Home TVEpisódio Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X07: O Olho

Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X07: O Olho

Revanche.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, de todo nosso material de Senhor dos Anéis.

O Olho abre imediatamente após a erupção da Montanha da Perdição no clímax de Udûn, acompanhando os personagens que sobreviveram tendo que lidar com as ruínas das Terras do Sul. É uma sequência inicial muito bem dirigida pela diretora Charlotte Brändström, criando todo um senso de devastação e desorientação do caos com sequências genuinamente apocalípticas. Temos a clássica cena do cavalo pegando fogo, personagens cobertos de cinzas ou queimados e uma paisagem infernal tingida de vermelho.

A fotografia é flamejante, o design do cenário destaca muito bem as ruínas do local e a cineasta flutua com cuidado pela assolação do evento. Me pareceu um indicativo de um ótimo episódio que nos prepararia para o clímax da season finale, mas, infelizmente, os roteiros fracos do seriado continuam atrapalhando. Muito do que vemos no restante do núcleo no episódio são diálogos de pessoas aflitas e atormentadas, algo dramaticamente interessante com um pai que perdeu um filho, uma rainha que perdeu uma batalha e uma guerreira que sente culpa, mas quase não temos um desenvolvimento da ação.

Este episódio é o seguimento de um evento cataclísmico. O começo indica que veríamos aqueles personagens lidando com as consequências disso tudo, mas o roteiro dá um material extremamente anticlimático para a cineasta trabalhar. Por exemplo, os Orcs aparecem em uma única cena e a sequência inicial de cinco minutos é a única que lida com o caos de uma forma visual e narrativa verdadeiramente caótica. Eu vejo tanto potencial desperdiçado aqui… de um episódio que poderia ter sido sobre sobrevivência, sobre persistência e sobre os riscos de estar num território do inimigo. Acabamos de ver uma catástrofe e o episódio todo é desprovido de suspense e de urgência para além da cena de abertura, o que me decepcionou imensamente.

Até mesmo a cena da “morte” de Isildur não tem impacto, pois qualquer pessoa que leu os livros ou que viu a trilogia do Peter Jackson sabe que o personagem ainda não morreu considerando seu papel na guerra contra Sauron – e, convenhamos, mesmo quem não sabia ou se lembrava disso, notou que aquela cena safada é só um pequeno cliffhanger para mostrar o personagem depois, e, bem, o roteiro vai ter que dançar muito para explicar como ele sobreviveu de forma plausível. Então, em linhas gerais, a erupção do vulcão serviu para nos contextualizar da criação de Mordor com uma baita sequência audiovisual, mas em termos práticos para a narrativa de Anéis de Poder parece ter servido apenas para a morte do desinteressante Ontamo, para nos brindar com um monte de cenas tediosas e para dar aos personagens principais um motivo de revanche.

Aliás, a ideia de contra-ataque é uma corrente no episódio. Vemos mais dois núcleos da série onde os mocinhos perdem, com os pés-peludos tendo seu acampamento destruído pelas figuras misteriosas que estão perseguindo o Estranho, e com Durin e Elrond tendo que acatar as ordens do rei dos Anões para não extrair o Mithril. É a clássica narrativa do Mal vencendo e o Bem tendo que contornar a situação em face da improbabilidade. Até gostaria mais dessa construção narrativa se as coisas em Anéis do Poder não fossem tão enfadonhas e sem escopo.

Os mistérios da série estão ficando arrastados neste ponto, sem resolver a identidade do Estranho ou explicar quem são aqueles perseguidores. Também desisti de aguardar algum senso de aventura épica na série – aliás, notaram que os segmentos são simultâneos com a destruição na floresta dos pés-peludos, significando que a migração deles duraram alguns dias… essa linha do tempo furada, viu. Temos OUTRO cliffhanger com Nori e companhia começando uma jornada, mas finalmente teremos uma história de desbravamento pela Terra-média? Duvido. E eu adoraria defender a lentidão narrativa do seriado em prol de desenvolvimento de personagens, mas não temos construção dramática dos pés-peludos ou do Estranho há muito tempo, e muito menos de qualquer um dos personagens no núcleo de Númenor-Terras do Sul.

O que novamente salva Anéis de Poder de cair na ruindade total é o núcleo de Khazad-dûm. A amizade de Durin IV e Elrond já se tornou um verdadeiro bromance em igualdade com o trio Legolas-Gimli-Aragorn. O drama entre dever e escolhas pessoais continua nutrindo o ótimo lado dramático da história e o relacionamento dos personagens, incluindo momentos verdadeiramente emocionantes e cheios de ternura. A discussão entre Durin IV e seu pai é o destaque do episódio, com mais tensão em palavras cortantes do que em qualquer cena nas Terras do Sul devastadas. O final também indica o começo da ganância dos anões por mithril, sendo que a aparição de Balrog acaba sendo mais uma premonição com fanservice do que um cliffhanger, além de mostrar outras figuras principais planejando um contra-ataque. Realmente espero que a revanche no episódio final da semana que vem seja mais interessante do que O Olho, um episódio que poderia ter sido um épico de consequências catastróficas, mas que continua resumindo a produção à protelações narrativas.

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X07: O Olho (The Lord of the Rings: The Rings of Power –1X07: The Eye) | EUA, 07 de outubro de 2022
Criação: 
J. D. Payne, Patrick McKay (baseado no universo de J. R. R. Tolkien)
Direção: Charlotte Brändström
Roteiro: Jason Cahill
Elenco: Morfydd Clark, Will Fletcher, Lenny Henry, Sara Zwangobani, Thusitha Jayasundera, Maxine Cunliffe, Dylan Smith, Markella Kavenagh, Beau Cassidy, Megan Richards, Robert Aramayo, Benjamin Walker, Ismael Cruz Córdova, Geoff Morrell, Nazanin Boniadi, Tyroe Muhafidin, Charles Edwards, Daniel Weyman, Owain Arthur, Sophia Nomvete, Peter Mullan, Joseph Mawle
Duração: aprox. 60 min.

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