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Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X03: Adar

Uma aventura de riscos.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, de todo nosso material de Senhor dos Anéis.

Gostaria de iniciar a crítica elogiando o trabalho da produção com a representação dos Orcs e de todo o mal à espreita na Terra-média. Desde aquela ótima sequência na casa da Browyn com o ataque do Orc vindo dos túneis, até o núcleo de Arondir neste episódio, o seriado tem passado para o telespectador a ameaça e a malignidade dessas criaturas com ótimas encenações, soberbo trabalho de maquiagem, simbologias (os momentos de luz queimando-os, por exemplo), interpretações repulsivas dos atores, e bastante violência (importante e nada gratuita nesse contexto, ainda que a luta de Halbrand seja outra história com imagens apelativas de sangue jogado na câmera e enfoque em quebra de ossos).

O Senhor dos Anéis sempre foi maniqueísta, então colocar em tela os Orcs como seres verdadeiramente ameaçadores, e não apenas números de um exército é uma escolha assertiva. A sequência que os Elfos tentam escapar do túnel é ótima nesse sentido, seja a sensação de desesperança nos olhos de Arondir quando seu amigo é morto a flechadas, seja o trabalho visual para evidenciar a destruição dos Orcs por ondem passam, além de ótimas coreografias e senso de periculosidade na ação. Existe uma sensação de grande perigo na história, algo bem transpassado pelo temor e as suspeitas de Galadriel desde o primeiro episódio. Eventualmente, o Bem vai vencer, mas não sem perdas e sem obstáculos, o que é tudo que peço: uma aventura com riscos e consequências.

Narrativamente falando, Adar flui melhor que os dois primeiros episódios. Apesar dos temas, mitologia, personagens e essência do seriado serem inspirados nos trabalhos de Tolkien, a estrutura da obra vem diretamente de Game of Thrones, com tramas paralelas sendo contadas em toda a geografia deste mundo – curiosamente, essa série lembra mais GoT nesse sentido do que seu próprio spin-off (importante ressaltar que estou falando apenas em relação a este elemento específico da forma de contar uma história). A montagem nos guia pelos núcleos através de imagens de mapas, enquanto a direção assume uma abordagem de “diário de viagem”, sempre ressaltando os cenários e o belíssimo design de produção da obra, principalmente em Númenor. Confesso que prefiro a ideia de uma única jornada que vai criando ramificações, e não uma variedade de tramas logo de início como aqui, mas faz sentido para uma narrativa serializada.

Estruturalmente falando, a grande diferença deste episódio para os dois primeiros é o número de blocos. Temos apenas três (Galadriel em Númenor; Arondir preso; e os pés-peludos), com o episódio deixando de mostrar os refugiados liderados por Bronwyn e seu filho Theo, ou Elrond e os anões. Isso faz com que a história respire, e haja mais espaço para desenvolvimento de personagens (todos muito carismáticos, especialmente o malandro do Halbrand) e progressão do enredo para além de introduções e estabelecimento de locais. Ainda assim, todas as sequências em Númenor sofrem com muitas explicações de mitologia e diálogos expositivos, com o roteiro prezando mais verbalizar as descobertas do que demonstrá-las.

Não tem jeito, não consigo sacudir o sentimento de que a jornada em Os Anéis de Poder ainda não começou, e que estamos vendo um grande prelúdio de contextos. A narrativa se move mais através da montagem do que com os personagens, em sua maioria estagnados em diversos cenários do que desbravando uma aventura ou explorando este universo, como a Nori tanto enfatiza. Também vejo isso na direção, mostrando shots panorâmicos mais para evidenciar a beleza de cenários e para criar uma espécie de tour visual pela geografia e paisagens deste mundo, do que verdadeiramente trazer uma intenção artística.

Por exemplo, Peter Jackson trouxe muitas dessas sequências na sua trilogia, mas sempre com algum intuito, como as cenas de Frodo e companhia que serviam para demonstrar um senso de descobrimento e escala; as sequências aéreas de Mordor que estabelecem a extensa malignidade do território (o mais próximo que a série conseguiu emular até agora); ou então a grande perseguição de Legolas, Aragorn e Gimli, em que as sequências de grandes paisagens estabeleciam a árdua tarefa do trio. Está faltando esse senso de maravilha para mim, de uma direção e uma narrativa trazendo a aventura em um papel ativo, como se estivéssemos embarcando junto com os personagens, e não apenas vendo cenários bonitos.

Para o mérito da produção, a cena com os pés-peludos migrando me passou a impressão de que a jornada finalmente começou, e que Nori poderá fazer sua tão sonhada exploração da Terra-média. E também preciso elogiar alguns mistérios aventureiros que o roteiro tem nos brindado, como o passado de Halbrand, a figura misteriosa com Nori (seria Gandalf ou talvez Saruman?), e, agora, a participação de Adar (Sauron?). Confesso que prefiro o antagonista em seu papel simbólico, mais de uma presença maligna do que um personagem em si, mas estaria mentindo se dissesse que o cliffhanger não me animou. O que esse episódio também faz muito bem é nos fazer conhecer os personagens, nos importar com eles e querer que sobrevivam, algo essencial para qualquer fantasia.

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X03: Adar (The Lord of the Rings: The Rings of Power –1X03: Adar) | EUA, 09 de setembro de 2022
Criação: 
J. D. Payne, Patrick McKay (baseado no universo de J. R. R. Tolkien)
Direção: Wayne Yip
Roteiro: Jason Cahill, Justin Doble
Elenco: Morfydd Clark, Will Fletcher, Lenny Henry, Sara Zwangobani, Thusitha Jayasundera, Maxine Cunliffe, Dylan Smith, Markella Kavenagh, Beau Cassidy, Megan Richards, Robert Aramayo, Benjamin Walker, Ismael Cruz Córdova, Geoff Morrell, Nazanin Boniadi, Tyroe Muhafidin, Charles Edwards, Daniel Weyman, Owain Arthur, Sophia Nomvete, Peter Mullan
Duração: aprox. 60 min.

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