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Crítica | Os Guerreiros Pilantras

por Ritter Fan
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Mesmo com inflados 144 minutos – o que veio depois de um corte de mais 20 minutos impostos pela produtora – Os Guerreiros Pilantras não consegue se decidir muito bem sobre o que quer ser. Oscilando entre comédia e drama, o longa é uma mistura de Os Doze Condenados com O Desafio das Águias, sem conseguir o equilíbrio do primeiro ou a tensão do segundo. E isso mesmo contando com grande elenco e com um generoso orçamento que o espectador consegue ver muito claramente na tela com o uso de batalhões de extras e manobras militares muito bem trabalhadas.

Na história – de longe inspirada em fatos reais – o soldado Kelly (Clint Eastwood) descobre, por intermédio de um recém-capturado coronel da inteligência alemã, que, no vilarejo francês de Clermont, atrás das linhas inimigas, os nazistas guardam nada menos do que 14 mil barras de ouro. Sem pestanejar, ele decide arriscar tudo para conseguir o butim e, para isso, arregimenta a ajuda dos mais diversos soldados, dentre eles o sargento Big Joe (Telly Savalas) e seu batalhão, o sargento Crapgame (Don Rickles), um facilitador que arranja qualquer coisa em qualquer lugar e o sargento britânico que foge da guerra como o diabo foge da cruz – mas que tem três tanques Sherman à disposição – Oddball (Donald Sutherland).

Montando um plano apressado para ser executado nos três dias que eles têm de folga, o grupo desconjuntado parte para enfrentar os alemães e para conseguir o tão cobiçado ouro e, no processo, acaba conseguindo mais vitórias em território inimigo do que outras divisões, o que chama atenção do general Colt (Carroll O’Connor) que fica confortavelmente longe do fronte só reclamando e usufruindo do bom e do melhor. A crítica à guerra é evidente, especialmente à ineficiência das estratégias de tomada de território e as diferenças entre os militares de alto e baixo escalão, mas tudo isso fica soterrado debaixo do ritmo modorrento da fita que transforma um roteiro simples e objetivo em uma sucessão episódica de intermináveis momentos de toda sorte, sejam eles puramente cômicos, sejam de ação com momentos pesados de morte que quebram completamente a pegada humorística.

Além disso, Brian G. Hutton, inacreditavelmente o mesmo diretor de O Desafio das Águias, parece não saber o que fazer com seus personagens. Eastwood, por mais que seja o primeiro nome nos créditos, além de protagonista e cujo personagem faz parte até mesmo do título, parece um coadjuvante de tão apagado. Sim, ele impulsiona a narrativa, mas, depois, deixa tudo à deriva, permanecendo às margens dos acontecimentos até o ataque à cidadezinha de Clermont em que aparece só subindo e descendo do tanque para dar ordens do que fazer. Savalas e Rickles, por seu turno, só sabem gritar em momentos irritantemente histriônicos que parecem ser o que os dois já veteranos atores imaginam que uma comédia deve ser. Sutherland compõe um personagem para lá de estranho, como um hippie anacrônico que fala como um dândi e que faz graça mostrando o quanto é vagabundo. Em outras palavras, a direção de atores é inábil, esquizofrênica mesmo, com um roteiro que não empresta um pingo de profundidade a nenhum deles.

Aliás, o texto de Troy Kennedy-Martin só se preocupa em ser um manual de instruções, detalhando cada passo da estratégia de Kelly para roubar o ouro, sem se preocupar com o quanto isso pesaria na narrativa e exigira sequências e sequências redundantes que só servem para ampliar o tempo de duração. Muitos – inclusive Eastwood – dizem que a ingerência da MGM no corte final, com a retirada do que seriam importantes minutos de aprofundamento de personagens, seria a culpada pelo que chegou às telonas, mas a grande verdade é que o filme é vazio e raso mesmo quando tenta fazer suas críticas sócio-políticas.

Pelo menos as sequências de ação são muito boas. Na verdade, o grande valor do trabalho de Hutton na direção está em como ele coreografa momentos tumultuados, repletos de personagens, de equipamentos militares e de cenários para serem destruídos. A sequência em que os tanques de Oddball atacam um destacamento alemão é muito boa, assim como é a lenta – aqui sim necessariamente lenta! – estratégia de invasão de Clermont, o que envolve sinos tocando, tanques em ruelas e ataques concertados pelo grupo de ladrões, com direito até mesmo a uma simpática homenagem a Sergio Leone e seu incomparável trielo final em Três Homens em Conflito, com Lalo Schifrin emulando a icônica composição de Ennio Morricone.

Os Guerreiros Pilantras poderia ter sido uma grande sátira bélica se o roteiro tivesse conseguido alcançar equilíbrio entre sequências de ação e tentativas de fazer humor, em uma narrativa mais enxuta e direta e se a direção tivesse colocado seus protagonistas no eixo, sem deixar cada um atuar do jeito que bem lhe aprouvesse. Do jeito que ficou, a obra nada mais é do que uma longa oportunidade perdida, ainda que consiga despontar aqui e ali nas cenas de ação.

Os Guerreiros Pilantras (Kelly’s Heroes, EUA – 1970)
Direção: Brian G. Hutton
Roteiro: Troy Kennedy-Martin
Elenco: Clint Eastwood, Telly Savalas, Don Rickles, Carroll O’Connor, Donald Sutherland, Gavin MacLeod, Hal Buckley, Stuart Margolin, Jeff Morris, Richard Davalos, Perry Lopez, Tom Troupe, Dean Stanton, Dick Balduzzi, Gene Collins, Len Lesser, David Hurst, Fred Pearlman, Michael Clark, George Fargo, Dee Pollock, George Savalas, John Heller, Shepherd Sanders, Karl Otto Alberty
Duração: 144 min.

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