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Crítica | Os Homens Preferem as Loiras

por Laisa Lima
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O universo masculino, por uma ótica generalizada e estereotipada, é muito simples de se decifrar: futebol, bebidas, carros, mulheres e afins. Segundo Howard Hawks, entretanto, no quesito “sexo feminino”, a preferência se direciona a um seleto grupo: as loiras. Loiras como Grace Kelly, Brigitte Bardot e, mais especificamente aqui, Marilyn Monroe. A atriz, que figurou um quadro de Andy Warhol e hoje estampa painéis vintage de cinéfilos ou apenas amantes da cultura pop, teve seu apogeu em Os Homens Preferem as Loiras (1953). Enfim, um dos maiores exemplos da Era de Ouro de Hollywood e sua ascensão de estrelas e histórias felizes, mas com um fundo de verdade. 

Como Lorelei Lee, Monroe empresta mais uma vez sua beleza e seu carisma a uma personagem que, também novamente, reflete um imaginário popular. A moça, acompanhada de sua amiga Dorothy (Jane Russell), embarca em um cruzeiro rumo à Europa onde um detetive, a mando do pai de seu noivo, a segue a fim de pôr à prova suas intenções para com o futuro marido. O tal imaginário popular, então, é refletido na aparência aliada à personalidade da protagonista, que traduzem o que pode vir a ser uma “loira burra”. Outros padrões sociais antiquados são utilizados durante o longa-metragem, mas nada anula sua alta capacidade de entretenimento.

Para quem pensa como o século 21, a ideia de uma mulher “caça-dotes”, ou seja, que busca apenas a fortuna do parceiro, é demasiadamente ultrapassada. Em Os Homens Preferem as Loiras, a existência desse rótulo não só é reafirmada como é admitida e acolhida por Lorelei, que demonstra poucas facetas além de sua visão gananciosa. Sua ambição, apesar de tudo, se torna mais inocente do que puramente material, já que o intuito de prejudicar o homem em quem se dará o futuramente chamado de golpe, não compete com a vontade maior da jovem de ter diversas joias como adereços. A quase certa simpatia do público com a personagem se dá por conta justamente da forma com que a mesma arranca toda falta de ética presente neste ato e faz dele algo leve, mesmo que isso esteja atrelado a um pré-conceito. 

Em contraposição, Dorothy condiz mais com o discurso propagado atualmente sobre os anseios de gênero. Despreocupada com bens financeiros, a personagem de Russell se permite ser livre e ter opções amorosas por onde passa, sendo bem mais sagaz e menos otimista que Lorelei. A frequente indagação de Dorothy em volta dos objetivos de Lorelei simboliza os questionamentos de uma parte da audiência, mas, ainda assim, pode-se perceber um elo entre as duas: a aceitação de suas essências, sem julgamentos. Quem mais repreende, aliás, são os homens, seja Gus (Tommy Noonan), noivo de Lorelei, ou o investigador Ernie (Elliott Reid), que invalidam até mesmo o caráter das jovens, que são dançarinas de cabaré, ao colocarem as ações delas em posição de dúvida e análise. Vem do sexo masculino uma malícia mais latente e é proveniente disso todo o despertar das adversidades vividas pelas duas. 

De um extremo ao outro, o mesmo indivíduo que fez o western Rio Vermelho (1948), Howard Hawks, se dirige até um outro polo: a comédia musical. Em Os Homens Preferem as Loiras, as atitudes dos personagens pouco influenciam em quem eles são e pouco são olhadas, por intermédio da câmera de Hawks, com refutamento pelos espectadores. Pelo contrário, o roteiro prioriza a construção de uma importância e busca pelo amor, principalmente da parte da que mais se permite, Dorothy; e a comédia inserida nos elementos que vão sendo adicionados ao decorrer do longa-metragem. As protagonistas e seu relacionamento entre si está em um nível de entrosamento que faz a conexão entre elas transbordar pela tela e seus ideais contrários se tornarem complementares, não sendo possível imaginar uma sem a outra. As canções são igualmente integradas, auxiliando no andar do enredo e na compreensão dele. Diamonds Are a Girl’s Best Friends, cantada por Marilyn, como já era de se esperar, é um dos picos da obra.

Os Homens Preferem as Loiras se une a filmes como Sinfonia em Paris (Vincente Minnelli, 1951) e outros que fizeram a diferença tanto nos anos 50 quanto para as comédias musicais. A obra de Howard Hawks pode não possuir uma lacuna para a opinião própria do público já que tudo é expositivo, mas a diversão é garantida se for penetrado um universo no qual enganar tem sua malandragem e seu deleite. A maneira com que se lida com temáticas fora até dos pareceres atuais, como a colocação da mulher frente a escolha de com quem irá se casar, não parece um problema visto a imersão apenas no que o longa-metragem mostra no momento, sem necessidade de conhecimento prévio dos constituintes e suas motivações. Com um entretenimento fácil de se digerir e melodias atrativas e agradáveis, Marilyn Monroe pode ser considerada um artifício cênico tão mítico quanto a própria obra de 1953. 

Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes – EUA, 1953)
Direção: Howard Hawks
Roteiro: Charles Lederer
Elenco: Marilyn Monroe, Jane Russell, Charles Coburn, Tommy Noonan, George Winslow, Marcel Dalio, Taylor Holmes, Norma Varden, Howard Wendell, Steven Geray
Duração: 91 min.

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