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Crítica | O Vingador da Iugoslávia

Premissa boa, execução terrível.

por Ritter Fan
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Aprendi pelo menos duas coisas no processo de assistir toda a filmografia de Jean-Claude Van Damme em ordem cronológica. A primeira delas é que a fase dos anos 2000 em diante, muito diferente do que dizem por aí, não é esse horror todo. Muito ao contrário, ela contém diversos – sim, diversos – dos melhores filmes da carreira do ator/lutador belga, com o problema dessa fase sendo muito mais de distribuição das obras do que qualquer outro. A segunda coisa que aprendi é que Van Damme, para ganhar um filme pelo menos passável, só precisa de uma direção minimamente competente. Quando há um diretor que pelo menos sabe de que lado fica o visor da câmera, o resultado costuma ser divertido e não irritante como muitas as obras estreladas pelo espacateiro-mor.

Infelizmente, O Vingador da Iugoslávia – título horrível, mas que é muito melhor do que o para lá de genérico Kill ‘Em All original – não tem um diretor do tipo que descrevi acima e, portanto, o longa é mais um que vai para a pilha de filmes intragáveis do belga. E fica bem evidente, aqui, que o problema está mesmo na direção, pois o roteiro escrito por Jesse Cilio, Brian Smolensky e Craig Stewart, basicamente uma história de vingança embrulhada em uma sucessão de reviravoltas em tese espertinhas, até que conta uma boa história e até que tem senso de progressão narrativa. No entanto, o desconhecido Peter Malota, mais um dublê que tenta diversificar a carreira migrando para a direção, não consegue colocar na lata a visão dos três roteiristas, o que acaba resultando em um filme daqueles intermináveis, cansativos, que chama atenção demais para seus penduricalhos – aqui basicamente um dilúvio de flashbacks variados em ordem quase aleatória, torturantes sequências em câmera lenta e montagem esquizofrênica – e esquece de criar uma linha narrativa empolgante.

O longa é propositalmente confuso em seu começo, com alguns homens chegando feridos a um hospital que só tem a ala de atendimento de emergência (certamente para economizar em extras e cenários) e a enfermeira Suzanne (Autumn Reeser) encarregando-se de ajudar um deles, que depois ela descobre ser Philip (Van Damme), que está em estado menos grave. O mistério estabelecido nos primeiros três minutos é até simpático, mas ele é logo quebrado por uma elipse que faz um fast forward para a mesma enfermeira sendo interrogada pelo Agente Holman (Peter Stormare), da CIA e pela Agente Sanders (María Conchita Alonso), do FBI. Tudo o que segue, daí, são os citados flashbacks que são complementados por mais flashbacks ainda para apresentar detalhes que não realmente precisamos saber sobre os vilões e sobre o contexto que tenta se aproveitar do genocídio ocorrido a partir da desintegração da Iugoslávia (daí o título em português) a partir do começo dos anos 90.

Malota não sabe economizar e tudo o que ele filma é lento e, ao mesmo tempo, vazio de informação. Quase tudo o que vemos é completamente oco, mal construído, com personagens recortados em papelão e um elenco uniformemente. Stormare é o melhorzinho deles simplesmente porque ele consegue fazer bem o estereótipo de canastrão, mas mesmo sua presença barbada é cansativa demais, devagar demais em tudo o que ele faz e pergunta para Suzanne que esmiúça sua estranha e mortal história ao lado de Philip no hospital. Em outras palavras, o que temos é um “interrogatório ilustrado” que se arrasta como um jabuti manco e que contém sequências de luta muito aquém do que Van Damme é capaz mesmo considerando sua idade à época do filme. E, com isso, as reviravoltas planejadas pelos roteiristas não encontram ritmo para serem introduzidas, sendo quase que literalmente marretadas nos momentos finais das maneiras mais pobres e didáticas possíveis, criando até mesmo uma correria desnecessária para encerrar a fita, o que demonstra de vez o descontrole de Malota sobre a decupagem.

O Vingador da Iugoslávia tem, ao seu favor, um embrião de uma boa ideia que até ganha alguma coesão pelo roteiro que, porém, muito claramente não precisava ter sido escrito por três pessoas. Mas é só isso mesmo, pois Peter Malota – perdoem-me a metáfora de mau gosto -, no lugar de oferecer nutrição de forma que o embrião possa desenvolver-se sadiamente, basicamente comete um aborto audiovisual e desperdiça todo e qualquer potencial que o filme poderia ter. Em mãos minimamente mais competentes, tenho certeza de que o resultado seria outro!

O Vingador da Iugoslávia (Kill ‘Em All – EUA, 2017)
Direção: Peter Malota
Roteiro: Jesse Cilio, Brian Smolensky, Craig Stewart
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Autumn Reeser, Peter Stormare, María Conchita Alonso, Daniel Bernhardt, Kris van Varenberg, Mila Kalađurđević, Paul Sampson, Kieran Gallagher, Peter Organ
Duração: 100 min.

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