visto que trata-se de um filme esquecível, mas para Hicham Hajji, é que não basta uma introdução boa para um longa funcionar. Esse é o papel básico da montagem em uma obra, construir uma narrativa inteira interessante enquanto os temas são diluídos. Além disso, boas intenções, como a abordagem sobre petróleo, não garantem importância para uma obra. O que conta, no fim, é a qualidade da experiência cinematográfica, mas O Resgate não consegue passar da mediocridade.

O Resgate: Dia da Redenção (Redemption Day) – EUA e Marrocos, 2021
Direção: Hicham Hajji
Roteiro: Lemore Syvan, Hicham Hajji, Sam Chouia
Elenco: Gary Dourdan, Serinda Swan, Andy García, Brice Bexter, Ernie Hudson, Martin Donovan, Robert Knepper, Samy Naceri, Soumaya Akaaboune, Don Bigg, Jay Footlik, Lilia Hajji, Sonia Okacha, Karim Saidi, Hami Belal, Aïssam Bouali, Bradley Gregg, Michael Patrick Lane, Hayet Belhalloufi, Abderrahmane Baalla, Mehdi El Ouazzani
Duração: 100 min

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