Home LiteraturaAcadêmico/Jornalístico Crítica | O Último Turno, de Stephen King

Crítica | O Último Turno, de Stephen King

por Leonardo Campos
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Stephen King é considerado como um dos maiores mestres da literatura de horror contemporânea. É uma figura que escreveu sobre tantas temáticas que a catalogação de sua obra é um exercício crítico amplo para biógrafos do campo em questão. Entre histórias sobrenaturais e situações de medo físico, o autor de grande talento para o exercício do conto, em detrimento de seus romances enfadonhos, versou sobre os ratos como criaturas malignas, desastres da natureza que causam horror e morte no asqueroso e apavorante O Último Turno, conto que integra a coletânea Sombras da Noite, narrativa breve e dinâmica que inspirou o irregular A Criatura do Cemitério. Na trama, limpar os porões de uma fábrica têxtil situada numa região interiorana pode ser uma opção para a falta de oportunidades de emprego ofertadas aos trabalhadores locais, no entanto, os segredos do lugar são terríveis e é bem possível que após entrar no recinto para a limpeza, dificilmente a pessoa sairá de lá para rever o sol nascer. Provavelmente horror maior não há e o conto é um dos mais inquietantes do conjunto de 506 páginas desta publicação lançada em 1990 por aqui.

Este primeiro livro de contos de Stephen King, autor que em meu ponto de vista, funciona bem como fornecedor de argumentos para excelentes filmes no cinema, mas equivocados desenvolvimentos na prosa literária, traz narrativas sobre a relação da humanidade com acontecimentos que podemos chamar de “horríveis”. São situações físicas e sobrenaturais extremas, sempre a colocar os seus personagens em zonas limiares angustiantes, como o caso de O Último Turno, conto sobre uma horda de ratos que atuam como criaturas praticamente selvagens, agressivas e horrenda, animalescas em seu apetite por sangue e carne humana. A história se inicia por volta das duas da manhã. O narrador menciona as dificuldades de se trabalhar na fábrica em questão durante o turno que ia de três as onze. O calor era insuportável, o aspecto sujo também não agradava, mas nada era pior que os ratos, criaturas que conforme a descrição, eram imensas, barrigudas, com olhos raivosos e corpos piolhentos, cheios de vermes.

Stephen King capricha na descrição fétida dos roedores e a tradução de Maria Leonor Machado é minuciosa ao tomar o texto original de 1978 e apresenta-lo ao leitor brasileiro na edição da Bertrand, luxuosa em sua capa, diagramação e volume. O porão, como descrito no conto, é um lugar úmido, escuro, repleto de aranhas e tecidos podres abandonados, além da quantidade exorbitante de limo do rio próximo e até mesmo a presença perigosa dos morcegos, também transmissores de doenças. Sem diálogos filosóficos e uma história de fato surpreendente, O Último Turno é um conto de excessos, com situações grotescas potencialmente eficazes na descrição para se transformar em produto audiovisual. Os realizadores de A Criatura do Cemitério, em especial, o design de produção e seus subsetores (direção de arte e cenografia) ganharam bastante do autor na pormenorização de detalhes para a construção da versão cinematográfica da história sobre o encontro abrupto de humanos e ratos numa fábrica apodrecida em seus espaços de circulação dos profissionais exauridos diante das péssimas condições de execução do trabalho.

O herói da narrativa é Hall, homem que topa a empreitada por convite de seu amigo Warwick. A proposta de ganhar dois dólares por hora nesta missão, uma semana antes do feriado de 04 de julho, é a melhor opção para o personagem sem outras possibilidades de escolha. Responsável por operar a máquina desbastadora de fibras, engenhoca que rendia alguns trocados para esta fábrica quase falida de Cleveland, ele é o que chamamos de nômade, sem namorada e vínculos sentimentais em sua trajetória nos últimos anos. Solitário, vê na oportunidade de trabalho um caminho para continuar a sua vida sem problemas, sobrevivendo apenas do essencial. O que ele não esperava, no entanto, era encontrar ratos monstruosos que não viam um feixe sequer de luz há eras e cegos como toupeiras, chegavam a medir quase um metro de altura. A sua rainha, macabra e também gigantesca, não tinha as pernas porque o peso não era suportava. Ela é quem gerencia o caos dos roedores que tocam o terror na região e deixarão os personagens numa situação que eles jamais esquecerão para o resto de suas vidas. Gráfico e eficiente, O Último Turno é uma narrativa de horror dinâmica, funcional e só peca pelo exagero da situação grotesca. Ademais, se esquecermos os exageros, atmosfera sombria rende uma leitura inquietante.

O Último Turno (Graveyeard Shift/EUA, 1978)
Autor: Stephen King
Tradução: Maria Leonor Machado
Editora no Brasil: Bertrand
Páginas: 506

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