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Crítica | Os Nibelungos – A Vingança de Kriemhilde

por Ritter Fan
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A Vingança de Kriemhilde é a muitas vezes esquecida continuação direta de A Morte de Siegfried, grandioso projeto de Fritz Lang e Thea von Harbou para levar às telonas uma adaptação do poema épico germânico Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos). Aliás, trata-se mais do que apenas uma continuação, já que ambas as partes foram filmadas juntas e lançadas em intervalos curtos nos cinemas. O que ocorre é que a primeira acabou sendo “adotada” pelo Nacional Socialismo de Adolf Hitler como uma forma de símbolo para seus “ideais” e, a segunda, como basicamente subverte completamente a primeira, fazendo com que os “arianos” sejam massacrados pelos “bárbaros” comandados por Átila,  o Huno, foi relegado a um esquecimento forçado.

Independente, porém, do que o Nazismo pretendia, os dois filmes merecem ser igualmente conferidos, ainda que o segundo realmente não alcance o nível de interesse e qualidade do primeiro. Na verdade, o problema está em diversos pontos e talvez o mais saliente deles seja a simplicidade do roteiro. Diferente de A Morte de Siegfried, que contava uma história de fantasia repleta de atos heroicos do personagem titular que eventualmente o leva a ser traído e assassinado, A Vingança de Kriemhilde é direto e objetivo, lidando única e exclusivamente com a vingança do título pela viúva de Siegfried.

Como, para alcançar esse objetivo, Kriemhilde (Margarete Schön) hesitantemente aceita casar-se com Átila (Rudolf Klein-Rogge) que propõe casamento a ela por intermédio de seu enviado Rüdiger von Bechelaren (Rudolf Rittner). Seu raciocínio é que o rei dos Hunos a ajudará na vingança contra Hagen of Tronje (Hans Adalbert Schlettow), mas, em termos de narrativa, toda a ação passa a ser deslocada para o reino de Átila que, muito diferente da Burgúndia, não é composto de majestosos palácios e sim grandes e simplificados acampamentos, o que retira do filme uma das grandes características do primeiro, em que as estruturas naturais e artificiais se agigantam por sobre os personagens.

Se é interessante ver uma versão inusitada de Átila, realmente apaixonado por Kriemhilde e, depois, devotado ao seu filho pequeno, por outro lado o roteiro estende demais a história com progressões lentas e cansativas que pouco efetivamente desenvolvem os arcos narrativos. Kriemhilde mantém-se a mesma mulher vingativa, capaz de qualquer coisa para honrar a memória do ex-marido, do começo ao fim, assim como Átila revela-se o bárbaro de bom coração, de aparência repugnante, mas de coração de ouro. Em outras palavras, os arcos de personagens são muito mais pobres do que os da primeira parte, o que apenas contribui para a impressão de que o longa muitas vezes anda de lado, dando voltas e mais voltas para chegar a um longo momento climático que, apesar de dramático e forte, consome muito mais tempo do que deveria.

No entanto, a mágica de Fritz Lang definitivamente se faz presente, mas, aqui, de forma diferente. Lang aborda os Hunos como uma turba raivosa de bárbaros e, para passar essa impressão, faz uso generoso de extas como o exército de Átila que é manobrado por Kriemhilde em sua sede de vingança. O cineasta mostra, aqui, o mesmo tipo de cuidado ao lidar com numerosos personagens em cena que D.W. Griffith em Intolerância, em um constante balé cinematográfico que é de cair o queixo em termos de coreografia, figurinos e distribuição cênica. Margarete Schön, encarnando uma Kriemhilde cada vez mais obsessiva, o verdadeiro oposto da versão iluminada da personagem que vimos na primeira parte, empresta a solenidade e o contraste que as sequências precisam, especialmente quando contracena em oposição a Rudolf Klein-Rogge, também excelente como Átila.

Mesmo tendo muito para observar e elogiar, o trabalho de Lang na direção não consegue compensar o roteiro que estica a narrativa por muito mais tempo que necessário, transformando o que poderia ter sido essencialmente um epílogo de A Morte de Siegfried em um longa que parece enamorado demais com si mesmo para acabar quando poderia. Claro que ainda é um feito técnico notável e uma história que efetivamente leva a um movimento circular para todo o arco épico de Siegfried, mas A Vingança de Kriemhilde parece ser filme de mais para história de menos.

Os Nibelungos – A Vingança de Kriemhilde (Die Nibelungen: Kriemhilds Rache – Alemanha [República de Weimar], 1924)
Direção: Fritz Lang
Roteiro: Fritz Lang, Thea von Harbou
Elenco: Margarete Schön, Rudolf Klein-Rogge, Hans Adalbert Schlettow, Theodor Loos, Gertrud Arnold, Yuri Yurovsky, Georg John, Hubert Heinrich, Rudolf Rittner, Annie Röttgen
Duração: 130 min.

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