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Crítica | O Verão que Mudou Minha Vida – 1ª Temporada

Simplesmente, um clichê adolescente.

por Felipe Oliveira
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Não muito tempo depois de ter uma de suas trilogias literárias de sucesso com Para Todos os Garotos que Já Amei adaptada em formato cinematográfico pela Netflix, Jenny Han avança em nova adaptação de sua primeira trilogia de livros sobre amadurecimento, O Verão que Mudou Minha Vida, agora em parceria com o Prime Video. Antes de apresentar Lara Jean no típico romance que versava sobre as primeiras paixões da adolescente, a característica escrita de Han trazia um coming of age focado num triângulo amoroso entre uma garota e dois irmãos, três amigos que se conhecem desde a infância, e esse momento é principalmente especial para Belly (Lola Tung) que, pela primeira vez, se permite viver a paixão que sente por Conrad (Christopher Briney).

Por isso, esse é o verão que mudou a sua vida, por finalmente vivenciar um sentimento que retém dentre muitas férias de verão ao lado de sua mãe Laurel (Jackie Chung) e o irmão Steven (Sean Kaufman), além disso, esse é o verão que Belly mudou, está crescida, parou de fazer tranças, tirou o aparelho dentário, óculos e não quer ser vista mais como a garota que é excluída das coisas e busca pela atenção de seu irmão, Conrad e Jeremiah (Gavin Casalegno), e sim, que agora é uma garota apaixonante, vai arrasar os corações. A premissa é bem simples, e endereça seu mote para falar de amadurecimento, mudanças, primeiros amores, amizade e família. Dessa forma, é curioso perceber como o show resgata uma atmosfera boba, por vezes brega e agridoce da fórmula dos romances teens sem culpa de usar da receita e ser só isso com um leve carisma. E a graça (ou seria a inércia personalidade?) é como Han, que também assina a criação da série, não tentou criar algum drama pessoal (o triângulo amoroso já é muita coisa) para somar à história de sua protagonista, optando por deixar os elementos comuns do gênero serem o que forma a característica principal da atração.

O intuito de The Summer I Turned Pretty foi ser uma série leve e conectiva, se apoiando e fazendo dos maiores clichês a sua essência. Se pararmos para observar, não há um momento em que se crie alguma substância para como o mundinho adolescente se desenrola, apenas identificamos a recorrência temática de idas e vindas que complementam o arco do triângulo amoroso, e essas peças naturalmente funcionam e encontram um jeito de driblar toda sensação de mesmice e superficialidade tornando a narrativa envolvente. Essa construção assertiva é percebida com maior realce com os personagens coadjuvantes que flutuam ao redor da bolha desastrosamente amorosa de Belly, que, afinal, deixa uma dúvida: quando essa história se tornou sobre um triângulo romântico?

Como isso, muitos detalhes e outras coisas surgem talvez seja a maior questão que aponta para a superficialidade da série, onde tudo está sempre bem encaixadinho nas regras desse mundo adolescente de classe rica, com pessoas que só querem ter seus sentimentos amorosos correspondidos. E por mais que esse traço vago seja em algum momento sentido nos desdobramentos dos arcos, a adaptação não deixa de transmitir uma cadência apreciável embora não entregue nada demais além do modelo característico do triângulo amoroso em que os protagonistas deste ciclo vão e vem, se apaixonam e se machucam, mas no final, o que fica, é onde a emoção é mais forte.

A aura ilusória que faz O Verão que Mudou Minha Vida transitar tão bem no seu código genérico sem se esforçar em outras nuances, talvez esteja atrelado ao cenário edênico de férias, com piscina, praia, drinks e pôr do sol que vestem esse conto de verão sobre uma garota que finalmente está vivendo grandes amores intensamente, nessa que mais uma de suas viagens anuais para Cousins Beach. O que destoa dessa vibe é quando se observa os elementos postos como ponte para criar o recorrente melodrama do gênero, sendo o principal recurso o baile de debutante da cidade, onde o evento é também famoso pela arrecadação de fundos, e claro, é centro do drama para quem será o acompanhante de Belly e só fica nisso mesmo. Não há problema algum em ser uma peça em prol do arco chave, mas é ponto que a série desperdiça a chance de desenvolver melhor os personagens que parecem estar sempre afetados pela dependência de aspectos mal construídos.

Um acerto que soa tão distante da ineficiente concepção da série com certeza está na amizade entre Laurel e Suzannah (Rachel Blanchard), a mãe dos irmãos apaixonados por Belly e dona da casa que serve de estadia para a viagem anual dos amigos. É um ponto tão delicadamente trabalhado, sensível e agradável que certamente poderia ser o escopo de The Summer I Turned Pretty, onde se veria muito potencial sendo aproveitado em vez do foco adolescente que não teve o mesmo tratamento. A doce cumplicidade e amor entre as duas faz parte de outro aspecto previsível que encontra o ápice no desfecho da temporada, mas que só pelo modo que foi trazido e interpretado por Chung e Blanchard, não perde o efeito e só faz pensar ainda mais se fosse uma história a parte em que só a amizade, romances fracassados e novos dilemas fossem o foco. Por sorte, a série consegue alcançar as notas que tornam sua premissa de clichês sobrepostos, trilha sonora com Taylor Swift e Olivia Rodrigo de alguma forma envolvente, ainda que não seja um verão tão marcante.

O Verão que Mudou Minha Vida – 1ª Temporada (The Summer I Turned Pretty – EUA, 2022)
Criação: Jenny Han
Direção: Erica Dunton, Jeff Chan, Jesse Peretz
Roteiro: Becca Gleason, Marty Scott, Gabrielle S. Stanton, Deborah Swisher, Speed Weed, Bayan Wolcott, Jenny Zhang
Elenco: Lulu Tung, Jackie Chung, Rachel Blanchard, Christopher Briney, Gavin Casalegno, Sean Kaufman, Alfredo Narciso, Minnie Mills, Summer Madison, Rain Spencer
Duração: 45 a 50 min (7 episódios, cada)

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