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Crítica | Os Mestres do Tempo

por Luiz Santiago
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A produção de Os Mestres do Tempo (1982) elencou cinco países e fez com que os principais artistas envolvidos no projeto, o diretor René Laloux e o artista Moebius viajassem até à Hungria para acompanhar parte do processo de animação que se deu nos estúdios daquele país. Depois que o filme foi lançado, uma certa discussão entre o público húngaro e o público francês perdurou por meses, um “culpando” a participação dos artistas do outro pela parcial má recepção da obra. E pelos erros que a crítica (especialmente a europeia) apontava.

Baseado na obra L’Orphelin de Perdide (1958), de Stefan Wul, o roteiro conta a história de Claude, que está com o seu filho Piel no planeta Perdide. A trama avança rapidamente por um elemento trágico, belo e de desconsolo que irá marcar a história por completo daí para frente. Orientando o filho para que corresse até uma determinada área, com um microfone intergaláctico nas mãos, Claude entra em contato com o amigo Jaffar e pede socorro. O que teremos no restante da película é a partida de Jaffar para resgatar Piel em Perdide. E como sempre acontece nessas sagas, impasses de diversos tipos, pessoas mal intencionadas, interrupções governamentais e problemas na tripulação acabam entrando no jogo.

Diferente do que fazem acreditar as críticas muito negativas à fita, o problema aqui não é exclusivo de nenhuma das partes. Dependendo do momento do filme, ele se concentra mais em um lado do que em outro. Se existe uma “culpa” central, ela é compartilhada. O processo de animação, por exemplo, traz momentos bem fracos em cenas cenas de fuga e em planos longos ou panorâmicas dentro da nave (Moebius poderia consertar algumas cenas com outros desenhos, mas isso implicaria em uma série de outros ajustes, então é um dilema essencialmente técnico, nesse caso) e a montagem da animação parece ter tido dó de cortar as sobras em um bom número de sequências, tendo momentos estáticos e desnecessários em tela até que outra cena começasse.

Com isso, entra o problema dos personagens, que sofrem pelo roteiro e pela animação que falha em mostrá-los em trânsito constante, especialmente dentro de espaços menores. Ao olhar todos esses pontos, chama a atenção o fato de que o resultado final de Os Mestres do Tempo ainda é encantador. A obra usa nostalgia, empatia e boa mistura de misticismo com viagem no tempo (embora esta parte seja mal explorada no final) para nos contar a jornada de Piel e do resgate que demorou demais para chegar. São tocantes os esforços de Jaffar para buscar o filho do amigo “à deriva” em um planeta com criaturas hostis, enquanto o único elemento de comunicação, a partir de determinado momento, é inutilizado.

As criaturas telepáticas Jad e Yula acrescentam ainda mais graça à obra, compondo os excelentes desenhos de Moebius para espécies alienígenas. Os cenários, como de praxe na obra do artista, enchem os olhos pelo seu exotismo, pelo ingrediente certo de identificação com algum ambiente terráqueo e pela forma como recebe interferências ao longo da narrativa.

Os Mestres do Tempo tem um pouco de tudo o que podemos esperar de uma animação de ficção científica, mas não só os elementos batidos. Claro que encontramos canções; encontramos um momento de suspense e outros momentos fofos na obra; mas também há violência e dilemas profundos que não são típicos de filmes do gênero — pelo menos não os de grande distribuição. Os tropeços aqui, apesar de não serem poucos, não se estendem por muito tempo e aparecem em um enredo com coisas muito melhores, o que faz desta animação uma graciosa e problemática obra sobre como as coisas podem dar certo… Mesmo que não seja da forma que todo mundo imaginou.

Os Mestres do Tempo (Les maîtres du temps) — França, Suíça, Alemanha Ocidental, Reino Unido e Hungria, 1982
Direção: René Laloux
Roteiro: René Laloux, Jean Giraud (Moebius), Jean-Patrick Manchette
Elenco (vozes): Jean Valmont, Michel Elias, Frédéric Legros, Yves-Marie Maurin, Monique Thierry, Sady Rebbot, Patrick Baujin, Pierre Tourneur, Alain Cuny, Yves Brainville, Michel Barbey, Jim Bauman, Michel Paulin
Duração: 78 min.

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