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Crítica | Os Defensores Contra o Destruidor de Mundos & Fim Impossível!

por Luiz Santiago
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Defenders_Vol_4_12_plano critico os defensores

estrelas 3,5

Quando pegamos uma história de um “grupo que não é grupo” como Os Defensores, nós já sabemos mais ou menos o que esperar. Jornadas místicas com exigência de força física em certo ponto da trama são as bases para as aventuras vividas pelas muitas formações do grupo; aventuras que, marcadas por uma linha mais ou menos cômica (bom, a não ser no caso de Indefensáveis, que é abertamente uma avacalhação, no sentido positivo da palavra) e visita e/ou recriação da Terra ou de alguns Universos, garantem o divertimento do leitor, explorando lugares ainda não visitados e dando a oportunidade de heróis, anti-heróis e vilões se encontrarem. O que se espera nessas ocasiões é que o roteiro comece e finalize um problema sem depender de muita suspensão da descrença do público, ou melhor, ainda mais do que o necessário, principalmente quando a história caminha para um término que é uma costura de resoluções abruptas mais Deus Ex Machina. Esse é o problema com este Volume 4 da saga dos Defensores.

No Brasil, a série foi lançada em dois encadernados, em 2013. O primeiro, chamado Contra o Devorador de Mundos, compreende as edições #1 a 6 da Defenders Vol.4 e estabelece a história que se seguiria até o final, sempre com roteiro de Matt Fraction, mas com equipes artísticas bem diferentes ao longo das edições. Neste ponto, o trabalho menos impressionante fica nas mãos do casal Terry e Rachel Dodson, no lápis e arte-final, respectivamente. Claro que isto acaba se tornando uma visão de comparação ao longo do primeiro arco, simplesmente porque a arte de Michael Lark (#4: Misfits 1: Strange/The French Drop), Mitch Breitweiser (#5: Namor: The 99 Daughters of Pontus) e Victor Ibañez (#6), cada um com um finalizador ou dupla de finalizadores diferentes, são muito mais ricas, mais instigantes visualmente e trouxeram à tona com maior eficiência a saga dos Engenhos da Concórdia, remetendo-nos a Peste João (aquele mesmo personagem maluco e tradicionalmente medieval que estreou na revista do Quarteto Fantástico, no arco O Dia do Juízo Final) e ao clássico 20.000 Léguas Submarinas.

O fato é que tanto em história quanto em arte, Contra o Destruidor de Mundos é menos interessante que Fim Impossível!, mas dado o final um tanto problemático de toda a jornada, as tramas acabam tendo a mesma qualidade geral. E tudo começa com um pedido de ajuda do Hulk para o Doutor Destino, dizendo que Nul (a versão do Hulk criada para servir à Serpente de Midgard, lá na saga A Essência do Medo, de 2011) está chegando e que ele “e os outros” precisam se unir para salvar o mundo. São somados à equipe Namor, Surfista Prateado, Mulher-Hulk Vermelha e o nerd e simpático Punho de Ferro para a primeira missão. O leitor ainda não percebe que existe uma série de cruzamentos de linhas temporais e paradoxos visitando o presente, mas é informado que as “visões do futuro” voltarão à trama mais cedo ou mais tarde.

SHIELD plano critico defensores

Um dos melhores momentos na Terra-11127.

Como a maior parte do primeiro arco é centrada na luta contra Nul, apresentação dos Engenhos, loucura de Preste João e, mais para o final, informações que nos levariam para os paradoxos de Fim Impossível!, tomamos toda esta primeira parte como uma introdução temática. Sentimos a dinâmica do grupo e entendemos como ele se relaciona com o lado mágico, a força bruta e os elementos ainda incógnitos da história. Nas duas últimas edições nos parece que há uma mudança de tema, levando como fio condutor “apenas” o Engenho transportado para a casa do Doutor Estranho. O roteiro não dá indícios da Terra-11127, que viria a ser o principal foco no bloco seguinte e isso é ruim a longo prazo, porque o leitor poderia aproveitar bem mais a história, inclusive com um senso redobrado de curiosidade, se soubesse disso mais cedo.

Na segunda parte, o maior destaque artístico vai para as edições #9 a 11, as melhores em tudo, considerando aí toda a série: roteiro, arte, finalização, cores e diagramação. As melhores ideias sobre a mescla de mundos, a explicação sobre o por quê a Terra parece ser o lugar para onde confluem todas as grandes ameaças do Universo; a colocação dos heróis em posições difíceis… tudo nestas revistas prende o leitor, que agora está ciente do cruzamento linhas do tempo e percebe o quão interessante é visitar realidades alternativas com velhos personagens e vê-los se comportar diante dessa nova situação, ajustando algumas coisas e tentando se virar com toda a estranheza.

A resolução que o roteiro nos dá no final da saga, ilustrada pela arte metálica e mais realista de Mirco Pierfederici, é um pequeno balde de água fria na diversão de batalha e Apocalipse causado por uma coisa que, no início, não parecia simples, mas jamais indicava um resultado tão devastador. A questão é que depois de um drama tão bem explicado, a coisa ganha um reset de duas páginas, o que não necessariamente é algo ruim, mas termina abruptamente uma história que, do número #7 em diante, ganhou um bom nível de desenvolvimento de personagens e ações, tornando tudo mais complicado. Fraction nem se dá o trabalho de indicar o que acontece com a ameaça e avanço de Nul, quando tudo começou. Subtendemos que o Preste guardião do Engenho (que, para ser sincero, teve uma explicação épica mas muito, muito confusa) irá deter e aprisionar o vilão, mas isso não basta. Era preciso algo maior que uma sugestão.

Embora a história seja acima da média, o leitor se decepciona por esta fase dos Defensores não ter tido um final com as pontas melhor aparadas. Fica na memória, porém, todo o espetáculo visual e as boas piadas, situações pitorescas (o bloco na micro-nação de Z’Gambo e, depois, com o Homem-Formiga, são excelentes!), o bom uso de violência e relacionamento entre heróis, anti-heróis e vilões no miolo e reta final da trama. Mesmo não sendo perfeita, esta fase do grupo mais desapegado da Marvel vale muito a pena ser lida.

Os Defensores Contra o Devorador de Mundos & Fim Impossível (Defenders Vol.4 Completo – Edições #1 a 12) — EUA, 2012 – 2013
No Brasil: 2 encadernados da Panini Comics (junho e julho de 2013)
Roteiro: Matt Fraction
Arte: Terry Dodson (#1 a 3, 7), Michael Lark (#4), Mitch Breitweiser (#5), Victor Ibanez (#6), Jamie McKelvie e Mike Norton (#8 a 11), Mirco Pierfederici (#12)
Arte-final: Rachel Dodson (#1 a 3, 7), Stefano Guadiano, Brian Thies (#4), Mitch Breitweiser (#5), Tom Palmer e Terry Pallot (#6), Jamie McKelvie e Mike Norton (#8 a 11), Mirco Pierfederici (#12)
Cores: Sonia Oback (#1 a 3, 7), Matt Hollingsworth (#4), Mitch Breitweiser e Bettie Breitweiser (#5),, Chris Sotomayor (#6), Dommo Aymara (#8 a 9), Jordie Bellaire (#10 a 11), Verconica Gandini (#12)
Letras: Clayton Cowles (todas), Joe Sabino (#10 a 11)
Capas: Terry Dodson, Rachel Dodson, Mark Bagley, Mark Farmer, Laura Martin, Adam Kubert, Joe Quinones
Editoria: Tom Brevoort, Mark Paniccia, Jake Thomas, Jon Moisan
140 e 132 páginas, os encadernados da Panini

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