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Crítica | Tintim: O Templo do Sol

por Luiz Santiago
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Em O Templo do Sol temos a continuação e fechamento do arco iniciado em As Sete Bolas de Cristal, uma aventura de caráter étnico, por assim dizer, envolvendo costumes incas centenários e exploração do território peruano por Tintim, Milu, Capitão Haddock e o pequeno Zorrino, um índio vendedor de laranjas que é defendido por Tintim quando recebe maus tratos de dois homens brancos em plena rua.

A publicação de O Templo do Sol foi realizada na Tintim Magazine, entre setembro de 1946 e abril de 1948. Essa mudança de mídia permitiu a Hergé investir em uma série de desenhos mais amplos e grandes panorâmicas sobre as paisagens, o que tornou o álbum uma aventura incrível, praticamente uma expedição de poucos recursos por entre montanhas, florestas, picos gelados e águas, tendo ainda um grupo de índios vingadores no encalço dos mocinhos.

Apenas no desfecho da história perceberemos que a intenção de Hergé não era fazer dos índios um grupo de vilões, mas de defensores de sua cultura milenar, mesmo que em um lugar bem escondido e de conhecimento raro. Mesmo que durante toda a aventura observemos a tentativa dos nativos em boicotarem Tintim e Cia., a explicação final é antropologicamente justificável, até porquê, convenhamos, exploradores nunca se contentaram em apenas registrar o conhecimento de um grupo ou de alguma coisa. A ciência é assim, e os índios, já tendo percebido isso, faziam de tudo para manter tais “sábios” afastados.

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A história começa com Tintim e Haddock no Peru (em um mapa que se confunde com parte do Equador), avisando ao Comissário de Polícia sobre a chegada de um navio e a presença do Professor Girassol a bordo. O plano de resgate é simples e parece que vai dar certo, mas uma série de eventos bem construídos pelo autor desviam os protagonistas de seus caminhos e intentos, o que vai culminar na longa caminhada até o Templo do Sol, a sentença de morte e o uso da ciência (nesse caso, a previsão de um eclipse) para resolução do caso.

Em já avençada trama, eu imaginava que a caminhada dos exploradores internados em um Hospício ficaria sem explicação, assim como as tais bolas de cristal e os eventos que as envolviam. Mas Hergé sabiamente deixou para amarrar essas pontas ao final da aventura, preocupando-se em apresentar uma história de caráter inovador, um complemento da aventura mas com coisas inéditas, não apenas uma sequência pontual e diretamente ligada aos mistérios do templo. É evidente que, no sentido narrativo-literário, isso não é nada perdoável, mas nos quadrinhos, e especialmente nessa história, foi realizado com precisão pelo autor.

Apenas o tratamento dado aos Dupondt me incomodou um pouco, e talvez a participação do Professor Girassol, que mesmo após sair dos efeitos do narcótico, parece meio sedado, lento demais, um pouco escanteado, mesmo para um personagem coadjuvante. Os detetives ficam bobinhos quando passam a usar o método de Girassol para encontrar Tintim e Haddock, indo com o pêndulo para diversos lugares do mundo. Ao mesmo tempo que é engraçado, parece infantil demais, principalmente porque Hergé já havia dado importância e inteligência suficientes aos atrapalhados detetives para evitar que fizessem esse tipo de papel em histórias anteriores. Mas fora esses dois pontos, a trama transcorre sem maiores problemas e com um sabor de aventura todo especial.

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Em 2001, o compositor Dirk Brossé e os roteiristas Seth Gaaikema e Frank van Laecke criaram o musical TintimO Templo do Sol (KuifjeDe Zonnetempel), uma peça em dois atos baseada exatamente nesse arco de histórias pela América do Sul. A estreia foi em alemão, na Antuérpia (a segunda maior cidade da Bélgica), sendo depois traduzida para o francês. Eis mais uma prova de que a obra de Hergé pode ser adaptada para diversas linguagens e assim alcançar diversos públicos. Coisa de obra universal.

  • Crítica originalmente publicada em 9 de outubro de 2013.

Le Temple du Soleil (Bélgica, 1946 – 1948)
Publicação original: Tintim Magazine, 26 de setembro de 1946 a 22 de abril de 1948.
Publicação encadernada original: Casterman, 1949
No Brasil: Companhia das Letras, junho de 2007
Roteiro: Hergé
Arte: Hergé
64 páginas

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