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Crítica | Os Indomáveis

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

Os Indomáveis é uma nova adaptação de conto do ótimo autor americano Elmore Leonard, falecido em 2013, e que criou a série de TV Justified, que atualiza os conceitos do faroeste.  A primeira versão cinematográfica, com o mesmo título em inglês – 3:10 to Yuma – e que, no Brasil, ganhou o outro “ótimo” título Galante e Sanguinário e ambas as propostas são muito simples: um fazendeiro precisa levar um criminoso do ponto A para o ponto B, passando por diversos obstáculos, especialmente, claro, a gangue desse mesmo criminoso.

O conto é muito objetivo e apenas esse conceito é mantido nos filmes. Os desenvolvimentos são bem diferentes entre si, ainda que os nomes dos personagens utilizados em Galante e Sanguinário, ainda considero o clássico entre os dois, sejam repetidos em Os Indomáveis, de maneira a se criar um mínimo de familiaridade. Mesmo com essa característica, rotular o segundo filme como uma refilmagem do original de 50 anos antes, é reduzir o segundo filme à uma sombra do primeiro e isso é, no mínimo, uma injustiça. Afinal, Galante e Sanguinário, muito em razão do Código de Produção em vigor à época, é um filme asséptico, simplista demais que, não fosse a presença de Glenn Ford como o criminoso Ben Wade (ou seja, em papel inverso ao bom-mocismo clássico que marcou a carreira do ator) e a fotografia em preto-e-branco marcante de Charles Lawton Jr., não seria particularmente tão bem lembrado assim. Basta ler minha crítica anterior para entender minhas razões para essa afirmação.

Assim, Os Indomáveis, apesar de indubitavelmente beber na fonte de Galante e Sanguinário em termos de estrutura de roteiro, é um filme que fica em pé sozinho, em seus próprios termos. E a principal razão para isso é a química da dupla principal, em constante choque. O pobre fazendeiro Dan Evans é vivido por Christian Bale e o criminoso Ben Wade é encarnado por Russell Crowe. Os dois, contracenando, já é razão suficiente para elevar a fita do lugar-comum, pois a natureza fechada de Evans – sempre com roupas mais claras – contrasta com o jeito bon vivant de Wade – sempre com roupas escuras – em um embate de personalidades que perdura até o derradeiro momento do filme. Evans, precisando de dinheiro, aceita fazer parte de um grupo que precisa levar Wade, que acabara de roubar uma “carruagem-forte” da cidade de Bisbee até Contention, onde o criminoso deverá embarcar no trem das 3:10 para Yuma para ser aprisionado e julgado.

E o que no filme original é algo básico e mesmo assim arrastado, ganha contornos mais complexos em Os Indomáveis, ainda que não livre de problemas. O roteiro, feito por uma trinca de escritores, funciona como uma corrida de obstáculos que, a cada momento, elimina alguém do grupo do qual Evans faz parte. Ao mesmo tempo, porém, o fazendeiro ganha estofo narrativo, permitindo que a audiência se compadeça com suas necessidades o que, de certa forma, facilita a aceitação da transição da personalidade de Ben Wade de um criminoso sanguinário (e galante também!) a um homem que vê em Evans o semblante do que poderia ter sido. E Evans não só ganha uma história pregressa como fisicamente é retratado como desfavorecido, pois perdera a perna durante a Guerra de Secessão lutando para o Norte. Com isso, podemos nos identificar com o personagem e entender mais profundamente a indignação de seu filho William (Logan Lerman, que contracenaria novamente com Crowe em Noé) com o que parece ser a covardia de Evans ao início e sua necessidade de se provar diante da família, insistindo em levar a cabo o plano de levar Wade até o trem, apesar das poucas chances reais de isso realmente acontecer.

Mas é a “corrida de obstáculos” que acaba tornando a progressão narrativa um tanto quanto claudicante. Sim, ganhamos a oportunidade de aprendermos mais sobre Evans e Wade (e também sobre os demais do grupo, especialmente o caçador de recompensas Byron McElroy, vivido por Peter Fonda) e sim, com isso conseguimos entender as motivações da hesitante dupla no clímax da fita. Acontece que essa natureza episódica que intercala ação com exposição acaba se tornando repetitiva demais, alongando a projeção para pouco mais de duas horas, o que definitivamente cansa o espectador. Ainda que a interação Evans-Wade seja engajante e a entrada de Williams no terço final funcione, quando o ponto alto chega – os 300 metros do hotel até a estação de trem em Contention – já desejamos que o filme acabe logo. E isso sem falar que a personalidade de Wade sofre uma reversão brusca demais, exigindo um pouco mais da suspensão da descrença do que deveria.

James Mangold é um bom diretor e consegue trabalhar os atores de maneira crível até certo ponto e, com a fotografia eficiente – mas não particularmente memorável – de Phedon Papamichael, além da montagem cadenciada e nada confusa de Michael McCusker (ambos repetindo a parceria com  Mangold de Johnny & June) resulta em um faroeste “de aventura” que diverte apesar dos problemas, especialmente em razão da química cheia de farpas entre o Batman e o Gladiador. Uma ótima pedida para um momento descompromissado.

Os Indomáveis (3:10 to Yuma, EUA – 2007)
Direção: James Mangold
Roteiro: Halsted Welles, Michael Brandt, Derek Haas (baseado em conto de Elmore Leonard)
Elenco: Russell Crowe, Christian Bale, Logan Lerman, Dallas Roberts, Ben Foster, Peter Fonda, Vinessa Shaw, Alan Tudyk, Luce Rains, Gretchen Mol, Lennie Loftin
Duração: 122 min.

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