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Crítica | Os Doidos Contos de Natal do Pernalonga

A lebre mais irreverente das animações numa referência satírica ao clássico conto natalino de Charles Dickens.

por Leonardo Campos
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Estruturado por meio de três histórias distintas, a animação Os Doidos Contos de Natal do Pernalonga, lançada na televisão em 1979, tem em sua base o clássico conto natalino de Charles Dickens, mencionado em muitas críticas por aqui, uma publicação constantemente abordada no campo da ficção moderna e contemporânea, história que faz jus ao que se diz sobre o escritor ter “inventado” o Natal tal como o conhecemos hoje. Em sua jornada, o conto traz Scrooge, um homem avarento e egoísta, conhecido por detestar o espírito natalino. Ele é surpreendido, por sua vez, pelo fantasma do seu antigo sócio, personagem que o revela as possibilidades de seu destino, caso não mude a sua postura no presente. Este mote que reflete questões como altruísmo, caridade, gentileza, bondade, amor ao próximo, dentre outros, encontra ecos satíricos devidamente desenvolvidos nesta saga natalina do Pernalonga.

Criado em 1930, a lebre/coelho em questão é um dos mais famosos personagens deste universo animado. Conhecido por sua personalidade irreverente, despreocupada, com “pegada” de trapaceiro, Pernalonga é uma figura conhecida por seus tons cinza e branco, andar esguio e invencibilidade quando está diante da tentativa de derrota por parte de seus antagonistas. Dono de um humor muito peculiar, este icônico personagem leva para as frenéticas dinâmicas de suas tramas, algumas temáticas do cotidiano, tendo ganhado em Os Doidos Contos de Natal do Pernalonga, uma narrativa com predominância de cenas noturnas, neve, arranjos natalinos e árvores decoradas, símbolos tradicionais do período em questão.

Dirigido por Chuck Jones e Friz Freleng, o curta-metragem de 22 minutos dá espaço para outras histórias, além do conto clássico. Há uma divertida e rotineira perseguição do Coyote, doido para alcançar o Papa-léguas e captura-lo para fazer o banquete ideal, missão nunca cumprida ao longo da história destes personagens antropomórficos. Numa estrada deserta e cheia de obstáculos geográficos, a dupla duela, na posição de possível vítima e algoz, sempre com insucesso do Coyote em relação ao seu desejo natalino, mais veloz e esperto. É uma trama sem diálogos, a mais frágil do conjunto, focada no humor mais ligeiro, sem códigos para conexão de referências, como acontece com a menção ao conto de Dickens.

Conduzida pela música de Doug Goodwin, os episódios retratam temáticas natalinas por meio de perspectivas distintas. No primeiro deles, anterior à perseguição mencionada antes, temos Pernalonga tentando organizar o coro natalino ideal, numa passagem com diversos personagens deste universo, a maioria deles de volta na história final, tradução para animação de Uma Canção de Natal. Pernalonga faz Jacob Marley, o sócio de Scrooge, aqui interpretado por Yosemite Sam, um poderoso e arrogante homem que domina a sociedade em que vive, temido por todos por causa de suas posses. Ele tem Pork como seu funcionário, uma criatura que labuta constantemente para agradar ao patrão, sem o devido reconhecimento.

Certa noite, o funcionário pede um bloco de carvão a mais, por causa do frio que assola o período, mas o patrão se nega a conceder boas condições de trabalho e ainda se exaspera, colocando o personagem para fora do local. Cabisbaixo, ele segue para casa, preocupado com a sua situação delicada. As coisas mudam, por sua vez, depois que Pernalonga encarna a aparição do conto de Charles Dickens, trazendo revelações que deixam o homem egoísta totalmente desajustado. Ele percebe que é hora de mudança de postura e, num sobressalto, desvia de suas regras básicas e começa a ser mais bondoso com as pessoas. Sem exatidão em relação ao processo de tentar seguir à risca o conto que serve como ponto de partida, aqui nós temos uma divertida jornada com suas liberdades narrativas, um bom exemplar de tradução intersemiótica.

Os Doidos Contos de Natal do Pernalonga (Bugs Bunny’s Looney Christmas Tales) — EUA, 1979
Direção: Chuck Jones, Friz Freleng
Roteiro: Chuck Jones, Friz Freleng, John W. Dunn
Elenco: Mel Blanc, June Foray
Duração: 22 min.

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