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Crítica | Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (2009)

por Luiz Santiago
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O jornalista sueco Karl Stig Erland Larsson foi um dos nomes mais destacados do ativismo político antifascista no jornalismo sueco. Fundador da pequena mas muito importante revista Expo, Larsson empenhava-se em denunciar as atividades racistas, fascistas e dos antidemocráticas suecas e europeias, acumulando uma grande rede de inimigos em todo o continente. Sua luta pelos direitos humanos foi igualmente odiada por corporações exploradoras, grandes empresários e políticos corruptos.

Paralela à sua atividade jornalística, Larsson dedicou tempo a uma obra literária policial e politizada sobre a corrupção no meio das grande corporações, a violência contra as mulheres e a ética jornalística. Larsson escreveu a estrutura sinóptica para 10 livros, mas pode concluir apenas três, pois veio a falecer de um ataque cardíaco em novembro de 2004. Um ano depois, o primeiro volume da Trilogia Millennium, Os Homens que não Amavam as Mulheres, foi publicado na Suécia e alcançou o topo de vendas no país. E então vieram A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar.

Stieg Larsson não era um Quixote sueco lutando contra moinhos de vento do passado. Suas denúncias à extrema direita no país eram uma verdade incômoda e, com o passar dos anos, se viu como uma tendência preocupante na Europa. A denúncia feita pelo autor em sua trilogia — especialmente no primeiro volume — indica as raízes do fascismo sueco na pessoa de alguns integrantes da família Vanger. Cinco anos após a publicação do livro, nas eleições de setembro de 2010, o Parlamento sueco engolia a vitória da extrema direita sobre os centristas. Como se vê, os livros possuem muito mais elementos sociopolíticos do que se admite. Não se trata apenas de uma obra policial bem escrita. Trata-se de um reflexo artístico da Suécia e da Europa contemporâneas.

Os Homens que não Amavam as Mulheres conta a história de Mikael Blomkvist, jornalista, editor, e co-presidente da Revista Millennium, que denuncia um grande empresário sueco por fraude e outros crimes, mas vê todas as suas provas falsificadas, o que lhe rende três meses de prisão e uma multa. Em seu afastamento estratégico da redação, Blomkvist é contratado por Henrik Vanger, um velho empresário de sucesso. Sua missão é descobrir quem foi o assassino de Harriet Vanger, desaparecida desde 1966 e que nunca teve o caso devidamente explicado e solucionado. No meio das investigações aparece a punk e hacker Lisbeth Salander, garota problemática, esquiva e silenciosa, porém, uma investigadora brilhante. Esses ingredientes mixados formam uma rede de conexões que contém corrupção, assassinatos, fraudes financeiras e jornalismo desinformante.

Uma das questões postas no livro é a violência contra a mulher, mas podemos considerar aí dois lados da moeda: tanto a questão feminina, quanto do próprio indivíduo como ser social, sujeito a todo tipo de agressão feita pelos grandes detentores do poder político e econômico. Além disso, questões morais e éticas, suborno, e tráfico de influência estão postos como plano de fundo. O foco do primeiro livro são as corporações e as instituições (inclusive a religiosa e a familiar), embora com essa avalanche de coisas, apareçam também tramas e temas paralelos de importância tão grande quanto.

Dirigido pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, Os Homens que não Amavam as Mulheres é uma adaptação muitíssimo fiel ao livro. O diretor procurou trazer o máximo de elementos das páginas para a grande tela, estabelecendo uma linha narrativa um tanto caótica, pela quantidade de informações a ser trabalhada, mas ainda assim, muito interessantes. A preocupação neurótica do diretor em agradar aos leitores foi responsável pela perda de qualidade do filme, que apesar de tudo, é consegue um ótimo saldo final.

Embora seja um filme de teor puramente europeu, essa primeira adaptação da trilogia veste a carapuça da narrativa hollywoodiana e isso percebemos nas incursões de cenas de ação quase sem valor dramático, apenas para constar no filme, como consta no livro. E nessa linha, podemos apontar a montagem como uma responsável de peso. Se olharmos com rigor, sequências inteiras poderiam facilmente ser repensadas, para não destoarem ou terem apenas uma importância superficial no todo.

As atuações de Michael Nyqvist (Blomkvist) e Noomi Rapace (Salander) são ótimas. Aponta-se uma grande diferença de construção de personagem entre a Salander do livro (de fato, muito mais dura do que a interpretada por Rapace) e aquela exposta nos três filmes. Particularmente, não me incomodei com a diminuição da frieza e dureza dessa personagem. Gosto do trabalho de Rapace, e, embora tenha imaginado uma Salander muito menos “feminina” e bem mais ignorante, não vejo o trabalho da atriz como um assassínio à memória de Stieg Larsson, como alguns críticos chegaram apontar.

A antipatia de alguns espectadores para com esse filme é injusta, porque não se trata de um filme ruim. Mesmo tendo centrado a narrativa na investigação sobre a morte de Harriet, essa versão sueca conseguiu trazer muitos elementos que dão força e graça ao livro, e ao mesmo tempo, se caracterizar como uma obra interessante e nada descartável. Não é uma obra-prima, decerto, mas nem de longe é uma obra ruim.

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (Män Som Hatar Kvinnor, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Noruega, 2009)
Direção: Niels Arden Oplev
Roteiro: Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg (baseado no livro homônimo de Stieg Larsson)
Elenco: Michael Nyqvist, Noomi Rapace, Lena Endre, Sven-Bertil Taube, Peter Haber, Peter Andersson, Marika Lagercrantz, Ingvar Hirdwall, Björn Granath, Ewa Fröling
Duração: 140min.

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