Como disse na crítica de O Troll da Montanha, o longa é um inofensivo festival de “copia e cola” de clichês de filmes de mostro com ingredientes da simpática mitologia nórdica sobre os trolls que, daquele seu jeito pouco exigente, acaba divertindo. Na continuação lançada três anos depois que traz de volta Roar Uthaug na direção e Espen Aukan no roteiro, além de todo o elenco principal, a produção consegue ser ainda mais cara de pau e faz um “copia e cola” da primeira aventura, um verdadeiro autoplágio, seguindo exatamente a mesma estrutura anterior e o mesmo tipo de ambição de continuações hollywoodianas que exige o mais do mesmo, só que pelo menos dobrando a meta. E é exatamente isso que Uthaug e Aukan fazem quando colocam em tela não apenas um, mas dois trolls gigantes, esperando que isso seja atrativo suficiente para que os espectadores sentem para ver praticamente a mesma coisa novamente.
A história mais uma vez faz com que a paleontóloga Nora Tidemann (Ine Marie Wilmann), agora uma versão (ainda) não tão ensandecida de seu pai que acreditava piamente nos trolls, sendo convocada por seu amigo Andreas Isaksen (Kim Falck), que continua trabalhando para o governo norueguês, só que para o novo primeiro-ministro que é tão idiota quanto a anterior, para conhecer uma instalação secreta que conta com um troll congelado e que, até pouco tempo, era segredo até para as autoridades. Não demora absolutamente nada e pela mágica operação do “porque sim”, a própria Nora acaba acordando a criatura de seu torpor milenar e ela, ato contínuo, sai destruindo tudo em seu caminho na direção de outra cidade do país, Trondheim, que fora a capital há mil anos e que conta com uma magnífica catedral onde o Santo Olavo, rei cristão que existiu de verdade e que, na história, massacrara os trolls em um expurgo cristão, teria sido enterrado. Formando a equipe central, Kristoffer Holm (Mads Sjøgård Pettersen), agora major, retorna para ajudar e a diretora da instalação secreta, Marion Rhadani (Sara Khorami), vai junto para não fazer absolutamente nada de útil a não ser tornar-se o interesse amoroso de Kris.
Como disse, a continuação é um plágio do primeiro filme em basicamente tudo, então o espectador pode esperar a mesma sucessão de eventos, sucessão essa que mal é alterada pela presença do segundo troll, este de conhecimento de Nora, já que ele é um completo desperdício de computação gráfica, com o roteiro completamente perdido sobre o fazer com esse outro gigante. É como se ele não existisse, na verdade. Aliás, indo além, diria que, apesar de duas criaturas enormes que apontam para um filme mais ambicioso, a grande verdade é que O Troll da Montanha 2 parece bem mais acanhado, bem mais econômico e, com isso, acaba desobedecendo a regra hollywoodiana de que continuações devem ser mais explosivas, mas sem aproveitar essa oportunidade de ouro para criar uma narrativa melhor. Nada realmente funciona de verdade aqui, nem mesmo a inserção da mitologia que gravita ao redor de Santo Olavo e muito menos os personagens humanos que são versões muito mais aguadas dos já pouco desenvolvidos originais.
Em outras palavras, o filme não consegue nem mesmo ser aquele tipo de continuação que oferece doses cavalares de dopamina ao espectador diante do frenesi imparável de pancadaria e explosões. Ao contrário, é sensível a lentidão da história apesar da duração quase idêntica ao filme anterior, além do inchaço de referências à cultura pop para substituir a necessidade de o roteirista criar algo próprio, com um mínimo de gravidade. Uthaug não entrega ação suficiente, mas também não leva o espectador por uma jornada de qualidade com seus personagens, sejam eles humanos ou não, deixando o filme em um desconfortável limbo em que não há nem o espetáculo que aprendemos a esperar de continuações de películas desse tipo – ainda que o CGI, no pouco que é usado, seja eficiente – e nem o tipo de cuidado narrativo que toda a continuação que se preze deveria ter. Chega a ser inacreditável o uso que é feito do segundo troll, assim como é inadvertidamente hilário ver exatamente as mesmas teclas de antes sendo despudoradamente batidas mais uma vez. Aliás, estranhamente, o pouco da comicidade bobinha que o primeiro filme tinha desaparece quase que por completo aqui ou, quando aparece, não funciona, fazendo com que pareça que a produção está pedindo ao espectador para levá-la a sério, o que é desconcertante, sendo bem sincero.
Não sou amigo de continuações, mas já há muito tempo aprendi que esse “instituto” é um mal necessário que por vezes gera coisa boa. Infelizmente, esse não é o caso de O Troll da Montanha 2, que não passa de uma cópia borrada do filme original que, por sua vez, já era uma colcha de retalhos safada de tudo aquilo que está no Manual de Filme de Monstro. Apesar de não ser uma trollagem completa, o filme não parece fazer nenhum esforço para entregar algo que justifique sua existência. E ele ainda tem a desfaçatez de deixar outro final aberto para mais um capítulo da “saga”…
Obs: Venho novamente, de coração, agradecer ao nosso troll Luiz Santiago por ter cedido uma fotografia dele de férias em uma estação de esqui para ilustrar a presente crítica.
O Troll da Montanha 2 (Troll 2 – Noruega, 1º de dezembro de 2025)
Direção: Roar Uthaug
Roteiro: Espen Aukan (baseado em história de Roar Uthaug e Espen Aukan)
Elenco: Ine Marie Wilmann, Kim Falck, Mads Sjøgård Pettersen, Dennis Storhøi, Sara Khorami, Karoline Viktoria Sletteng Garvang, Gard B. Eidsvold, Thea Borring Lande, India Johanna Mydske, Ingrid Vollan, Hunden Solo,Jon Ketil Johnsen, Aksel Almaas, Trond Magnum
Duração: 105 min.
