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Crítica | Os Fabulosos X-Men: A Saga da Fênix

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Esclarecimento inicial:

A Saga da Fênix, curiosamente, não é exatamente nem uma saga e nem é da Fênix. Trata-se apenas de um título comumente dado pela própria Marvel Comics ao “arco” formado pelas edições #101 a 108 de The All-New, All-Different X-Men (que, na edição #114, passaria a ser intitulada The Uncanny X-Men ou Os Fabulosos X-Men) em que a Garota Marvel se transforma na Fênix. A história em si, porém, não é sobre ela e é um “arco” narrativo de Chris Claremont, o mais longevo escritor do super-grupo e que notoriamente abordava seus textos de maneira fluida, fugindo da estrutura rígida de arcos (daí as aspas quando usei o termo logo antes). É, talvez melhor definindo, um recorte de um momento histórico no desenvolvimento dos então Novos X-Men (os antigos membros, com exceção do Cíclope, haviam sido defenestrados oficialmente na edição #94), quando Claremont assumiu a publicação) em geral e de Jean Grey em particular e que resultaria na famosíssima Saga da Fênix Negra a partir da edição #129.

Crítica: 

(1) A primeira aparição da Fênix e (2) Fênix descendo a lenha no Senhor do Fogo.

Como adiantei acima, o arco que serve de veículo para a transformação de Jean Grey na Fênix, multiplicando exponencialmente seus poderes, não é um arco propriamente dito. Nada como Chris Claremont é “apenas” um arco, já que ele sempre escreveu os X-Men de forma a contar uma longa e intrincada história única que parece ser mapeada mentalmente por ele com dezenas de edições de antecedência. Nesse contexto, o roteirista é mestre em trabalhar uma história aparentemente simples de forma a plantar sementes que germinariam algum tempo depois, mantendo esse processo constante e repleto de novidades e reviravoltas.

Quando ele transformou a Garota Marvel em Fênix, ele não promoveu apenas uma alteração no uniforme e nos poderes da super-heroína. Ele revolucionou a própria estrutura dos mutantes na primeira grande mudança que fez na série. Seu trabalho, nessas oito edições que, posteriormente, a editora passou a batizar com o título em questão, é meramente preparatório para o que ele faria com a heroína ao transformá-la na toda poderosa Fênix Negra, em um dos mais chocantes e memoráveis arcos narrativos da história dos quadrinhos mainstream.

Portanto, o que n’A Saga da Fênix é quase como um teaser, um gostinho do que ainda estaria por vir. Na história, que começa encerrando uma incursão no espaço pelos X-Men, Jean Grey pilota um ônibus espacial em rota de colisão com a Terra, já que ela é a única poderosa o suficiente para suportar os níveis de radiação e salvar seus colegas. O pouso é destruidor, mas bem-sucedido, com nossos heróis caindo no mar, mas vivos. A Garota Marvel, porém, desaparece nas profundezes somente para que, alguns quadros depois, ela já ressurja completamente transformada, de uniforme novo (e belíssimo), voando e auto-denominando-se Fênix. Aliás, muito mais do que isso, ela diz:

Ouçam-me X-Men! Não sou mais a mulher que vocês conheceram! Eu sou fogo! E vida encarnada! Agora e para sempre… eu sou Fênix!

Não poderia haver uma entrada mais triunfal e dramática, não é mesmo? No entanto, depois de fazer esse show na edição #101, Claremont logo em seguida afasta Jean Grey dos holofotes, hospitalizando-a e colocando-a sob os cuidados do Professor X e de Scott Summers em Nova York e enviando os demais membros da então ainda bem recente nova equipe para férias na Irlanda, no castelo recém-herdado de Sean Cassidy, o Banshee. Por lá e ao longo das edições #102 e 103, o grupo sem líder enfrenta Black Tom Cassidy, primo de Banshee e o Fanático, meio-irmão de Charles Xavier (um dia eu ainda vou parar para tentar entender como é que Juggernaut acabou sendo traduzido como Fanático por aqui…) em uma pancadaria convencional, mas que inclui leprechauns e a introdução de um novo poder para Noturno, sua camuflagem nas sombras. Apesar de a narrativa ser bem simples e até burocrática, Claremont trabalha bem a inexperiência dos heróis em ações de grupo, com constantes farpas voando de um lado para o outro e uma considerável desorganização tática, além de inserir um mistério maior.

Esse mistério maior não demora a vir à tona na forma de Eric Escarlate, que se revela por trás da dupla na Irlanda, mas também de ninguém menos do que Magneto, o vilão da edição #104, no primeiro enfrentamento dele com os Novos X-Men, desta vez na Ilha Muir, na costa da Escócia. Ainda que sempre interessante, novamente o embate não empolga e tende ao lugar-comum. O que importa mesmo é o retcon que Claremont faz revelando que Moira MacTaggert (criada por ele na edição #96) tem um laboratório secreto de pesquisas genéticas por lá que só o Professor X conhecia. Mais uma vez, vemos as famosas sementes do roteirista sendo cultivadas para usos futuros. O lado verdadeiramente cósmico do arco só começa de verdade na última página desse número, com a introdução dos Piratas Siderais e reapresentado a misteriosa Lilandra Neramani, futura imperatriz dos Shi’ar em mais camadas de mistérios.

Introduzindo: a Guarda Imperial Shi’ar!

É então a partir da edição #105 que as conexões passam a ser feitas, com Eric sendo revelado como um agente secreto do enlouquecido Imperador D’Ken, dos Shi’ar que tinha como missão impedir que Lilandra finalmente entrasse em contato com o Professor X, algo que já vinha sendo trabalhada desde lá atrás no comecinho do run de Claremont. Não é uma narrativa fluida, devo confessar, já que o roteirista nos pede para aceitar diversas conveniências que são jogadas na história de maneira corrida, especialmente a presença mais do que aleatória do Senhor do Fogo, ex-arauto de Galactus. A Fênix precisava de um inimigo à altura para seu primeiro combate e Claremont achou uma boa ideia trazer o ser cósmico para a briga sem trabalhar minimamente que fosse sua conexão com Eric Escarlate, em um dos poucos momentos nos textos do mestre em que o leitor fica meio perdido e incrédulo. É bem verdade que ele até tenta dar um contexto para a presença do Senhor do Fogo ali, mas ele é forçado e não funciona adequadamente, mas ele já consegue transmitir a dubiedade das atitudes dessa “nova versão” de Jean Grey.

Em seguida, inexplicavelmente, quando Claremont chegava ao clímax de sua história, ele faz, em co-autoria com Bill Mantlo, um completo desvio narrativo na edição #106, que é toda ela focada na mente confusa do Professor X tendo que lidar com seu “lado sombrio”. É pouca história para ocupar uma revista inteira, mas mesmo assim ele insiste nesse caminho tortuoso que coloca os Novos X-Men em luta contra os X-Men Clássicos. Sem dúvida é outra semente de Claremont para germinar no futuro, mas a leitura da “saga” é quebrada completamente com essa edição que se passa nos recônditos da mente do líder dos mutantes.

Finalmente, então, vem a dobradinha final (#107 e 108) que transfere a ação para o espaço e coloca os X-Men e os Piratas Siderais (com a revelação bombástica de que seu líder é pai de Scott) contra o Império Shi’ar para salvar Lilandra e impedir que D’Ken destrua o universo. A escalada do nível de ameaça de um mera pancadaria entre os mutantes e Black Tom Cassidy e o Fanático na Irlanda para algo dessa estatura chega a dar dor-de-cabeça, com explicações mirabolantes sobre um cristal super-poderoso que é literal fim de tudo que parecem vir completamente do nada. Mais uma vez, faltou construção no texto de Claremont que, de repente, sai correndo com a narrativa com se ele precisasse encerrá-la em apenas duas edições. Mas a introdução do Gladiador e da Guarda Imperial Shi’ar e a pancadaria incessante que se segue ajuda a esconder o lado exagerado da narrativa, ainda que mais uma vez Claremont recorra ao apagamento quase que completo da Fênix até que sua participação se torne absolutamente essencial para resolver o problema. É quase como ele não soubesse muito bem o que fazer com uma personagem tão poderosa quanto ela e precisasse tirá-la do cenário constantemente, somente para, então, demonstrar um nível de poder impressionante.

A arte é principalmente de Dave Cockrum, parceiro constante de Claremont ao longo de seus primeiros anos diante dos X-Men. Seu trabalho é inspirado quando ele aborda os combates e quando refestela-se na criação de novos personagens, como é o caso de toda a Guarda Imperial. Mas ele não se sai tão bem em momentos menos grandiosos, deixando o texto de Claremont tumultuar consideravelmente a fluidez da arte. Na última edição, Cockrum, que ganha até uma dedicatória, abre espaço para o mago John Byrne aborda o lado mais “viajante” da história de maneira exemplar, encerrando a saga com chave de ouro.

A Saga da Fênix, apesar de sua importância para os quadrinhos em geral e para os X-Men em particular, não é dos melhores trabalhos de Chris Claremont. Mas um trabalho mais fraco dele continua sendo muito superior à média que víamos e continuamos vendo por aí nos quadrinhos mainstream.

Os Fabulosos X-Men: A Saga da Fênix (The Uncanny X-Men: The Phoenix Saga, EUA – 1976/7)
Contendo: The All-New, All-Diferent X-Men #101 a 108
Roteiro: Chris Claremont, Bill Mantlo (#106, em co-autoria com Claremont)
Arte: Dave Cockrum (#101 a 107), Bob Brown (#106, em co-autoria com Cockrum), John Byrne (#108)
Arte-final: Frank Chiaramonte (#101), Sam Grainger (#102 a 104), Bob Layton (#105), Tom Sutton (#106), Dan Green (#107), Terry Austin (#108)
Cores: Bonnie Wilford (#101 e 102), Janice Cohen (#103), Andy Yanchus (#104 a 108)
Letras: John Costanza (#101 a 103), Patterson (#104), Tom Orzechowski (#105 e 108), Joe Rosen (#106, 107), Denise Wohl (#108)
Editoria: Archie Goodwin
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: outubro de 1976 a dezembro de 1977
Páginas: 17 a 18 por edição

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