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Crítica | O Suplício de Lady Godiva

por Guilherme Rodrigues
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A vida de Lady Godiva se mistura entre fato e mito. Apesar de ela realmente ter existido, sua memória persiste por meio de uma lenda, criada anos depois de sua morte. A lenda diz que a nobre cavalgou nua pelas ruas de Coventry, coberta somente por seus longos cabelos, para que os pesados impostos que seu marido, Conde Leofric, impôs sob a cidade. A cena se tornou inspiração para uma série de pinturas, estátuas e, é claros, filmes, como é o caso de O Suplício de Lady Godiva, dirigido por Arthur Lubin.

Mas o longa realiza algumas mudanças importantes a lenda, e um conflito socio-conjugal dá lugar a um conflito feudal entre Saxões e Normandos, e até transfere um pouco do protagonismo para Leofric (George Nader). Na produção, o rei da Inglaterra Eduardo , que forçar Leofric a se casar com uma mulher normanda, para selar um acordo diplomático. Mas o conde, por considerar as mulheres normandas frágeis demais, não deseja a união. Ao conhecer Godiva (Maureen O’Hara), ele se encanta com o gênio e beleza dela, e logo se casam, mas o matrimônio logo causa conflitos com o rei, e o espírito altivo de Godiva causa atritos com os hábitos machistas de Leofric. Esses eventos culminam com a famosa cavalgada, o titular “suplício” do título brasileiro.

O filme poupa e muito a imagem de Godiva, e dedica seus primeiros momentos a mostrar a relação de Leofric com a sua terra e súditos, e estabelecer os normandos como figuras antipáticas, tudo isso mediado pela relação destes com o ambiente. Se o conde tem boa relação com os pastores e lida com a natureza habilmente, os normandos mal conseguem se entender com ovelhas e a mera visão de um plebeu causa desmaios. Tudo com ares de comédia pastelão, com os normandos sendo definidos pelo seu terrível sotaque.

Como comédia leve, O Suplício de Lady Godiva funciona muito bem, especialmente por meio da figura da própria Godiva, que se destaca imediatamente no filme tanto pelo seu jeito de ser, como visualmente, sempre com figurinos e atos que a destacam daquele mundo, como na cena em que ela busca provar para Leofric que “não é uma mulher como as outras” e subitamente levanta troncos e arrasta mesas com facilidade, demonstrando sua fortitude. É um momento especialmente divertido, e quase toda cena em que O’hara está presente traz vida ao filme, e Lubin até sabe disso, já que até mesmo Leofric fica em segundo plano quando ela está presente, ficando quase sempre de costas para a câmera, com Godiva em destaque.

Mas mesmo a comédia é o que dá tom o filme, ele também se dedica muito a assuntos considerados sérios, como a iminente guerra entre os condes, mas que até chegar no conflito de fato, ocorre por meio de diversas cenas de homens em pé conversando. Não há nem ao menos muita preocupação em fazer os atores se movimentarem em cena, é como se Lubin tivesse simplesmente pedido para eles ficarem em um ponto do cenário e interpretassem sua falas.

Nessa divisão entre comédia e seriedade, sofre o que deveria ser o foco do filme: a lendária cavalgada nua de Godiva, que até tem o tom mais sóbrio apropriado para um momento tão difícil – não há trilha sonora, por exemplo – mas acaba pouco acrescentando ao resto da narrativa. Se o momento que deu origem ao longa pode ser retirado sem grandes problemas para o andamento da trama, temos um problema.

Ao fim de tudo, O Suplício de Lady Godiva acaba por não fazer jus ao momento icônico que deseja retratar. Ao invés de uma cavalgada digna de lendas, temos uma comédia água com açúcar que até diverte momentaneamente, e nada mais que isso.

O Suplício de Lady Godiva (Lady Godiva of Coventry – EUA, 2 de Novembro de1955)
Direção: Arthur Lubin
Roteiro: Oscar Brodney
Elenco: Maureen O’Hara, George Nader, Victor McLaglen, Edward Franz, Leslie Bradley, Henry Brandon, Grant Withers, Clint Eastwood
Duração: 89  min.

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