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Crítica | Okko: O Ciclo da Água

por Luiz Santiago
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Okko - The Cycle of Water V1 #4 (de 4) -plano critico o ciclo da água e o ciclo da terra

Você já ouviu falar no Império do Pajão? Esta é a terra criada por Hub na saga Okko, que é divida em ciclos e que traz o olhar de um artista e escritor francês para o que é a cultura medieval japonesa. Para demarcar bem suas criações e poder cruzar o máximo de referências possíveis em sua série, o autor criou o “Pajão”, local onde vivem os seguintes personagens: Okko (ronin protagonista da saga, um respeitado caçador de demônios), Noburo (um espadachim gigante que está o tempo inteiro com o rosto coberto por uma assustadora máscara), Noshin (um monge bêbado, mas com boa relação com os deuses e grande senso de lealdade) e Tikku, um adolescente aprendiz, irmão da gueixa Pequena Carpa, que é raptada por misteriosos piratas no primeiro ato da trama, dando origem à caçada que Okko e seus amigos empreendem neste primeiro ciclo.

Hub  é o responsável pelo roteiro e pela arte aqui, além de co-assinar a aplicação de cores, que está ambientada no ano 1108 do Pajão, na chamada Era de Asagiri, o inquieto “Tempo das Névoas”. Representando de maneira muito interessante as lutas clânicas, a mitologia, a geografia e a forma de organização social do Japão, Hub se permite criar um Universo que assumidamente traz influências de obras como O Livro dos Cinco Anéis, Musashi e Princesa Mononoke, mas representa tudo isso (a realidade e a ficção do país) sob um ponto de vista europeu, tanto na maneira de organizar o volume, quanto na estrutura narrativa que escolhe para dar conta da história.

Essa junção de culturas acaba tendo um resultado tremendamente interessante, fazendo-se sentir pelos ótimos e detalhados desenhos, pelas fantásticas cenas de violência e pelo ritmo com que as coisas acontecem no decorrer desse primeiro ciclo, à exceção de um único momento: o flashback no final do volume, que para mim, quebrou desnecessariamente o bom andamento do enredo até ali. Imaginem que após toda uma caminhada do grupo para encontrar Pequena Carpa e após a bizarra revelação ao final da narrativa o texto ainda se dá o “trabalho” de abrir um retorno ao passado, trazendo uma série de quadros onde o didatismo toma conta e onde uma descabida história de origem para os vampiros/demônios da reta final surgiram. Realmente é algo que não deveria estar aqui.

Okko - The Cycle of Water V1 #2 (de 4) - plano critico o ciclo da água

O pior de tudo é que falamos uma narrativa cheia de urgência, que não dá conta de seu propósito, que toma tempo e quebra uma sequência majoritariamente elogiável até ali. Tive alguns problemas com a linha de ação envolvendo Tikku, mas só até ele desmaiar, nada mais que isso. Depois as coisas entraram novamente nos eixos até que as memórias descabidas apareceram em cena, falando coisas que seria bem melhor ter ficado em segredo. De qualquer forma, o arco se encerra de maneira notável e com uma boa abertura para o próximo ciclo da saga. A água, elemento nuclear desse ciclo, é trabalhada com competência em seu aspecto simbólico e em seu aspecto prático. Hub definitivamente fez sua lição de casa e nos entregou o princípio de um Universo cativante e cheio de surpresas. Um interessante Japão feudal à moda europeia.

Okko: Le Cycle de L’eau (França, 2005 – 2006)
Editora original: 
Delcourt
No Brasil: Mythos, 2018
Roteiro: Hub (Humbert Chabuel)
Arte: Hub
Cores: Hub, Stephan Pelayo
100 páginas

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