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Crítica | Olliver Hawk, o Hipnotizador

por Michel Gutwilen
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Acho sempre bom evitar a palavra “pretensioso” em uma crítica de arte, uma vez que ela já é recebida pelo leitor, através do senso comum, necessariamente como um adjetivo pejorativo, quando não necessariamente é neste sentido que está sendo usada. Dito isso, pode-se dizer que Olliver Hawk, O Hipnotizador é um filme pretensioso. Por outro lado poderia ser dito que não é a obra do diretor Arthur Franck que se qualifica como tal, mas sim o homem que é o centro gravitacional deste “documentário”, o hipnotizador Olliver Hawk. Uma outra pessoa poderia dizer que este homem é pretensioso e que a obra, por acompanhar o seu ponto de vista, também tenta ser. 

Afinal, como analisar a seguinte sequência do longa: o “protagonista” está falando, em um voice over, que diversos líderes mundiais usaram da hipnose, a nível inconsciente, para convencer as grandes massas. Ele cita Jesus, Hitler, a Coréia do Norte. Em consonância com o discurso falado, Franck reproduz, em sequência, essas três figuras. Claro que a origem desta afirmação é de Hawk, mas, ao induzir esta ligação de maneira imagética, pela montagem, estaria o diretor validando este discurso? Sendo indulgente com ele? Ou alguma “outra coisa”? Cabe então explorar o que seria isso.

SPOILERS!

A forma como Arthur Franck conduz sua obra leva a crer que ele almeja igualar, a nível imagético e narrativo, a própria hipnose de Hawk. Isso fica evidente com a revelação final do filme, quando é descoberto que várias “imagens de arquivo”, na verdade são reencenações. Ou seja, por uma hora fomos “hipnotizados”, diante daquelas imagens para, posteriormente o diretor revelar sua própria manipulação, literalmente quebrando o transe e fazendo com que questionemos até que camada vai a intervenção do irreal no real. 

Neste sentido, cabe falar que não é a “imagem”, como um elemento metafísico com força própria, que leva a esse estado hipnótico do espectador, mas sim uma clara intervenção de Franck. Nesta mistura de imagens de arquivo e fictícias, somente o fato de escolher como ordená-las já configura uma ação do diretor, de modo a criar uma narrativa linear a partir de fotos e vídeos que não são lineares. Se a montagem obviamente possui um papel crucial em Olliver Hawk, O Hipnotizador, a própria investigação e o trato da imagem em si reforçam uma certa atmosfera sombria e misteriosa que está sendo forçada. Há um caráter granulado da imagem e um certo desgaste que impedem uma plena visibilidade da matéria inserida nela gera todo um efeito muito perturbador, aliando-se a uma sutil (mas detectável) trilha sonora que reforça essa inquietação — na sequência em que se vê Hawk e sua família, as imagens indicam que eles estão felizes, mas a presença da trilha gera um certo receio. 

Voltando ao questionamento inicial, agora é possível entender melhor o que Franck está realizando e qual sua relação com o discurso de Hawk. O diretor não está preocupado em endossar que a fala do hipnotizador seja real, mas, pelo contrário, nos convencer de que Hawk é real. Quanto às imagens escolhidas, há uma clara exploração da intensa cobertura midiática do caso e um interesse público na figura de Hawk, que potencializa e valida este sentimento de que ele é uma figura real. 

Ou seja, se acreditamos que o discurso do hipnotizador é absurdo (a população da Finlândia é hipnotizada por seus líderes políticos), é porque fomos levados a acreditar que o próprio existiu, então Franck teve sucesso em sua missão cinematográfica de trabalhar em cima da ambiguidade da imagem. Se Hawk em um momento diz: “A palavra é todo poder em si mesmo”, Franck, indiretamente, diz: “A imagem é todo poder em si mesmo”. Assim, o poder do convencimento está no discurso, seja ele a partir de palavras ou a partir de uma narrativa cinematográfica. No fim, não há resposta dada nem quanto aos feitos de Hawk nem à magnitude da reencenação de Franck: é tudo real ou tudo encenação? Ou um pouco de cada? 

Olliver Hawk, o Hipnotizador (Olliver Hawk, 2020) — Finlândia
Direção: Arthur Franck
Roteiro: Arthur Franck
Elenco: Olavi Hakasalo
Duração: 75 mins.

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