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Crítica | Operação Big Hero

por Lucas Borba
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Para começar a falar deste filme, não posso deixar de compará-lo com outra adaptação recente das histórias Marvel: Guardiões da Galáxia. Isso porque, apesar das tramas nada semelhantes uma à outra, Operação Big Hero consegue com maestria o que Guardiões apenas tenta: criar personagens que não parecem forçados, autênticos apesar de estranhos, e um humor inteligente, que parece proposital mesmo quando não é engraçado.

Inspirado na pouca conhecida série de quadrinhos iniciada em 1998, o longa animado em 3D se passa na fictícia cidade futurista de San Fransokyo – que mistura o nome, o visual e a cultura de San Francisco e Tokyo – e acompanha um garoto superdotado, Hiro Hamada (voz de Ryan Potter), que com treze anos completou o colegial e ocupa o tempo disputando lutas clandestinas de robôs. Um dia, porém, seu irmão, Tadashi (voz de Daniel Henney), consegue atraí-lo ao laboratório onde trabalha, apresentá-lo aos seus amigos autodeclarados nerds e às suas invenções, incluindo o robô médico inflável Baymax (voz de Scott Adsit), criado pelo próprio Tadashi. Após conhecer o renomado professor Callahan (voz de James Cromwell), Hiro decide convencê-lo de que é digno de ser aluno do docente com a apresentação de uma engenhosa invenção. Só que um terrível acidente abala os planos do rapaz e, em grave estado emocional, conforme repetidamente colocado por Baymax, Hiro reclama justiça pelo desastre juntamente com o robô e com os amigos do irmão.

Com diálogos impressionantes entre robô e humano (salve Hiro e Baymax), que mesmo beirando ao cinismo conseguem a proeza de nos confortar com um respeito sincero às necessidades humanas,  o roteiro é esperto o bastante para falar de vício sem ter de apelar para o álcool ou qualquer outra droga censurável do público infantil, para nos despistar com falsos clichês e confundir os papéis de herói e vilão – para tanto, apropriando-se mesmo do símbolo da máscara – e para apresentar um argumento sólido e reflexivo mesmo com um final que, à primeira vista, pode parecer simples demais. Cada membro do grupo de nerds tem suas características e especialidades bem definidas, com a caricatura nunca caindo no exagero e suas falas e participações nas cenas nunca parecendo forçadas ou fora de contexto – aliás, elas chegam a ser poucas e em dados momentos eles apenas aparecem sem se saber como ou de onde. O breve foco no âmbito familiar e a fraca reação populacional ao caos promovido pelos robôs incomodam um pouco, mas não quebram o ritmo e a força da narrativa. Com competência reconhecida no uso do 3D, as várias cenas de ação da fita não chegam a cansar graças aos diálogos humorados bem pontuados que as perpassam, exceto, talvez, no último ato.

Quanto ao humor, ele é o fio condutor de praticamente toda a produção, mesmo em cenas tristes, porém harmonizando-se com elas perfeitamente. Enquanto Guardiões da Galáxia chega a boicotar as próprias piadas de tão mal escritas, Operação Big Hero consegue até manipular o público, por exemplo, exagerando o foco numa cena hilária já desgastada até que o bizarro da situação se imponha novamente e as risadas gerais recomecem – é o caso de uma ótima sequência envolvendo o inflar e o murchar de Baymax.

Já a trilha sonora de Henry Jackman, que também conta com a participação da banda Fall Out Boy, sabe dialogar bem com a narrativa e nunca chega a ser inconveniente, embora tenha poucos momentos marcantes – o auge é sem dúvida a bela melodia orquestrada em numa das sequências de voo. Em suma, um filme divertido, com doses de contemplação, momentos realmente comoventes e até surpreendentes pelo tratamento de sua conclusão.

Alerte-se, ainda, que apesar da Marvel declaradamente ter deixado a produção do longa inteiramente nas mãos da Disney – tanto que, segundo anunciou, não aproveitará o lançamento do filme para publicar material inédito ou republicar HQs do grupo de heróis nerds – aqui também existe uma cena pós-créditos com um personagem ímpar da Marvel. A marca do acerto da Disney ao se deixar o cinema, contudo, não termina aí.

Operação Big Hero (Big Hero 6), EUA – 2014
Direção:
Don Hall, Chris Williams
Roteiro: Jordan Roberts, Daniel Gerson, Robert L. Baird, Duncan Rouleau, Steven T. Seagle, Paul Briggs, Joseph Mateo (baseado na série de quadrinhos da Marvel Comics)
Elenco (no original): Ryan Potter, Scott Adsit, Jamie Chung, Daniel Henney, T.J. Miller, Damon Wayans Jr., Genesis Rodriguez, James Cromwell, Alan Tudyk, Maya Rudolph
Duração: 102 min.

O Banquete (Feast)

Se operação Big Hero trata do humano pelos olhos da máquina, o belo, leve e engraçado curta que o antecede, O Banquete (provável alusão à obra de Platão), do diretor estreante Patrick Osborne, aborda com engenho e sensibilidade incríveis a relação entre amor e instinto e a influência que um tem sobre o outro. O Banquete conta a história do cãozinho Winston, da raça Boston Terrier, e da relação do animal com seu dono, com o qual compartilha comida e uma história de amor.

Se por um lado Winston é atraído pelo dono com comida, a vida do homem, incluindo sua relação amorosa, também é diretamente afetada pelas ações do cachorrinho. O ótimo 3D nos confere uma visão pelos olhos de certo modo limitados de Winston, o que deixa certos acontecimentos no entorno do bichinho com um tom tão secundário quanto à nossa atenção ou a dispensada pelo animal.

Com cenas cativantes ao extremo como o conflito vivido por Winston ao ver comida sendo preparada – fogo no qual, instintivamente, ele também teme parar, embora necessite do mesmo alimento e sempre retorne a ele – O Banquete é um tributo imperdível à amizade homem e animal ou, mais especificamente, do homem com seu chamado “melhor amigo” e ao papel dessa interação para a sobrevivência física e afetiva. Imperdível.

O Banquete (Feast), EUA – 2014
Direção: Patrick Osborne
Roteiro: Nicole Mitchell, Raymond S. Persi, Patrick Osborne
Elenco (no original): Ben Bledsoe, Stewart Levine, Katie Lowes, Brandon Scott, Adam Shapiro, Tommy Snider
Duração: 6 minutos

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