Número de temporadas: 2
Número de episódios: 18 (36 segmentos) na primeira temporada e 11 na segunda temporada
Período de exibição: 09 de setembro de 1967 a 06 de janeiro de 1968 (primeira temporada; 12 de setembro a 21 de novembro de 1981 (segunda temporada)
Há continuação ou reboot?: Não, mas os personagens apareceram em diversas outras animações ao longo das décadas.
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Falar das animações clássicas da Hanna-Barbera é chover no molhado, pelo que usarei a oportunidade, aqui, para focar em Alexander “Alex” Toth, o cartunista de ascendência húngara que talvez seja mais lembrado por sua extensa carreira nos quadrinhos, mas que trabalhou também como designer de personagens em animações, notadamente nos anos 60 e 70. Seu primeiro trabalho nessa sua segunda especialidade foi Anjo do Espaço, para a Dell Comics, e isso o levou a ser contratado pela Hanna-Barbera como parte da equipe de designers de Jonny Quest, criado por Doug Wildey, a primeira animação da empresa voltada para o gênero da aventura, em que ela embarcaria com vontade nos anos seguintes. Toth aproveitou essa onda, mostrou de imediato seu valor e, em 1966, ele teve a liberdade para criar o inesquecível Space Ghost, o primeiro super-herói da Hanna-Barbera e talvez um dos mais importantes personagens da produtora dada a quantidade de vezes que ele seria então reaproveitado nas décadas seguintes.
Mas foi em 1967 que Toth solidificou sua reputação em animações, criando simultaneamente nada menos do que três que seriam lançadas simultaneamente, em 09 de setembro de 1967: Os Herculoides, Homem-Pássaro e Galaxy Trio. Enquanto os dois últimos faziam parte de uma trinca de segmentos seguidos compondo um episódio (um do Galaxy Trio intercalando dois do Homem-Pássaro), Os Herculoides ganhou uma animação própria com dois segmentos por episódio, sem dividir espaço com mais ninguém e, diria, com absoluta razão dada a natureza inusitada desses personagens estranhos em um mundo paradisíaco e, ao que tudo indica, cobiçado por toda a sorte de vilões espaciais, chamado Amzot. E, se você por acaso se lembra do planeta como Quasar, sua memória está correta, pois esse foi o nome do planeta conforme rebatizado no revival da série em 1981, como parte de Space Stars, com a produção de mais 11 episódios.
Mas o que Os Herculoides tinha de tão especial? Bem, isso talvez seja difícil de ser captado pelo público mais novo de hoje em dia, tão acostumado a uma riqueza de produções com uma enorme variedade de personagens bizarros, mas os personagens que integravam essa animação de Toth funcionam como um fenomenal repositório criativo de todas as seis primeiras décadas do século XX no audiovisual e na literatura, com uma abordagem que é ao mesmo tempo futurista e primitiva e uma família de três humanos (ou seriam “amzoteiros” ou, talvez, “quasarianos”?) composta por Zandor (Mike Road), cujo nome provavelmente veio de Sandor, pai de Toth, sua esposa Tara (Virginia Gregg) e seu filho Dorno (Ted Eccles) que não chama os pais de “pai e mãe” e sim pelos nomes (algo que mudaria em 1981), que evocam Tarzan e Conan, com direito a cipós impulsionadores e espada substituída por um estilingue(!!!) que atira pedras explosivas e um escudo mais poderoso do que o do Capitão América. No lado das criaturas não humanoides, que é a nata e toda a razão de ser da animação, essa amálgama de tudo o que inspirou Toth, incluindo o mestre do stop motion Ray Harryhausen, faz-se absolutamente presente. Temos Igoo, o símio de pedra que é muito claramente uma versão de King Kong; Tundro, o híbrido de rinoceronte com tatu bola e triceratops de 10 patas e com uma zarabatana na testa que atira as mesmas pedras explosivas usadas por Zandor; Zok, um dragão com asas de morcego que lança raios laser dos olhos e da cauda e os simpáticos Gloop e Gleep, criaturas amorfas e protoplásmicas que não só absorvem e redirecionam raios de energia, como, também, são capazes de se transformar em muita coisa útil, notadamente “camas elásticas” para absorver o impacto das (várias) quedas dos demais e paraquedas para basicamente o mesmo objetivo.
O conjunto desses oito personagens é, em poucas palavras, inesquecível e fascinante daquele jeito bizarro e até inocente da época. Toda a cultura pop que o público da época consumia – em livros, quadrinhos, filmes e séries – foi encapsulado pela criatividade sem limites de Toth, com a estrutura da série seguindo o padrão Hanna-Barbera, ou seja, episódios autocontidos, contando uma história com começo, meio e fim, que, aqui, normalmente envolvia uma ameaça exógena que chegava ao planeta de Zandor (mas, comicamente, nunca longe de onde Zandor mora, mais ou menos como os ataques alienígenas em filmes de Hollywood só acontecem em Nova York) para apanhar como boi ladrão do líder dos Herculoides, ainda que o próprio Zandor não tenha lá grande utilidade (com Tara e Dorno só servindo para serem capturados), pois o destaque vai todo mesmo – merecidamente – para as cinco criaturas estranhas, mas simpáticas que protegem a família humana e o planeta. Aliás, ainda sobre as criaturas, vê-se também um exemplo icônico de versatilidade de um ator de voz. Mike Road, que faz a voz imponente de Zandor, também faz os berros guturais de Igoo e Tundro e o grito assustador de Zok, com o titã Don Messick fazendo as sensacionais vocalizações de Gloop e Gleep, todos eles sons que qualquer criança (eu, eu, eu!!!) da época tentava imitar para desespero dos pais.
Sei que não falei dos episódios em si, mas é que a estrutura simples de invasores externos que são varridos do planeta por Zandor e companhia se repete. No primeiro, Os Piratas, piratas espaciais decidem enterram um baú com a pilhagem mais recente deles logo ali em Amzot, algo que Zandor reprova com todas as forças, forças essa que sequer permitem que os piratas vão embora, com eles sendo efetivamente mortos (ainda que, claro, isso não seja exatamente mostrado). No segundo, Sarko (mas que, em inglês, é inexplicavelmente pronunciado como Arko) volta ao planeta depois de ser expulso por Zandor (olha a burrice do alienígena…) para capturar Igoo e Tundro (burrice dupla) e, de quebra, o jovem Dorno (burrice tripla), levando-os ao seu próprio planeta (ou asteroide, sei lá). E, curiosamente, mesmo sem nave espacial ou algum traje espacial, Zandor e Gloop voam pelo espaço (sim, voam, inclusive com as asas batendo) nas costas de Zok para moer Sarko de porrada e recuperar os sequestrados, algo que acontece com enorme facilidade e as tomadas de arquivo invertidas em relação à primeira animação, outro padrão Hanna-Barbera de economia de esforços. Em outras palavras, é diversão garantida vinda da maravilhosa mente de Alex Toth, que, arrisco dizer, é capaz de funcionar hoje tão bem para crianças pequenas (e não tão pequenas também) quanto funcionou nas décadas de 60, 70 e 80.
Os Herculoides – 1X01: Os Piratas / A Vingança de Sarko (EUA, 09 de setembro de 1967)
Criação: Alex Toth
Direção: William Hanna, Joseph Barbera
Roteiro: Ken Spears, Joe Ruby, David Scott
Elenco (vozes originais): Mike Road, Virginia Gregg, Ted Eccles, Don Messick
Duração: 20 min. (10 por segmento)