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Crítica | Os Doze Condenados

por Kevin Rick
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A cena inicial de Os Doze Condenados mostra um soldado lamentando seu enforcamento, dizendo que não teve intenção de cometer o crime, e assim, com rapidez e sutileza, o cineasta Robert Aldrich começa a colocar a audiência do lado dos condenados e contra o militarismo (sistema). Dentre os presentes durante a execução, estava o Major Reisman (Lee Marvin, um comandante de atenção em sua performance simultaneamente durona e afável), designado por um grupo de militares burocráticos e almofadinhas para treinar uma unidade composta por 12 soldados condenados, a fim de que realizem uma missão na França matando oficiais nazistas em troca de perdão por seus crimes.

É curioso como a premissa da obra passa uma ideia de filme de ação macho com seu caráter delinquente e descartável, a missão suicida e os protagonistas masculinamente tóxicos e violentos, mas acaba sendo algo mais próximo de um estudo psicológico dos personagens através de um tipo de disciplina diferente: abraçar o treinamento/procedimento rebelde dos insubordinados como meio de criar união e redenção. É de muitas formas um filme anti-guerra em seu encadeamento didático e metódico de apresentação, treinamento, teste e, finalmente, a missão redentora, depois de dois terços do filme mergulhados em um fantástico estudo de personagem (de alguns dos doze, não todos) sobre minorias (negro, hispânico) e párias (fanático religioso, personagens contra autoridade), em que, independente de etnia ou transgressão, nosso elenco é composto pela escória nos olhos daqueles no poder.

Mas eu acho que o ponto-chave da linguagem de Aldrich está na sutileza em que trata seus temas. Eles estão ali no subtexto, nos questionamentos de hierarquia, em pequenos diálogos racistas, no início brutal que citei anteriormente, no desfecho cínico que não há tempo para chorar pelos mortos, e no pequeno tapinha nas costas de parabenização após o “sucesso” da missão. Mas o foco do diretor é criar uma espécie de fábula suja, que mantém sim esse pano de fundo crítico, só que sempre procura a narrativa intimista como veículo estelar dos doze condenados + o major também insubmisso, como modo de nos fazer rir, e principalmente entender e simpatizar com os infratores.

Os personagens não tomam banho ou fazem a barba, o Major Reisman leva prostitutas ao campo de treinamento como recompensa, eles constantemente desafiam ordens e tiram sarro de superiores, etc. É um um ambiente militar anárquico. Existe um desdém por precisão histórica ou realismo (ainda que tematicamente trate de problemas legítimos) no mundo paralelo que os condenados estão treinando. É, na verdade, uma obra comicamente absurda. Por isso a experiência acaba ganhando um aspecto meio fabular entre indivíduos desprezados que recebem uma chance ilógica pelas mãos de um Major inverossímil.

É realmente no quesito mais pessoal que a cadência lenta e gradual da obra afasta muitas pessoas, já que o filme não se resigna a uma típica história de aventura/ação. O que é um absurdo considerando como o espaçamento longo dado por Aldrich nos dá o tempo necessário para nos importar com os personagens, suas interações e dinâmicas, e também a extensão para o cineasta navegar entre gêneros e abordagens narrativas. O filme começa num tom de sátira militar com o cinismo de Reisman e companhia, acaba virando uma grande paródia durante o treinamento/competição, e no final se assume como uma experiência de ação fantástica, onde os delinquentes invadem um castelo para matar nazistas!

Os Doze Condenados é diversão cinematográfica em uma das suas formas mais puras. O carismático elenco composto por um maluco babaca (John Cassavetes, indicado ao Oscar pelo papel), um oficial renegado sisudo que fala alemão (Charles Bronson, em ótima química com Lee Marvin), um gigante bondoso (Clint Walker), o palerma bem-humorado (Donald Sutherland), entre outros, sob os ombros de um magnético Lee Marvin, recebem todo o espaço possível para nos fazer sentir simpatia, desgosto (olhando para você, Terry Savalas) e, sem sombra de dúvidas, fascínio por uma história em que torcemos pelos párias. Muito bem condensado entre o humor satírico, o subtexto crítico, seu viés absurdo e sórdido, e o desfecho tenso, Os Doze Condenados mantém um sorriso irônico no seu rosto entre gargalhadas, além de conseguir te manter apreensivo com o destino de personagens que você passa a se importar. E quando você olha mais de perto, ele ainda te faz refletir bastante coisa, pois apesar de ser uma injeção de testosterona imunda divertida, também é um filme que utiliza a redenção para fazer um tratamento anti-militar com um olhar extremamente maduro.

Os Doze Condenados (The Dirty Dozen) | EUA, 1967
Direção: Robert Aldrich
Roteiro: Nunnally Johnson, Lukas Heller (baseado no livro homônimo, de E. M. Nathanson)
Elenco: Lee Marvin, Ernest Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown, John Cassavetes, Richard Jaeckel, George Kennedy, Trini Lopez, Ralph Meeker, Robert Ryan, Telly Savalas, Clint Walker, Robert Webber
Duração: 150 min

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