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Crítica | O Sétimo Dia (2021)

por Leonardo Campos
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Com diversos elementos narrativos familiares ao campo dos filmes de exorcismo, O Sétimo Dia é uma narrativa que possui traços de horror com pitadas generosas de drama familiar. Enquanto assistia, me remeti ao que o pesquisador José Lucas Cordeiro, no XII Encontro Estadual de História do Ceará, realizado em 2012, expôs sobre a figura do diabo ter como principal função, nos levar à tentação, fazer com que nós inflijamos à ordem, ceder aos pecados, entregar as nossas almas ao inferno, nos afastar de Deus e para isso ele toma o corpo como sua ferramenta de corrupção. Na apresentação intitulada As Marionetes do Diabo: as Representação de satã no corpo na Idade Moderna, o historiador afirma que o corpo é a principal fonte para a suposta manifestação do mal, pois, através dele, vemos diariamente nos meios religiosos espetáculos de cura com a saída do encosto diabólico.  Aqui, no irregular O Sétimo Dia, o corpo humano será receptáculo para as forças do mal. E não é apenas um individuo submetido pelo maligno. Os planos infernais da figura indesejada e temerosa são astutos e desejam coletividade.

Assim, ao longo de seus 87 minutos, acompanhamos um inventário de situações que já conferimos em outras produções do subgênero: há a criança possuída, o exorcismo que não deu certo, a figura de uma idosa assustadora, o tabuleiro Ouija, um padre em busca de redenção, outro à procura de se estabelecer no campo de atuação dos exorcismos, etc. Na trama, Peter (Guy Pearce) é um experiente sacerdote que vive constantemente em batalha contra as forças infernais que insistem em causar transtorno na terra. Ele funcionará como um mentor para o jovem padre Daniel (Vadhir Derbez), iniciante que precisará de força e muita fé para enfrentar as situações sobrenaturais em seu cotidiano depois que conhece Peter e começa a trabalhar com o exorcista. Será um momento de provações também, pois determinados acontecimentos o remetem para traumas não resolvidos em seu passado. Por falar em celeuma memorialística, Peter, o experiente e, nalguns trechos, arrogante, também tem as suas feridas, pois um exorcismo malsucedido transformou uma criança numa tocha em chamas, memória retratada logo na abertura do filme, antes de conhecermos o sacerdote na atualidade.

Assim, aparentemente, o personagem de Pearce vaga pela contemporaneidade, em busca de qualquer sinal do maligno nas situações terrenas mais banais. De Baltimore (passado) ao espaço urbano de Nova Orleans (presente), o filme dirigido e escrito por Justin P. Lange nos mostra os dois padres tendo que enfrentar outra coisa que vai além dos monstros sobrenaturais. Aqui, o roteiro investe na burocracia e na crítica aos representantes do catolicismo, forças tão opressoras quanto os “males do além”. É a Igreja, por sinal, a responsável por manter os personagens mais unidos adiante, haja vista a necessidade de enfrentar inimigos de toda ordem. A corrupção religiosa, uma insinuação de pedofilia e outras crises institucionais demonstram o interesse dos realizadores em manter o debate atualizado, mas a superficialidade adotada pela abordagem impede que o filme ganhe destaque nesta iniciativa. Assim, a crítica é apenas básica diante de algo que poderia ser ótimo e positivo para reforças as bases dramáticas da produção.

Ademais, O Sétimo Dia é o que a crítica gosta de chamar de “mais um filme de exorcismo”. Não traz nada de inovador, mas também não fere os princípios deste subgênero. É apenas um filme simples, sem grandes rompantes dramáticos, uma narrativa de entretenimento que flerta com elementos básicos do terror e envolvem o espectador sem se alongar muito, postura pretensiosa que poderia tornar a narrativa um tédio sem precedentes. O elenco experiente já esteve em trabalhos melhores, sendo o grande destaque, o desempenho de Brady Jennes como a criança possuída pelas forças diabólicas que na trama, querem dominar o máximo de corpos possíveis. Diante de um filme sobre exorcismo, não há como ficar indiferente ao design de som, aqui elaborado por Richard Adrian, trabalho que potencializa a razoável condução musical de Gavin Brivik, setor responsável por acompanhar as imagens eficientes da direção de fotografia de Nick Renny. Com iluminação sombria e tons envelhecidos, o setor ganha a colaboração do design de produção de David Moline, profissional que traz a habitual iconografia religiosa em meio aos elementos macabros do tema, reforçados pelos efeitos visuais de Brandon Christensen. No geral, uma equipe dedicada diante de um filme com resultados básicos, mas curiosos.

O Sétimo Dia (The Seventh Day – Estados Unidos, 2021)
Direção: Justin P. Lange
Roteiro: Justin P. Lange
Elenco: Guy Pearce, Keith David, Stephen Lang, Brady Jenness, Robin Bartlett, Vadhir Derbez, Acoryé Branco, Heath Freeman
Duração: 87 min.

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