Home TVEpisódio Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X04: A Grande Onda

Crítica | O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X04: A Grande Onda

Um Elfo diferente.

por Kevin Rick
3,6K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série, e, aqui, de todo nosso material de Senhor dos Anéis.

O episódio anterior termina com uma cena de migração dos pés-peludos, enquanto A Grande Onda finaliza a história com cidadãos de Númenor se voluntariando para uma viagem à Terra-média. Peço perdão pelo linguajar, mas estou cansado dessa narrativa de coito interrompido de Anéis de Poder, sempre insinuando que os personagens vão se mover em alguma direção, que vamos ter o início de uma jornada de aventura contra o mal, mas nunca executando. Quatro episódios dentro da temporada e ainda temos um roteiro de caráter introdutório? Não cara, os showrunners precisam fazer com que essa história comece a rodar. Mais de quatro horas para preparar o terreno da série é um exagero.

Não ajuda o fato de ser tão óbvio como os roteiristas estão tentando emular Game of Thrones, levando a série para uma direção mais falante, com muitos monólogos em um número limitado de cenários e com pouca deslocação das figuras do seriado, algo que não combina em nada com a natureza aventureira e épica deste universo. Essas conversas costumam ser expositivas e sem nuances, como nas interações pobres entre a rainha Míriel e Galadriel, que está me irritando demais com sua estupidez diplomática. Também noto aquele mesmo problema teatral que citei no primeiro episódio, algo mais enfatizado aqui pela direção de Wayne Yip, sempre em menor escala e menos visualmente atraente do que a pegada cinematográfica de J.A. Bayona nos dois primeiros episódios.

Também diferente do episódio anterior, A Grande Onda percorre muitos núcleos da história, o que não gosto tanto em termos de desenvolvimento e ritmo. Não vemos o bloco de Nori e do Estranho (há insinuação, porém, de que ele é Sauron, o que não gosto muito, pois prefiro o personagem em seu antagonismo intangível), mas circulamos todos os outros personagens apresentados na série, inclusive algumas tramas e novos personagens desinteressantes, como a historinha de flerte entre Eärien e o filho de Pharazôn, ou então o drama enfadonho de Isildur – inclusive com um bizarro e descontextualizado momento que ele escuta uma voz no horizonte chamando seu nome.

Outra ressalva que tenho é em relação à linha do tempo. É mais uma sensação de confusão do que um criticismo, porém. Aparentemente, a torre de Celebrimbor está quase completa, o que me faz questionar quanto tempo se passou entre À DerivaA Grande Onda, e há quanto tempo Galadriel está em Númenor. A cena inicial com Arondir sendo interrogado por Adar dá a entender que os episódios são quase sequenciais, mas então por que o trabalho de Celebrimbor com os anões se moveu tão rápido? Os núcleos da série não estão acontecendo simultaneamente? Temos outra narrativa atabalhoada como The Witcher? Não sou muito apegado a lógica em histórias, principalmente as fantásticas, mas um mínimo de coesão temporal é necessário.

Ademais, mesmo com tantas reclamações e receios, A Grande Onda ainda é um bom episódio com bons momentos. Existem três blocos aqui que gostei bastante: a ida de Theo ao vilarejo; os eventos em Khazad-dûm; e a aparição de Adar. Vou começar falando do Elfo misterioso, um vilão atípico para o universo de LotR em sua caracterização ambígua, motivações aparentemente distantes de um “puro mal” como Sauron ou de uma óbvia corrupção por poder como Saruman, e também um estranho afeto pelos Orcs (a cena que ele sacrifica um soldado à beira da morte é quase terna, o que eu nunca esperei em uma representação dessas criaturas nesse universo). O novo antagonista também traz alguns questionamentos sobre o passado dos Elfos e sua História que me soam curiosos de desenrolar, fora a ótima performance enigmática e restringida de Joseph Mawle.

Falando agora da pequena aventura de Theo, devo dizer que o pequenino tem me surpreendido e se tornado um personagem tão carismático quanto Nori. Ele parece ser o único indivíduo da série que faz algo e não apenas fica dizendo o que vai fazer, nos brindando com um pouco de risco na narrativa. Yip não tem a mesma característica de horror que Bayona trouxe na invasão do Orc no começo da série, mas gostei de como ele lidou com a tensão da fuga do garoto, filmando o momento em um plano-sequência em que o personagem vai se escondendo atrás de objetos, paredes ou vegetação, me lembrando sequências de videogame. Também gostei da cena em slow-motion na floresta, que, apesar de ser uma cópia menos criativa de momentos dirigidos por Peter Jackson, traz uma interpretação simbólica e menos de perigo à situação, com a luz e a trilha sonora subindo à medida que o Bem escapa.

Já em Khazad-dûm mantenho os mesmo elogios que disse antes, com o roteiro abordando com muita graça e ternura a amizade entre Elrond e Durin IV, também sobrando carisma na interpretação dos atores no bloco, principalmente a divertidíssima princesa Disa. Aprendemos um pouco mais sobre a cultura e os costumes dos anões (adoro mitologia construída organicamente, sem personagens explicando as coisas), e também vemos respostas em relação ao que estava sendo encontrado nas minas (mithril) e as intenções gananciosas do rei dos anões, progressões que muito provavelmente trarão bons dramas e desdobramentos para a amizade entre o Elfo e o príncipe Anão.

No mais, A Grande Onda ainda se mostra decepcionante para mim. Mais um episódio estagnado, de estilo introdutório e de arranjo para a narrativa da série, com outro desfecho que deixa a sensação de “e agora vai?“. Sem falar de uma quantidade desnecessária de personagens e núcleos a serem desenvolvidos (precisávamos mesmo de tanto foco nos filhos de Elendil?). Pareço disco arranhado, eu sei, mas mantenho meu posicionamento de que o seriado continua deficiente em adaptar a essência de LotR que é a exploração, o senso de descobrimento e de embarcar numa grande jornada. Ainda assim, existem bons desenvolvimentos de personagens, boas sequências da direção, alguns mistérios e muito carisma para render um bom episódio no cômputo geral.

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – 1X04: A Grande Onda (The Lord of the Rings: The Rings of Power –1X04: The Great Wave) | EUA, 17 de setembro de 2022
Criação: 
J. D. Payne, Patrick McKay (baseado no universo de J. R. R. Tolkien)
Direção: Wayne Yip
Roteiro: Stephany Folsom
Elenco: Morfydd Clark, Will Fletcher, Lenny Henry, Sara Zwangobani, Thusitha Jayasundera, Maxine Cunliffe, Dylan Smith, Markella Kavenagh, Beau Cassidy, Megan Richards, Robert Aramayo, Benjamin Walker, Ismael Cruz Córdova, Geoff Morrell, Nazanin Boniadi, Tyroe Muhafidin, Charles Edwards, Daniel Weyman, Owain Arthur, Sophia Nomvete, Peter Mullan, Joseph Mawle
Duração: aprox. 60 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais