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Crítica | Olá Frida

A história de uma garotinha diferente.

por Luiz Santiago
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Em Olá Frida (2024), os diretores André Kadi e Karine Vézina enfrentam um dilema recorrente no cinema infantil que quer agradar de todo jeito: como contar uma história complexa de forma compreensível e acessível, quando a protagonista é alguém cujas obras são tão intensas que não caberiam, abertamente, numa produção voltada para crianças? A solução encontrada pela dupla foi evitar a exibição direta dos quadros de Frida Kahlo. Em vez disso, optaram por espalhar referências visuais sutis ao longo do filme, como um coração, uma coluna e uns espelhos, elementos simbólicos que remetem à obra da artista e que podem ser reconhecidos pelas crianças, mesmo sem o contexto explícito. Essa abordagem faz com que o universo de Frida, aqui, seja apresentado de maneira sensível, mantendo a essência de sua arte sem precisar ser literal.

Baseado na obra Frida, C’est moi (2016), de Sophie Faucher e Cara Carmina, a animação mergulha na infância da pintora mexicana com camadas de complexidade bem dosadas (às vezes, dosadas até demais) e tenta explorar a vida e as inspirações para a arte da Frida adulta. A pesquisa visual e o resultado conseguido pela fotografia demonstram respeito à cultura retratada, bem como às criações fridistas, mas não trazem a inquietação política ou mesmo a inspiração e o ímpeto que tanto se esperam de uma produção cinematográfica sobre essas criações. E os problemas não param aí. A cidade de Coyoacán, onde se passa a narrativa, vira, em pouco tempo, um cartão-postal quase ingênuo, linha que deságua em um Día de Muertos visto como simples celebração de “folclore decorativo”, muito esvaziado de sua potência reflexiva sobre a finitude, conceito que poderia trazer mais substância à película.

Nos momentos em que a história se aproxima do sofrimento mais forte, a trilha sonora de Laetitia Pansanel-Garric, cheia de acordes festivos e arranjos de mariachi, intensifica a alegria e reforça o tom esperançoso da animação, dando uma cara bonita às cenas, sendo esta uma das escolhas mais interessantes da direção. Aqui, a dor é suavizada e transformada em cor e ritmo, mas não de maneira negativa. O mesmo podemos dizer da forma como a deficiência crônica de Frida é apresentada, com La Catrina de los Toletis aparecendo como personagem, dialogando com Frida e mediando a relação entre doença, consequências físicas, vida com dor e morte como descanso.

As vozes de Emma Rodríguez (Frida criança) e Olivia Ruiz (Frida adulta) carregam bem a proposta estética do filme, mas também reforçam sua contenção narrativa. As crianças sairão da sessão compreendendo que Frida era diferente, criativa, resiliente (e tudo isso é verdade), mas só terão um olhar raso sobre a dualidade entre sensibilidade emocional e força intelectual para a produção da arte. E sequer terão contato com a Frida que lia compulsivamente, que desafiava as autoridades e que já pensava politicamente antes dos dez anos. A estrutura geral da animação, a despeito de sua beleza e delicadeza, impede que certas dúvidas e ideias mais profundas apareçam, o que deixa o filme cada vez mais… simplista. O texto se mantém num território seguro demais para cumprir as próprias exigências de representar, mesmo que numa narrativa mais suavizada, a vida radical de Frida Kahlo. Termina, portanto, numa esfera positiva que, em quase tudo, poderia ser ainda mais elevada.

Olá Frida (Hola Frida) — França, Canadá, 2024
Direção: André Kadi, Karine Vézina
Roteiro: Anne Bryan, Sophie Faucher, André Kadi
Elenco: Olivia Ruiz, Emma Rodriguez, Rebeca Gonzales, Léo Côté, Sophie Faucher, Manuel Tadros, Annie Girard, Joey Bélanger
Duração: 82 min.

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