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Crítica | O Tesouro de Sierra Madre

por Rafael W. Oliveira
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Já próximo do final de O Tesouro de Sierra Madre, dois bandidos mexicanos se preparam para encarar a lei local, ou a falta dela, punidos com balas pelos seus crimes. Um deles reclama do calor. O outro, então, rebate “Não adianta reclamar, estamos a caminho do inferno mesmo!”. E é essa a sensação que este grande filme de John Huston provoca em nós: estamos todos a caminho do inferno neste mundo em que a ganância precisa apenas de uma faísca para se transformar em chamas.

Fred C. Dobbs (Humphrey Bogart) e Bob Curtin (Tim Holt) são dois mendigos que vivem na cidade mexicana de Tampico, sobrevivendo com esmolas dadas pelos conterrâneos americanos. Após serem enganados pelo patrão de um trabalho árduo, conhecem um velho garimpeiro chamado Howard (Walter Huston, pai do diretor, em grande atuação), que lhes atiçam a ideia de arriscarem a sorte à procura de ouro. Como não tinham muito a perder – acabariam voltando à mendicância quando o dinheiro recuperado, depois de alguns socos no patrão, acabasse – resolveram topar a parada e partem rumo às montanhas mexicanas, locais pouco desbravados, onde a probabilidade de encontrar algo seria maior.

E, de fato, os três miseráveis encontram a “areia valiosa” e permanecem no local por quase um ano para a exploração. Mas a desconfiança entre eles aumenta à medida que mais ouro é descoberto. E essa desconfiança evolui para paranóia, principalmente no personagem de Humphrey Bogart – que brilhante atuação! – que passa noites sem dormir para que nenhum dos “companheiros” roube sua parte e dê o fora. Quando o velho Howard se ausenta para salvar a vida de uma criança indígena, os dois amigos – se é que podemos chamar disso ainda – ficam cara a cara com o ouro entre eles. “Aposto 1O5 mil dólares como você vai dormir antes de mim”, desafia Humphrey Bogart, soltando gargalhadas que dão calafrios na espinha. E ficam os dois sem pregar os olhos durante horas no momento mais tenso do filme.

Paul Thomas Anderson revelou que assistiu a O Tesouro de Sierra Madre toda noite antes de iniciar a filmagem de Sangue Negro. Nada mais inteligente da parte de um dos melhores diretores da atualidade. Isso porque poucos filmes mostram com tanta intensidade o processo de desconstrução da personalidade humana como essa obra-prima de 1948 – é, inclusive, um dos meus filmes preferidos – em que a ganância, desconfiança e a consciência, ao mesmo tempo em que cegam os seres humanos, revelam o que há de mais obscuro nas nossas personalidades. Como diz o personagem de Walter Huston, talvez sejamos todos fantoches em uma peça pregada por algo – o Senhor, o destino ou a natureza. E quem quer que seja, tem muito senso de humor.

O Tesouro de Sierra Madre (The Treasure of the Sierra Madre) – EUA, 1948
Direção: John Huston
Roteiro: John Huston, baseado em livro de B. Traven
Elenco: Humphrey Bogart, Walter Huston, Barton McLane, Tim Holt, Bruce Bennett, Alfonso Bedoya, Martin Galarraga, Pat Flaherty , Robert Blake
Duração: 126 min.

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