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Crítica | O Retrato de Dorian Gray (2009)

por Rafael Lima
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O Retrato de Dorian Gray, escrito pelo poeta e dramaturgo Oscar Wilde em 1890 como seu único romance, se mantém como uma obra atemporal. Os questionamentos filosóficos sobre o prazer efêmero, hipocrisia, corrupção e falsidade das imagens, apenas tornam-se mais atuais à medida em que os anos passam. Assim, não é de se estranhar que o livro de Wilde tenha sido adaptado para o cinema e TV diversas vezes ao longo dos anos, com a mais recente investida tendo ocorrido em 2009, sob a direção de Oliver Parker.

Na trama, Dorian Gray (Ben Barnes) é um jovem aristocrata, que ao retornar a Londres, posa para um retrato pintado por seu amigo Basil Hallward (Ben Chaplin). Mas ao conhecer Sir Henry Wotton (Colin Firth) e suas teorias hedonistas, Dorian passa a temer o fim de sua beleza e juventude e deseja que o retrato envelheça em seu lugar. Ao perceber que seu desejo foi atendido por forças sobrenaturais, e que agora possui juventude eterna, Dorian mergulha em uma existência hedonista e corrupta.

Escrito por Toby Finlay, esta versão de O Retrato de Dorian Gray, opta por tornar explícito muitos pontos que são apenas sugeridos ou que surgiam de forma sutil no romance, como a tensão homoerótica existente entre Dorian e Basil ou os aspectos demoníacos em torno do retrato. Não há nada de errado com nenhuma destas opções em primeira instância, mas a forma como o roteiro trabalha esses dois elementos da trama de forma rasa e gratuita sabota a riqueza dos subtextos apresentados por Wilde no material original, que eram muito mais ricos quando deixados subtendidos.

Não ajuda também que o filme de Oliver Parker não consiga dar credibilidade para as relações entre os seus personagens, vide o romance do protagonista com a jovem atriz Sibyl Vane (Rachel Hurd Wood), que surge terrivelmente mal construído, prejudicando a obra inteira por seu desfecho trágico ser um importante ponto de virada da narrativa. O mesmo pode ser dito sobre o súbito e pouco crível romance de Dorian com Emily Wotton (Rebecca Hall), uma construção mal cuidada que prejudica todo o 3º ato do filme.

A fotografia e a direção de arte criam um contraste interessante entre os ambientes opulentos que Dorian Gray frequenta na alta sociedade britânica, com as ruas sujas e poluídas de Londres, onde o protagonista libera os seus desejos hedonistas. A direção de Oliver Parker e suas escolhas estéticas, por outro lado, não surgem tão bem sucedidas. Como dito anteriormente, o diretor torna mais explícito os aspectos sobrenaturais da narrativa ao se utilizar de signos clássicos do horror. O retrato do título não apenas envelhece no lugar de seu modelo, mas eventualmente libera larvas, e se torna fonte de jump scares que soam não só gratuitos, mas deslocados no contexto do longa metragem.

Para esta adaptação, Parker conseguiu reunir um elenco com nomes bastante talentosos do cinema britânico. Ben Barnes é competente em retratar os diferentes estágios emocionais pelos quais o seu Dorian Gray vai passando ao longo da narrativa. Colin Firth como Lord Henry vende bem o cinismo de seu personagem; entretanto, devido em grande parte ao fraco roteiro, não consegue dar credibilidade à transformação sofrida pelo personagem após uma grande passagem de tempo. O elenco feminino, por sua vez, não tem muito o que fazer com suas personagens especialmente no caso de Rebecca Hall, que recebe uma personagem totalmente inexpressiva e mal escrita.

A versão de 2009 de O Retrato de Dorian Gray revela-se no fim um filme bastante esquecível. Indeciso entre ser um melodrama gótico ou um terror B sobrenatural, o longa metragem de Oliver Parker é extremamente falho em construir a relação entre os seus personagens; consequentemente enfraquecendo a jornada dramática de seu protagonista. O filme até têm uma estética interessante, mas perde o principal ponto de seu material base, esquecendo que é o interior o que mais conta.

O Retrato de Dorian Gray (Dorian Gray)- Reino Unido, 2009
Direção: Oliver Parker
Roteiro: Toby Finley (Baseado em Romance de Oscar Wilde)
Elenco: Ben Barnes, Colin Firth, Ben Chaplin, Rachel Hurd Wood, Rebecca Hall, Caroline Goodall, Max Irons, Fiona Shaw, Michael Culkin, Emilia Fox, Pip Torrens, Maryam D’Abo, Douglas Henshall, Nathan Rosen, Johnny Harris, Louise Rose, Jo Woodcock
Duração: 112 Minutos.

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