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Crítica | Os Novos Mistérios de Scooby-Doo – A Série Completa

por Iann Jeliel
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Os Novos Mistérios de Scooby-Doo

  • Leia, aqui, as críticas de todo nosso material de Scooby-Doo.

Esse é o epicentro da bagunça cronológica de Scooby-Doo, excepcionalmente por ter ganhado quatro nomenclaturas ao longo dos anos. A princípio, trata-se de uma continuidade de Scooby-Doo e Scooby-Loo, mais especificamente das três temporadas preenchidas por curtas com a presença apenas de Salsicha e os Scoobys, só que dessa vez, além deles, Daphne seria inclusa no protagonismo, e a fórmula de resolução de mistérios voltaria ao formato clássico definido e regular ao longo de dois curtas (ao invés de três). Com essas mudanças tão significativas, essas duas novas temporadas passaram a ser consideradas como uma série nova – ganhando até uma abertura própria, que ironicamente só foi usada a partir da segunda temporada para confundir mais a cabeça – de nome original The New Scooby doo and Scrappy Doo Show, traduzido de duas formas Os Novos Filmes de Scooby-Doo e Scooby-Loo e /ou O Novo Show de Scooby-Doo e Scooby-Loo. Na prática, esses nomes podiam facilmente confundir, visto que já existiam Os Novos Filmes de Scooby-Doo e O Show do Scooby-Doo, então no lançamento oficial da série em mídia, foi adotado o nome que virou o “mais oficial”: Os Novos Mistérios de Scooby-Doo – The New Scooby-Doo Mysteries.

Independentemente da nomenclatura, todas elas se referem ao conjunto de 52 curtas, divididos em 26 episódios – cada um preenchido por dois curtas – em torno de duas temporadas de 13 episódios, onde Salsicha, Scooby-Doo, Scooby-Loo e Daphne dividiam a tela primordialmente resolvendo mistérios. Uma última observação relevante para situar o que estamos falando é que nessa série existem episódios com a turma inteira, ou seja, Fred e/ou Velma participando da resolução, mas todos esses episódios são divididos em curtas com duas partes, para que não haja confusão em relacionar essa série com a primeira temporada de Scooby-Doo e Scooby-Loo que tinha todos os integrantes em episódios tradicionais de 22 minutos. Enfim, diante de toda essa explicação resumida (haverá uma mais completa em um futuro Entenda Melhor sobre a cronologia das séries de Scooby-Doo), vamos aos argumentos em defesa da série. Basicamente, representa o auge da crescente “infantil” a que Scooby-Doo vinha aderindo, visualmente falando.

Apesar do retorno da fórmula tradicional de resolução de mistérios, eles eram pensados de forma muito mais objetiva – até por se tratar de curtas – e descompromissada, como se o intuito deles fosse fornecer uma forma mais dinâmica de proporcionar as gags de humor envolvendo os personagens. Acabou que funcionou, principalmente porque serviu de parâmetro de organização dos milhões de elementos adicionados aleatoriamente pela série anterior, que simplesmente ignorava a essência primordial do desenho. Aqui essa essência, por mais que aproveitada como um auxílio de coerência às novas ideias, no fim era ainda a base de tudo e potencializava essas ideias novas de modo a serem no mínimo divertidas. Acabou que, de uma forma ou de outra, várias das ideias inseridas aqui serviram como ótimas bases para futuras séries, embora em seu andamento aqui ainda tivessem um caráter experimental, onde a série mais testava inocentemente para ver se dava certo, e a organização era só até a esquina. De qualquer forma, foram riscos bastante simbólicos, a começar pelo senso de continuidade do universo e criação de universos maiores. Na primeira, através de Daphne, são estabelecidas conexões consequenciais dos verões anteriores como definidoras da carreira da turma, no caso dela, seguindo a carreira de repórter, o que a priori serve para a nova turma estar realmente procurando novos mistérios para resolver, ao invés de depender da coincidência sempre azarenta do destino em que todo lugar aonde eles vão, um novo mistério os encontra.

Nisso, aquela ideia totalmente avulsa de Salsicha e os Scoobys formarem uma agência de detetives anterior ganha mais sentido quando Daphne toma a dianteira do projeto – implicitamente isso estabelece outros fatos interessantes, como o da Máquina de Mistério originalmente ser dela – pois se todas aquelas aventuras anteriores aconteceram numa mesma linha do tempo, Salsicha e Scooby seriam desocupados que se uniriam ao projeto de profissão de Daphne pela amizade. Inclusive, essa é possivelmente a melhor fase da personagem, que era a mais sem personalidade da turma original antes disso, enquanto Fred era o líder e motorista, e Velma a nerd inteligente, Daphne parecia ser só uma “donzela indefesa”, embora nunca se comportasse exatamente como uma. Aqui, traços da sua personalidade altruísta e perspicaz eram inseridos, numa mistureba em que ela pegava o espírito de liderança de Fred e inteligência da Velma para proporcionar a condução dos episódios com a proximidade clássica.

Por mais simples que eles fossem, e por mais borrachudos que fossem os monstros, a articulação de cada capítulo era divertida por Daphne oferecer o balanço equilibrado entre a comédia e a relevância da historinha ali narrada. Sem contar que nesse aspecto de continuidade, não deixava nenhum curta ser absolutamente descartável, pois aparentemente eles pareciam constituir uma globalização geral do universo. Vilões surgidos que tinham conhecimento da turma, personagens secundários de aparições recorrentes, o sobrenatural pensado continuamente com as mirabolâncias anteriores, dentre outros aspectos que seriam aglomerados de forma mais planejada em outros momentos. E o mais importante ponto positivo, Scooby-Loo não mais dividia o protagonismo e teve sua personalidade cadenciada, o que não o torna tão chato quanto era anteriormente, e essa cadência surge muito das suas interações com Daphne, ou seja, Daphne basicamente salvou Scooby-Doo qualitivamente.

Por ter sido cancelada, várias das ideias não ganharam continuidade, pelo menos não naquele universo, mas seriam usadas, como dito, em outras séries, especialmente a seguinte e polêmica Os 13 Fantasmas de Scooby-Doo. É inegável que as ideias de Os Novos Mistérios de Scooby-Doo são melhores do que exatamente sua execução, o aspecto excessivamente infantil torna esse conglomerado um dos mais datados do desenho, mas é um daqueles casos onde as intenções e oportunidades falam mais alto e mostram que é possível modificar o tom sem perder a essência, ou melhor, transformar a essência em outro tom – como O Pequeno Scooby-Doo fez excepcionalmente tempos depois. Além de usar a continuidade como um potencializador dos personagens e da fórmula – como Scooby-Doo Mistério S.A fez excepcionalmente depois. Sendo assim, limitações e bagunças cronológicas à parte, Scooby-Doo estava vivo, e mesmo com Scooby-Loo ao lado, podia ainda ser autenticamente divertido.

Os Novos Mistérios de Scooby-Doo (The New Scooby-Doo Mysteries | EUA, 1983-1984)
Showrunner: Tom Ruegger (Baseado na criação de Joe Ruby e Ken Speaks)
Principais Diretores: Ray Patterson, Oscar Dufau, Rudy Zamora, George Gordon, Carl Urbano, John Walker
Principais Roteiristas: Tom Ruegger, John Semper, Glenn Leopold, Paul Dini
Elenco (Dublagem Original): Don Messick, Casey Kasem, Heather Norte, Frank Welker, Marla Frumkin, John Stephenson, Ruth Buzzi, Hamilton Camp, Tress MacNeille, Tony Pope
Elenco (Dublagem Brasileira): Orlando Drummond, Cleonir dos Santos, Mário Monjardim, Nair Amorim, Juraciara Diácovo, Ricardo Mariano (Estudio: Hebert Richards)
Duração: 2 temporadas – 26 episódios (13 por temporada) – 52 curtas (26 curtas por temporada) de 11 minutos

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