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Crítica | Órfã e as Cinco Bestas – Vol. 1

Stokoe homenageia os filmes de kung fu dos anos 70!

por Ritter Fan
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James Stokoe é, sem dúvida alguma, um nome a ser acompanhado nos quadrinhos. Ele é um daqueles poucos artistas do meio que joga em todas as posições, do roteiro à arte, passando pelas cores, letreiramento e até pelas capas, o que, naturalmente, diminui a velocidade de sua produção, mas, impressionantemente, não a qualidade. Claro que ele é inegavelmente mais desenhista do que roteirista, mas o conjunto de suas obras é normalmente impressionante de se ler e ver, com os quadrinhos digitais, no caso, sendo a maneira ideal para se aproveitar ao máximo todos os detalhes que ele é capaz de inserir em cada página lindamente tumultuado, em cada quadro magnificamente distribuído, em cada detalhe minuciosamente trabalhado.

Órfã e as Cinco Bestas – minha tradução direta para o título original Orphan and the Five Beasts – marca o ingresso de Stokoe nos filmes de artes marciais e de exploitation dos anos 70 em uma ambientação de fantasia, sua especialidade, em uma história simples em que uma guerreira, a Órfã Mo, impulsionada pelas palavras finais de seu mestre, sai pelo mundo para matar as cinco bestas que, na verdade, foram pupilos do mesmo mestre que aprenderam cada um uma faceta da técnica marcial dele de forma a lidar com um grande vilão no passado e jamais retornaram para terminar o treinamento, deixando seus poderes os corromperem. Esse pano de fundo, muito claramente tirado do clássico ao clássico Os Cinco Venenos de Shaolin, de Cheh Chang, é apenas uma desculpa para criar a ambientação necessária para colocar Mo contra vilões variados em uma estrutura que lembra muito um videogame, com cada uma das quatro edições sendo uma fase do jogo.

Aliás, abrindo um breve parêntese aqui, a quarta edição foi lançada pela Dark Horse Comics com um marketing estranhíssimo, primeiro anunciando que era o final da história e, depois, indicando que era apenas o final do primeiro arco. Como a editora acabou de ser comprada pela gigante sueca Embracer Group, de desenvolvimento de videogames, e como Stokoe demorou de março de 2021 a fevereiro de 2022 para soltar apenas quatro edições, a impressão que ficou é que resolveram dar a impressão de fim, mas deixando uma frestinha na porta para permitir o retorno da série, até porque Mo só enfrenta duas das cinco bestas até o encerramento do quarto número…

Mas, retornando ao mérito da história, o que realmente importa, como já afirmei, é a insana arte de Stokoe. Como todos os trabalhos dele, o roteiro que, aqui, segue uma linha reta bastante óbvia e os correspondentes diálogos que não são mais do que uma sucessão de chavões – longe de serem ruins, vale dizer! – são apenas detalhes desimportantes perto da grandeza de seu trabalho detalhista que faz cada quadro, por mais simples que possa parecer, conter tanta informação que a leitura de cada HQ é como minuciosamente observar uma obra de arte em um museu, sorvendo cada traço do autor por horas a fio sem enjoar. É por isso que a leitura digital de seus quadrinhos é particularmente interessante, pois usar o movimento de pinça para ampliar ao máximo cada quadrante de suas impressionantes páginas é um prazer inenarrável.

Seu design também é fora desse mundo. Não só Mo usa uma armadura que parece ser uma amálgama das mais variadas influências orientais, de guerreiros medievais chineses a samurais em um mundo que é substancialmente igual ao nosso, com exceção de suas habilidades sobre-humanas e, claro, os inimigos superpoderosos que precisa eliminar. Os dois que conhecemos neste primeiro arco – Thundertighs (ou Coxas do Trovão em tradução direta) e Chopper Teng – são muito diferentes entre si, com habilidades também muito díspares que só contribuem para enriquecer as possibilidades visuais de Stokoe, que se esmera em lidar com a ultraviolência de maneira altamente estilizada, exagerada e criativa, com soluções para os combates que surpreendem pela loucura quase surreal que por vezes lembra obras que poderiam ter sido criadas pela amálgama das mentes de Terry Gilliam, David Cronenberg  e Alejandro Jodorowsky depois de doses cavalares de alucinógenos.

Espero que Stokoe retorne a esse universo algum dia para mostrar, em todos seus gloriosos detalhes, as três bestas finais e como Mo acabará com elas. Mas também não tem problema se ele decidir seguir em frente e dedicar-se a outra criação enlouquecida assim. O que eu quero mesmo é que ele continue escrevendo e, principalmente, desenhando dessa maneira febril, cinética, explosiva e absolutamente cativante que torna cada virar de página um êxtase visual indescritível.

Órfã e as Cinco Bestas – Vol. 1 (Orphan and the Five Beasts – Vol. 1 – EUA, 2021/22)
Contendo: Orphan and the Five Beasts #1 a 4
Roteiro: James Stokoe
Arte: James Stokoe
Cores: James Stokoe
Letras: James Stokoe
Capas: James Stokoe
Editoria: Daniel Chabon, Chuck Howitt, Misha Gehr
Editora original: Dark Horse Comics
Datas originais de publicação: 17 de março, 21 de abril e 03 de novembro de 2021 e 23 de fevereiro de 2022
Páginas: 100

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