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Crítica | O Truque Final

por Luiz Santiago
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estrelas 4

O artista checo Jan Švankmajer é o maior diretor europeu de animações surrealistas e com certeza um dos maiores do mundo. Sua influência na carreira de outros cineastas como PES, Tim Burton e Terry Gilliam é assumida por esses realizadores tanto na escolha que fazem dos temas para os seus filmes, quanto no modo fantástico com que trabalham cada uma dessas escolhas.

Švankmajer estudou na na Academia de Belas Artes de Praga e, de lá, após debruçar-se sobre o teatro de marionetes, passou a dirigir peças e produzir espetáculos para o Teatro de Máscaras, uma de suas primeiras influências imagéticas e trabalho com o espaço, o que levaria futuramente para o cinema. No Teatro Lanterna Mágica de Praga, Švankmajer trabalhou com mídias mistas, aliando projeções com encenações, e foi aí que se deu o seu primeiro contato com a sétima arte. Os curtas-metragens que iria dirigir dali para frente contaria com suas esculturas, desenhos e concepção surrealista, colocando-o na vanguarda do gênero.

Sua primeira realização foi o curta-metragem O Grande Truque (1964), o “embate final” entre dois grandes mágicos. Cada um procura superar o outro em seus truques, e a polidez e o reconhecimento de um em relação ao outro se torna cada vez mais efusivo e violento, até a sequência em que se anuncia uma tragédia mortal. O diretor usou dois bonecos humanos com “máscaras” de madeira para darem corpo aos dois mágicos, o Sr. Edgar e o Sr. Schwarzwald.

Desde o início do filme nos impressionamos com o uso picotado que o diretor faz da música-tema, intercalando-a com sons das mais diversas fontes enquanto apresenta os créditos inciais, também de forma muito criativa, escritos em paredes e solas de sapato. Não só a estranheza em relação a esse tipo de experiências auditiva, mas o seu acompanhamento nada comum através de fontes visuais já nos mostra o mundo surreal criado pelo diretor.

O uso do stop motion aparece durante os truques dos mágicos, mas além dessa técnica temos um trabalho aplaudível de edição, fazendo não só a incursão muitíssimo rápida de cenas e sequências para acompanharem sons de maquinários trabalhando, como também a divisão da tela em dois ambientes de exercício cênico (como a cena das engrenagens da máquina e o rosto do mágico). O ritmo do filme é levado dessa maneira muito eficiente, alternando os planos mais longos feitos em plano geral no palco onde acontece a disputa, para primeiros e primeiríssimo planos nos objetos manipulados por ambos, seus “interiores”, e o processo mecânico que produz a tal mágica.

Visão diferente sobre o mudo do ilusionismo, O Último Truque é um divertido exercício com a magia do próprio cinema, usando como elementos os próprios objetos do cenário, lembrando que os próprios mágicos também são o cenário do filme — porque em seu interior acontecerem e se armazenarem uma série de coisas. A repetição do mesmo espaço cênico, a música recorrente – embora bem usada – e as poucas alterações no ritual para as mágicas tornam, em certa medida, o filme um pouco cansativo. Mas isso não é algo que fere a genialidade e graça desse primeiro curta de Jan Švankmajer, um curta simples em sua concepção, mas muito bem dirigido e muito original.

O Truque Final (Poslední trik pana Schwarcewalldea a pana Edgara, Checoslováquia, 1964)
Direção: Jan Švankmajer
Roteiro: Jan Švankmajer
Duração: 12min.

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