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Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X06: Udûn

Desafiando a morte.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, de todo nosso material de Senhor dos Anéis.

Antes dos Orcs irem para a batalha no começo do episódio, eles gritam a palavra “namat” como encorajamento, que tem uma tradução próxima de “morte”. E, no desfecho do episódio, as criaturas entoam um canto de vitória com a palavra “udûn”, com possíveis significados de “inferno” ou “poço sombrio”. São dois momentos apropriados e premonitórios para um dos melhores elementos do sexto capítulo da série: a sensação de desespero e o gosto derrotista com o triunfo do Mal. Assim como aconteceu em Adar, o episódio desta semana faz uma ótima representação da malignidade de seus antagonistas e cria um bem-vindo senso de urgência na história.

Seja a descoberta melancólica das pessoas do vilarejo de que estavam matando seu próprio povo; a cena visceral da taberna em que Adar começa a matar sem escrúpulos; ou o desfecho amargo com a erupção do vulcão, o episódio como um todo tem momentos que sintetizam o perigo dos Orcs e os obstáculos difíceis que estão vindo. A cineasta Charlotte Brändström é bastante versátil na direção, com destaque para a luta quase de body horror entre Arondir e um Orc gigantesco e a abordagem de filme de desastre com os momentos finais do episódio (acompanhada por um trabalho de CGI fantástico).

As diversas batalhas de Udûn também são bem filmadas. O conflito entre o vilarejo e os Orcs é dividido em três batalhas, começando na Torre; passando pela luta à noite no vilarejo; e depois a chegada da cavalaria de Númenor. As estratégias de Arondir e Browyn conseguem ser meio bobas – não era melhor se defender numa torre fortificada do que num vilarejo indefeso, por exemplo? – e algumas reviravoltas são previsíveis demais, como a vinda dos Orcs da floresta ou o Deus Ex Machina de Galadriel e companhia, mas a direção consegue criar momentos de tensão, situações de risco e sequências coreográficas bem divertidas.

É o mais próximo que tivemos de uma sensação épica no seriado desde os momentos de abertura, ainda que a abordagem tenha sido de guerra e não de aventura. Para mim, ainda é estranho ter uma grande batalha na Terra-média que não tenha sido consequência de uma jornada de exploração, mas Udûn é um episódio grandioso mesmo em seus cenários contidos, algo enfatizado por ações de pura sobrevivência e um desfecho catastrófico que cria muitas expectativas para a reta final da temporada. Depois de alguns episódios enrolados, é revigorante assistir Anéis de Poder fazendo alguma coisa efetivamente acontecer para além de introduções de personagens, contextualizações de locais e insinuações narrativas.

No entanto, se a direção de Brändström e o trabalho de CGI me agradam bastante, junto da fotografia (escura nos momentos certos, vistosa quando necessário) e da trilha sonora suntuosa, não posso dizer o mesmo do roteiro de Justin Doble e Nicholas Adams. Primeiro que a linha do tempo e a composição de distâncias na série continua uma bagunça, considerando que a viagem de Númenor até a Terra-média durou algo em torno de um ou dois dias, o que é muito estranho e conveniente para a luta no vilarejo, e que também é decepcionante quando pensamos que a obra continua desperdiçando o potencial de uma narrativa de exploração.

Nem quero pensar muito em como esses eventos se encaixam com a construção da torre de Celebrimbor ou a migração dos pés-peludos que, em tese, se desenvolveram em meses. Além dessas questões temporais, o roteiro do seriado continua criando situações um tanto ridículas e infantis, como a “reviravolta” dos orcs saindo da floresta que critiquei antes ou então da forma que lidam com a arma que Adar rouba. Galadriel não verifica o artefato, nem mesmo durante o interrogatório do elfo maligno, e Arondir segue na mesma estupidez, o que diminui a qualidade de construção da cena até a ação de Waldreg na torre. Anéis de Poder é cheio dessas conveniências mal contextualizadas que me incomodam bastante.

Para o mérito dos roteiristas, porém, a troca de diálogos entre Galadriel, Adar e Halbrand tem diversas linhas interessantes, passando por mitologia com o passado do Elfo; pelo arco dramático de Galadriel em sua missão obsessiva; e também com mistérios e insinuações acerca do suposto Rei das Terras do Sul (seria ele o Sauron?). Nos poucos momentos de conversação do episódio, a história consegue progredir bastante e contextualiza novos desdobramentos antes de finalizar com chave de ouro com uma catástrofe que nos apresenta como essas terras se tornaram Mordor e o que acredito que seja a Montanha da Perdição. Depois de bons episódios e algumas enrolações, Anéis de Poder nos brinda com um grande clímax.

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X06: Udûn (The Lord of the Rings: The Rings of Power –1X06: Udûn) | EUA, 30 de setembro de 2022
Criação: 
J. D. Payne, Patrick McKay (baseado no universo de J. R. R. Tolkien)
Direção: Charlotte Brändström
Roteiro: Justin Doble, Nicholas Adams
Elenco: Morfydd Clark, Will Fletcher, Lenny Henry, Sara Zwangobani, Thusitha Jayasundera, Maxine Cunliffe, Dylan Smith, Markella Kavenagh, Beau Cassidy, Megan Richards, Robert Aramayo, Benjamin Walker, Ismael Cruz Córdova, Geoff Morrell, Nazanin Boniadi, Tyroe Muhafidin, Charles Edwards, Daniel Weyman, Owain Arthur, Sophia Nomvete, Peter Mullan, Joseph Mawle
Duração: aprox. 60 min.

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