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Crítica | O Verão da Minha Vida

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Famílias disfuncionais cedem material de sobra para roteiros de filmes e séries de TV, a maioria deles com alguma particularidade nova de abordagem e alguma coisa interessante para mostrar. O foco varia de obra para obra, podendo ser nos pais e suas complexas relações de casal (o amor, a paixão e temas afins são abordados tanto na velha quanto na nova geração em filmes desse tipo); ou nos filhos, que sofrem as consequências geralmente negativas de não terem pais ou uma vida familiar considerada normal. Daí variam as reações, a narrativa fílmica e o tipo de “efeito amadurecimento”, uma regra quase universal para esse tipo de película, mesmo quando se trata de famílias disfuncionais com pessoas já adultas, basta lembrarmos de obras tão distintas quanto A Outra História Americana ou mesmo Obsessão (2012).

O Verão da Minha Vida, que marca a estreia de Nat Faxon e Jim Rash na direção, se vale do conceito de famílias disfuncionais para apresentar uma comédia simpática sobre um garoto que vai passar uma temporada com a família na praia e se vê diante de uma realidade e um cotidiano absurdamente opressivo e doentio.

Os estereótipos das personagens principais não são desconhecidos do público, mas dentro da realidade do filme, têm um fôlego novo. Faxton e Rash, que já tinham escrito e sido premiados com um Oscar por um roteiro cuja história se passa genericamente no mesmo ambiente que O Verão da Minha Vida, fazem um trabalho bárbaro ao acompanhar o verão de Duncan. Sem arroubos românticos e superações forçadas, os roteiristas e diretores apostam em uma comédia realista, onde as mudanças ocorrem apenas nos pontos que naturalmente ocorreriam se determinadas situações acontecessem na vida real. Assim como em Os Descendentes, verossimilhança é a palavra de ordem para a sequência da história e é aí que reside toda a graça e simpatia do filme.

Num ambiente de sol, gente bronzeada, música alegre e estampas florais, fica difícil contar uma história de atmosfera densa, quase existencialista, um tipo de comédia dramática que funciona sob suas próprias regras. Mas os diretores se saem bem nessa empreitada. Como Duncan é a linha central do filme, a visão que temos do mundo vem a partir dele, e toda a insegurança, descobertas e insatisfação típicas de um garoto de 14 anos são claramente perceptíveis no decorrer da fita, sentimentos que são intensificados pelo incógnito personagem de Steve Carell, pela mãe descuidada do filho interpretada por Toni Collette, e pelos vizinhos não muito normais. Dessa salada de personalidades, surge o impulso da fuga para o protagonista, e é assim que ele descobre o parque aquático gerido por Owen, personagem de Sam Rockwell.

Como os diretores não usam de muitas características estéticas para demarcar cada momento na estadia de Duncan e as mudanças que ocorrem nele e em seu entorno, é preciso ficar atento ao roteiro, que pela recusa em tornar as coisas açucaradas, pode enganar muita gente. Há espectadores que só conseguem ver evoluções narrativas no filme ou psicológicas em uma personagem se eles se encontram visivelmente em uma situação diferente de onde estavam no início da história. Porém não é isso que acontece com Duncan, ou mesmo com sua mãe, pelo menos não declaradamente. Todavia, as mudanças são visíveis em suas almas, e o tal “fator amadurecimento” que eu citei no início, é a pista que precisamos para entender melhor o final. Numa sequência de mudanças mais internas que externas, vemos as personagens tomarem rumos diferentes na reta final do filme.

Dentro de uma abordagem fortemente realista, percebemos que o maior interesse dos diretores foi mostrar uma parte do cotidiano de um verão e o momento onde as coisas começam a mudar, mas o que vem depois daí não nos é mostrado. Essa falta incomoda um pouco, mas não torna o filme ruim por isso. É claro que um papel melhor da trilha sonora e desenho artísticos enriqueceriam bem mais a obra, contudo podemos considerar o modelo estético aqui utilizado como parte do realismo de todo o roteiro, portanto, distante de floreios visuais.

O Verão da Minha Vida conta com um elenco maravilhoso, e até Steve Carell, que não acho um ator de alcance cômico/dramático sequer mediano, faz uma boa aparição, interpretando um padastro que é mais um ponto de interrogação do que alguém com uma personalidade desprezível ou coisa que o valha, o que às vezes nos deixa sem saber exatamente o que pensar sobre ele – um ponto positivo grandioso do filme. O jovem ator Liam James constrói um personagem que só pode ser definido em superlativos. Contido, mas ao mesmo tempo bem expressivo, seu Duncan é o típico adolescente de pais atrapalhados e vida cheia de dificuldades. Toni Collette e Allison Janney estão maravilhosas, trazendo duas faces e duas personalidades completamente distintas para a obra, os pontos cômicos e depressivos que cimentam todo o resto.

Mesmo com alguns vazios incômodos, O Verão da Minha Vida é um filme que vale a pena ser visto e tenho certeza que vai representar a adolescência de muitos espectadores, nem que seja nos artifícios de fuga de uma realidade nada legal para alguém em fase de desenvolvimento, algo que em maior ou menor grau, fez parte da vida de todos nós.

O Verão da Minha Vida (The Way Way Back) – EUA, 2013
Direção: Nat Faxon, Jim Rash
Roteiro: Nat Faxon, Jim Rash
Elenco: Steve Carell, Toni Collette, Allison Janney, AnnaSophia Robb, Sam Rockwell, Maya Rudolph, Liam James, Rob Corddry, Amanda Peet, River Alexander, Zoe Levin, Nat Faxon, Jim Rash
Duração: 103 minutos

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