O percurso de Olhos Famintos é peculiar na recente jornada do gênero terror no contemporâneo. O enredo do primeiro filme, lançado em 2001, envolve dois irmãos que, ao voltarem para casa, se deparam com um vulto misterioso na estrada. Ao investigar, eles descobrem um macabro segredo relacionado a uma antiga igreja, onde centenas de cadáveres mutilados estão espalhados. É uma realidade sombria que nos revela a natureza aterrorizante da criatura que os persegue. O retorno da franquia promete resgatar esses elementos sombrios e a atmosfera de suspense que marcaram seu sucesso inicial. Custou pouco, fez sucesso, e logo ganhou uma sequência, Olhos Famintos 2. Neste, Alguns dias após os eventos do primeiro filme, a abominável criatura está no vigésimo segundo dia de seu ritual de alimentação. Disfarçado de espantalho em um milharal no interior dos Estados Unidos, ele sequestra um jovem na frente de seu pai e de seu irmão mais velho. No dia seguinte, um ônibus escolar que transporta uma equipe de basquetebol, líderes de torcida e técnicos fica parado no meio da estrada, depois de ter um dos pneus atingido por uma shuriken feita à mão a partir de fragmentos de ossos. Eles são atacados e uma noite de terror se estabelece com banho de sangue e muita perseguição.
Com Olhos Famintos 3, temos uma trama que se encaixa entre os dois primeiros filmes, numa história confusa e tediosa. Já em Olhos Famintos: Renascimento, dirigido pelo finlandês Timo Vuorensola, com roteiro assinado por Jake Seal e Sean Michael-Argo, os realizadores apresentam a história como um reboot da saga criada por Victor Salva. A história, a estética, os desempenhos dramáticos e todos os demais elementos são desastrosos. Tédio e vulgaridade invadem a tela com ousadia e sensação de que os envolvidos desconfiam que estão apresentando uma trama interessante. Desta vez, ambientada em um festival de terror na Louisiana, a trama gira em torno de um casal que viaja para participar do Horror Hound. A protagonista começa a ter premonições inquietantes relacionadas ao passado obscuro da cidade e à lenda do Creeper. À medida que o festival avança, a criatura desperta, forçando o casal a uma luta pela sobrevivência em meio a um ambiente aterrorizante. Apesar de suas promessas, o filme se perde em suas escolhas, apresentando um elenco questionável e decisões estéticas que falham em capturar a essência do gênero.
A franquia Olhos Famintos, que parecia encerrada após um terceiro filme mal recebido em 2017, decidiu produzir uma quarta parte na esperança de se destacar em meio a reboots de outras sagas. No entanto, a nova continuação também falha em conquistar fãs e críticos, apresentando uma trama confusa e sem coesão, o que levanta questões sobre a qualidade da produção e a intenção por trás do seu lançamento. A cena de abertura, que se destaca por sua duração, mostra um casal de idosos se deparando com o caminhão reconhecível da franquia, mas logo as incoerências começam a ser evidentes. Através de decisões estranhas, como parar a poucos metros de um local de perigo iminente e retornar à estrada após uma tentativa de fuga, a narrativa se torna confusa. Além disso, a escolha do personagem idoso de relatar o avistamento do corpo à polícia, em vez de buscar segurança, revela um desvio do tom e da lógica presente nas histórias anteriores, resultando em um filme que se aproximaria mais de uma paródia do que de uma verdadeira sequência da saga.
O reboot, escrito por Sean-Michael Argo, falha em proporcionar diálogos coerentes e situações que possam auxiliar os atores a desenvolver suas personagens de maneira significativa. O vilão, que antes ressurgia a cada 23 anos para realizar suas caças, agora se transforma em um demônio serial killer, apoiado por uma seita religiosa, o que não só diminui a originalidade da narrativa, mas também compromete a essência do terror do filme. Além disso, as falhas técnicas são evidentes, desde a iluminação excessiva das noites até a aparência exageradamente amarelada durante o dia, que prejudica completamente a construção do ambiente. A caracterização do demônio também deixa a desejar, apresentando um design de criatura mal executado e muito inferior ao que foi visto em produções anteriores. O uso de maquiagem e efeitos práticos, que conferiam uma atmosfera mais sombria e impactante no filme de 2001, foi substituído por uma representação pífia que mais parece uma paródia. A falta de realismo na construção dos cenários e na representação do antagonista torna a trama ainda mais insatisfatória, sugerindo que o esforço dos atores é ofuscado por uma abordagem visual medíocre, comparando a atuação a um desempenho baseado em um estereótipo caricatural.
Com apenas 88 minutos de duração, a produção deixa diversas questões em aberto e não consegue honrar o legado do primeiro filme da franquia, que é muito amado pelos fãs de horror nos anos 2000. Pelo cenário, parece que este quarto título da série enterrou definitivamente uma franquia que já não consegue mais resgatar o sucesso do passado. Quem sabe uma refilmagem, tradução para série televisiva. Agora é aguardar.
Olhos Famintos: Renascimento (Jeepers Creepers: Reborn, EUA – 2022)
Direção: Timo Vuorensola
Roteiro: Jake Seal, Damian Maffei
Elenco: Sofia Willis, Imran Adams, Sydney Craven, Tommy Lee Wallace, Peter Brooke, Gabriel Freilich, Anne H. Hutton, Rachael McGarry
Duração: 100 min.